Episódio 006- Parte 2

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Dang-Gu treinava ao amanhecer em uma árvore solitária no topo de uma colina próxima ao vilarejo. O som das lâminas cortando o ar era ritmado e preciso, resultado de anos de intensa prática. Seus golpes contra o tronco eram firmes, apesar da pouca idade, e o suor já começava a se acumular em sua testa. A árvore, marcada com cicatrizes de treinos anteriores, parecia ser o único confidente de Dang-Gu, testemunhando suas lutas e o peso de suas escolhas.

Enquanto fazia uma pausa para recuperar o fôlego, Dang-Gu olhou para o horizonte, lembrando-se de quando sua mãe o incentivava a ser forte, mas também gentil. Aqueles tempos pareciam distantes, envoltos em uma névoa de memórias dolorosas. Inspirado por esses pensamentos, Dang-Gu deu mais alguns golpes com a katana, tentando ignorar as emoções que começavam a aflorar. Ele sabia que, ao retornar para casa, teria de enfrentar a realidade que o esperava — uma vida que, desde a morte de sua mãe, nunca mais foi a mesma.

Depois de encerrar o treinamento, Dang-Gu embainhou a katana e desceu a colina, caminhando em direção à pequena casa onde morava com seu pai. O ambiente já era sombrio antes de ele chegar, mas, ao se aproximar, um cheiro familiar e doloroso o atingiu: o cheiro de algo queimando. O coração de Dang-Gu acelerou, e ele começou a correr, temendo o que poderia encontrar.

Ao chegar à entrada da casa, viu seu pai ao lado de uma pequena fogueira no quintal. Suas mãos seguravam o último vestido que a mãe de Dang-Gu havia feito para ele, o presente que simbolizava quem ele era antes da tragédia. As chamas já consumiam parte do tecido delicado, e, num impulso, Dang-Gu correu até o pai.

Dang-Gu: Pai, o que está fazendo?- Gritou, a voz embargada pela dor e pela incredulidade.

O pai olhou para ele com frieza, seus olhos endurecidos pelo luto e pela dureza da vida que os cercava. Sem dizer uma palavra, ele jogou o vestido na fogueira, permitindo que o fogo devorasse o restante do tecido.

Zhou: Você não é mais uma menina, Dang-Gu- Disse, a voz firme, mas sem emoção- Agora você é um homem, e homens não vestem isso.

Dang-Gu caiu de joelhos diante das chamas, vendo o vestido se transformar em cinzas. Lágrimas começaram a descer por seu rosto enquanto ele observava a última lembrança física de sua mãe desaparecer. Ele tentou conter o choro, sabendo que seu pai não o  aprovaria, mas a dor era insuportável.

Dang-Gu: Mas... era da mamãe- Murmurou, a voz quase inaudível- Ela me deu...

Seu pai se aproximou, colocando a mão pesada sobre o ombro de Dang-Gu, mas não havia consolo no gesto.

Zhou: Sua mãe se foi- Disse, a voz tão dura quanto as palavras- E agora você deve ser forte. Você deve ser um homem. Não há espaço para fraqueza. Vá para dentro e lembre-se disso.

Com essas palavras, o pai virou-se e entrou na casa, deixando Dang-Gu sozinho diante das chamas que já se apagavam lentamente. Por um momento, ele permaneceu ali, paralisado pela dor e pelo peso da expectativa de seu pai. Quando finalmente se levantou, com as lágrimas ainda correndo pelo rosto, soube que algo dentro de si havia mudado para sempre.

A partir daquele dia, Dang-Gu seria forçado a esconder quem realmente era. O vestido queimado era mais do que um símbolo de sua mãe; era um símbolo do seu próprio ser, que agora seria enterrado junto com as cinzas que restaram.

DIAS ATUAIS

--: Dang-Gu?

Dang-Gu olha para porta assustada mas, logo um alívio tomou seu corpo

Dang-Gu: Jung, você quer me matar?- Pergunta com a mão no peito

Os dois se encararam em silêncio por um momento, o ambiente carregado com um entendimento silencioso. Jung fechou a porta atrás de si e deu um passo à frente, com uma expressão calma.

Dois Corações- O Rei de PorcelanaOnde histórias criam vida. Descubra agora