Os pais - Parte um

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POV: Juliette

- Oh, querida, sua casa é linda.

Minha mãe cantarola enquanto caminha de cômodo para cômodo, abrindo cada porta, cada armário, cada gaveta e finalmente se contenta em reorganizar minhas toalhas. Eu vejo meu pai revirar seus olhos e nós compartilhamos um sorriso secreto.

Eu sempre fui mais a filhinha do papai. Nós somos muito parecidos, eu e Lourival. Diretos ao ponto, anti-sociais, reservados e extremamente sinceros quando nos sentimos ameaçados.

- Isto é agradável, Jujuba - Ele se aproxima para ficar ao meu lado depois de colocar a última mala no quarto de hóspedes, usando o apelido que me colocou ao me pegar em seus braços pela primeira vez.

Fofo quando criança, mais um pouco bobo agora que me tornei uma adulta.

Chegamos um pouco mais de meia hora atrás, e enquanto Lourival e eu lutávamos para carregar toda a bagagem de Fátima para o meu apartamento, minha mãe esteve explorando cada canto e recanto da minha casa.

- Obrigada, pai. - Dou a ele um abraço de um braço só, que é o mais próximo que já chegaremos de afeição física.

- É um pouco sofisticado demais para o meu gosto.- Ele diz, enquanto gentilmente me aperta e, em seguida, examina os móveis da sala de estar, provavelmente escolhendo o lugar que ele ocupará pelas próximas três semanas, onde ele provavelmente passará a maior parte do seu tempo. - Eu não vejo a televisão.

Ele resmunga e me liberta para fazer um giro de 360° na minha sala, seus olhos percorrendo cada superfície.

- Eu não possuo uma TV, pai. - Eu digo com cautela.

Assistir esportes é como respirar para Lourival, e pelo olhar em seu rosto, ele parece estar em desesperada necessidade de ar fresco.

- Você não possui uma TV?

Eu nunca vi meu pai parecer mais abatido do que neste momento.

- Não, mas há tantos pontos turísticos para vermos em torno de Seattle, pai, eu prometo que você nem sequer sentirá falta daquela coisa.

Eu sei que meus esforços são inúteis, mas vale a pena uma tentativa.

- Fico feliz em ouvir isso, querida. - Minha mãe ressurge com um sorriso brilhante e eu fico grata pela interrupção.

Lourival parece que está prestes a expelir um cálculo renal.

- Além disso, Lourival, - ela olha para o meu pai e sorrido docemente. - certamente você não quer passar suas férias na frente da TV? Há tantas coisas que eu quero ver enquanto estamos aqui.

Meu pai murmura algo baixinho e se senta em um sofá próximo. Eu presumo que ele fez a sua escolha entre os assentos, e duvido que ele vá se mover daquele local por mais de cinco minutos para uma ida ao banheiro.

- Então, querida, que horas Sarah vem? - Minha mãe soa absolutamente vertiginosa com a perspectiva de conhecer a minha namorada.

É tudo sobre o que ela tem sido capaz de falar desde que eu os peguei no aeroporto e, francamente, eu estou realmente ansiosa pela reunião, se isso significa que ela parará com as incessantes perguntas.

- Não deve ser uma namorada muito boa, se ela não conseguiu nem convencê-la a comprar uma TV. - Meu pai reclama do sofá.

Minha mãe o ignora e aguarda a minha resposta com olhos arregalados.

- Ela deve estar aqui a qualquer minuto. - Eu ofereço um sorriso relutante e levanto meu pulso esquerdo para verificar as horas.

Faltam dez minutos para às 18hs, o que me deixa com aproximadamente cinco minutos para me refrescar. Exatamente quando estou prestes a pedir licença, meu celular toca e eu estendo a mão para a minha bolsa.

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