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  Quando você é jovem, costuma achar que tem o mundo em suas mãos, e que pode controlar tudo, mas não é bem assim, e a fase adulta chega como dois chutes em você, pra te mostrar que as coisas caminham em uma ordem natural, independente do quão poderoso a pessoa possa ser, pode apenas postergar o inevitável, e era isso que Naruto tentava fazer.

  Nos últimos dois meses, ele tentou desesperadamente quebrar qualquer tipo de contato que ele tinha com o hóquei, mesmo Sasuke falando que ele não devia fazer isso, e como ele queria escutar as palavras do moreno, mas simplesmente não conseguia. Sua raiva por não poder jogar mais era vista a quilômetros de distância, não suportava ouvir o nome do esporte, mas ainda sim recebia mensagens e ligações, até pensou em mudar de chip, mas iria precisar dar uma boa explicação aos seus amigos e seus pais, e honestamente, ele não queria ter que ouvir mais reclamações.

  Recebia várias mensagens de Neji, informando como estava sua vida, e que saía com uma amiga do Sasuke, a garota Tenten, e que segundo seu amigo, era a mulher mais incrível que já tinha pisado na terra, e Naruto acreditou, Neji não era muito sociável, muito menos fácil de gostar. Também recebia as de Karin, com atualizações de uma lista de pessoas que ele nem lembrava quem era, e claro, sobre Suigetsu. Naruto riu com aquilo, seus amigos e os de Sasuke estavam tão ligados quanto eles próprios.

  Ah, Sasuke.. Ele era o motivo pelo qual Naruto não tinha caído ainda, que acordava todos os dias de manhã e se dava a oportunidade de tentar novamente, com seus animais, comidas gostosas, um cheiro que lembrava casa e histórias bonitas. Em algum momento, Naruto não lembrava bem, contou a Sasuke que aprendeu italiano para ler um livro que ganhou, o moreno ficou feliz com aquilo e disse que também sabia o idioma, e desde então eles se sentam na sala, de forma extremamente confortável, e pegam um livro em italiano para ler para o outro, e assim segue todos os dias, e Naruto amava como a voz de Sasuke soava doce e até engraçada, com um sotaque lindo e fofo, fazia até biquinho enquanto falava.

  O loiro gostava disso, a sensação de conforto que tinha naquela casa, sabia que lá ele não era julgado, apenas orientado de forma suave, não tinha olhar de pena, apenas entendimento e ajuda, nunca foi capaz de ver em Sasuke qualquer sentimento negativo direcionado a ele, e ficava feliz.

  Claro que nesses quatro meses, o tempo total que morava ali, tiveram momentos horríveis, recaídas terriveis que eles precisaram ser a força do outro, e Naruto imaginava como era quando Sasuke estava sozinho, ele não parecia ser o tipo de pessoa que pede ajuda. Sabia, claro, que precisou fazer depois de se isolar tanto que achou que seria seu fim, mas viu que não era com frequência, quase nunca pra ser certeiro, a verdade é que Sasuke parece tanto com ele que lhe assustava. Os dois pareciam adolescentes que ainda pensam que podem carregar o mundo nas costas.

  Eles tinham o costume de dominar o que faziam, cativavam pessoas, também davam um certo medo em seus adversários, mas agora, aqueles reis dormiam sozinhos, com suas angústias e solidão. Em um momento eles tinham tudo, medalhas, troféus, fama, amor, companhia, mas no outro tinham perdido tudo, a não ser a vida, e é assim que funciona, nada está a um passo de seu querer, tudo aquilo estava apoiado em finos pilares, frágeis.

  Naruto sentia, em seu mais pessoal, que desde a ida de Hinata seu coração não tinha sido mais honesto, com os outros nem consigo mesmo. Tinha consciência que aquele termino tinha doído mais do que deveria, mas falava a todos que estava tudo bem, porque tinha que ficar. Mas ali, sentado no sofá enquanto tomava um vinho com Sasuke, e ouvia ele lendo uma história, suas palavras poderiam voltar a ser honestas. Ele não precisava mais se esconder do seu passado, não precisava mais ter que ignorar sua dor ou esquecer que ela estava ali, podia sentir tanto ela que iria evaporar uma hora ou outra.

- Sasuke, você já confiou tanto em alguém a ponto de entregar sua vida em bandeja?

- Acho que sim, Naruto. - Sasuke falou, estava em sua pausa do livro e bebia um pouco para aquecer a garganta. - Mas por quê?

- Eu estava pensando um pouco, me sinto melancólico pelas coisas que fiz no passado. - Naruto falou baixo e ajeitou sua perna, pelo menos aquilo estava dando certo, seu joelho tinha tido uma melhora significativa.

- Hm, bom, a confiança ela é conquistada aos poucos, precisa ser algo construído com base em amor total. É um pouco difícil, na verdade.

- Sei disso, e algo tão precioso eu cometi o erro de estragar, deve ser por isso que fui tão castigado.

- Não fale isso, Naruto. Independente do que tenha feito, você é humano, e pode errar. Você tem esse direito, assim como tem para aprender. É normal que em alguma fase de nossas vidas, façamos algo que não nos orgulhamos mais, e é aí que tudo se torna humano, a nossa fragilidade é única, nosso poder de errar e acertar, se desculpar e construir novamente é uma dádiva. - Sasuke falou, deixou sua taça de lado e segurou as mãos de Naruto, beijando.

- Eu fui muito ruim, Sasuke. As vezes acho que não mereço suas palavras bonitas, mas também penso, será que não sofro demais por algo que não pode mais ser mudado? Me sinto infernal tantas vezes, e outras meu ego me faz quase que celestial, eu não consigo me entender.

- Isso prova sua humanidade, Naruto. Você precisa se dar a chance do perdão, e seguir em frente com sua vida. Só assim vai conseguir se libertar das suas amarras do passado. - Sasuke sorriu e beijou suas mãos novamente, Naruto ficou olhando ele por alguns segundos, também dando um beijo nas mãos macias e longas do outro.

- Você se acha hipócrita, Sasuke?

- Bastante.

  Os dois sorriram e naquela troca de olhar, se perderam. Enquanto o olhar de Naruto viajava por aqueles olhos magníficos que tanto aprendeu a amar, Sasuke olhava a boca bonita do outro, e como era harmoniosa com o rosto másculo e marcado. Não se deram conta de como estavam próximos, e com as mãos ainda unidas, aproximaram o rosto, tanto que podiam sentir o hálito quente alheio batendo em seus rostos, o cheiro de vida emanando de cada lugar de seus corpos, e a explosão de energias quando as bocas foram unidas, e mesmo que aquele toque tenha durado pouco, foi o suficiente para que a vida dos dois tivessem sido reescritas.

  Assim que o toque foi desfeito, não existia ali vergonha ou arrependimento, e sim amor. Sim, com pouco tempo foram capazes de desenvolver um sentimento que é tão puro e bonito, mas era calmo.

  A sintonia dos dois era simples e forte, não precisavam de muito, apenas dos dois, era o suficiente.

  Sasuke voltou a ler o livro para Naruto, que ficou em silêncio ouvindo a voz melodiosa do outro, enquanto repassava toda aquela sensações avassaladora que um selar de lábios lhe proporcionou.

  Por uma hora, apenas um italiano bem falado foi ouvido, e quando acabou, por mais uma hora, nenhum som humano era reproduzido a audição nua, até que certas palavras foram proferidas, que mudou tudo:

- Sasuke, seja meu espelho, minha espada e escudo.

love story - narusasuOnde histórias criam vida. Descubra agora