Última Noite | Polin

Capítulo 3

Aeroporto

Dizer que Penélope não queria estar ao lado de Colin naquele momento, era um tanto incoerente, mas ela não queria. Ela não queria se despedir dele no aeroporto e ainda ter que voltar pra casa dirigindo o carro dele. Mas bastou ele pedir com aqueles olhos suplicantes e um sorriso tímido nos lábios, que ela foi incapaz de dizer qualquer outra coisa além de sim.

Enquanto ouvia-se o barulho dos carros à sua volta, dentro do veículo o silêncio era constante. E assim eles permaneceram o caminho todo, num silêncio absoluto, cada um preso em seus próprios pensamentos. Ela não sabia o que ele estava pensando, mas percebeu que Colin parecia inquieto e até um pouco irritado. Ela o conhecia a tanto tempo, que já conseguia identificar até mesmo pelos seus suspiros quando tinha algo errado, e esse era o caso. Porém, Penélope decidiu não questionar. Afinal, ele iria embora e não era hora para isso. Se ele quisesse falar, já teria feito.

Colin ficou ao seu lado até o tempo limite para passar pelo raio-x e seguir para o portão de embarque. O silêncio nunca foi embora, assim como a mão dele nunca soltou a dela, até que fosse necessário. Eles não precisavam falar, apenas algumas trocas de olhares já eram o suficiente. Penélope estava no limite de suas emoções. Tinha a sensação clara de que ele tinha se arrependido, tanto quanto ela, mas por razões diferentes. E isso a machucou. No entanto, ele ainda se portava como se não quisesse deixá-la. Não fazia muito sentido em sua cabeça, pois eram percepções e sentimentos conflitantes. Mas de alguma forma reuniu forças para deixar todos esses sentimentos de lado e apenas se concentrar nele e no momento. Ela não queria chorar, mas quase cedeu quando ele a abraçou. Eles ficaram abraçados, no meio do aeroporto, por algum tempo e ela sentiu que algo realmente estava diferente dessa vez.

Com os braços ainda envoltos em sua cintura, Colin abriu e fechou a boca algumas vezes enquanto a fitava. "Pen... eu..." ele começou, mas nunca terminou, apenas a abraçou novamente e mais forte dessa vez.

"Você não vai voltar dessa vez, não é?" Penélope questionou com a voz mais embargada do que gostaria. Ele apenas lhe lançou um sorriso antes de responder "Eu não sei, Pen." E acariciou sua bochecha antes de beijá-la.

Foi um beijo diferente de todos que eles tinham tido até ali, daqueles que você sente que é o último. Os sinais confusos estavam presentes. Mas ele não estaria ido embora se realmente gostasse de mim. Você que está enxergando coisas demais onde não existe, Penélope. Ela afastou o pensamento e cravou seus olhos azuis nos olhos verde esmeralda dele.

"Me avisa quando chegar, por favor" ela suplicou quando se afastaram um pouco.

"Sempre. Eu te ligo. Promete que vai ficar bem?" Ele questionou e ela apenas assentiu, incapaz de dizer mais alguma coisa. Depois de um beijo em sua têmpora e outro mais demorado na testa, ele se afastou e a fitou nos olhos mais uma vez antes de dar as costas e sumir no meio da multidão sem olhar para trás.

Penélope ficou olhando na direção em que ele saiu como se estivesse congelada no lugar, na esperança de que talvez ele pudesse voltar. Mas longos minutos se passaram e a realidade foi se abatendo sobre ela. Escutou a última chamada para seu voo e uma única lágrima caiu antes que ela pudesse evitar, tirando-a daquele estado de estupor.

Horas depois

Penélope chegou em casa, um pouco mais calma depois de ter parado em alguma rua qualquer e ter chorado até não conseguir sentir mais nada além de um amortecimento. Ela se deitou na cama, e soube que tinha cometido mais um erro, pois ainda podia sentir seu cheiro no travesseiro. Ela se agarrou a ele e respirou fundo para se acalmar. Aquilo não era o fim do mundo, eles já tinham se despedido tantas vezes nos últimos 7 anos que ela já tinha perdido até as contas. O problema dessa vez, talvez, é que apesar das promessas de que nada mudaria a amizade deles, ela não tinha sido o suficiente para mudar seus planos. E isso a machucou de alguma forma, embora não devesse.