𝓫𝓮𝓽𝓽𝔂

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Quando você é jovem, deduzem que você não sabe de nada. Mas, aos 17 anos, eu já sabia sobre tudo que envolvia o James. Ele sempre foi o tipo de garoto que precisava sentir que estava salvando alguém, mas sem parecer que estava no controle da situação, como se esse fosse seu dom natural. Enquanto isso, eu já havia passado por tantos problemas – relacionamentos ruins, pais controladores – que, no momento em que me deparei com uma pessoa disposta a sarar todas as minhas feridas, me entreguei por inteiro. Parecia que éramos perfeitos um para o outro: ele precisava se sentir importante e eu só queria vê-lo tentar. Mas eu deveria ter percebido a tempo que duas pessoas quebradas não conseguem construir nada juntas sem, antes, se destruírem mais. Agora eu sei.

Muito antes das férias chegarem, nosso relacionamento já estava condenado. Ao mesmo tempo em que ele era a pessoa que mais me conhecia no mundo, eu tinha a constante sensação de que James nunca seria capaz de me entender por completo. Ele sempre me ajudou em qualquer que fosse a situação, por pior que parecesse. Sempre irei lembrar dos dias após a morte da minha avó Marjorie: James me deu o espaço que eu precisava, mas bastava um toque no celular que ele já estava de pé na minha porta, pronto para atravessar a cidade no seu skate para comprar meu chocolate favorito se eu pedisse. Ele era assim, quase como um príncipe em um cavalo branco. Por outro lado, às vezes vestia sua armadura e era impossível ver através dele. Acho que tinha ciúmes das minhas amizades; preferia que eu gastasse o meu tempo todo com ele e eu podia perceber como ficava desconfortável na presença de Inez ou Dorothea. Mas o que eu poderia fazer? Escolher entre meu namorado e minhas melhores amigas?

Eu estava fazendo tudo o que podia para salvar aquele relacionamento de tantos anos, mas, de vez em quando, me questionava que parte dele ainda existia. Todos nós estamos constantemente mudando, então, se duas pessoas se desalinham em algum ponto do caminho e continuam assim por tempo suficiente para não se cruzarem mais, como poderia continuar funcionando? Será que eu deveria mesmo usar toda a minha força para aproximar dois caminhos que já estavam tão distantes? Hoje, em perspectiva, dá para notar o quão absurdas eram minhas tentativas, mas, na época, eu só conseguia pensar: "pelo menos estou tentando". Eu ainda acreditava, não sei o porquê.

– Às vezes, o que fica parecendo é que o James ficou parado no tempo. Desculpa a sinceridade. – Inez disse uma vez quando estávamos voltando para casa, mas ela nunca perdia a oportunidade de falar algo parecido. Naquele dia, ele tinha insistido para que eu fosse com ele, mas eu disse que queria fazer um programa de garotas. Essa conversa acontecera na frente das meninas, então o clima não ficou nada agradável, principalmente porque ninguém era muito bom em disfarçar. – Ele ainda é exatamente o mesmo garoto do início do ensino médio, mas já vamos nos formar. Você não, Betty. Você cresceu.

– Não gosto de falar sobre o James sem que ele esteja por perto, parece que estamos fazendo algo errado. Mas vou ter que concordar... – Dorothea deu um sorriso reconfortante para mim. – Eu também tenho o mesmo sonho que você de sair dessa cidade, mas ele faz parecer que não te apoiaria muito nisso. Vocês já pararam para conversar especificamente sobre isso? Ou sobre qualquer coisa que está te incomodando?

Respirei fundo, observando algumas flores no topo das árvores que estavam no caminho, e disse que não. Eu nem sabia por onde começar se fosse ter essa conversa. Eu também não queria nem parar para pensar sobre o assunto, já que eu sabia que iria perceber que elas estavam certas. James sempre foi o inimigo número um de mudanças, enquanto eu tinha tantos sonhos e objetivos. No fundo, por conhecê-lo tão bem, sempre tive a certeza de que não havia possibilidade de ficarmos juntos para sempre. E, então, as flores pararam de brotar e o verão chegou.

Ele estava louco por ter que passar as férias longe, graças ao seu irmão mais velho, o John, que tinha comprado uma casa nova perto da praia. Tivemos várias e várias brigas sobre isso porque eu dizia "só vai, James. Aproveita!" e ele me fazia sentir como a pior pessoa que já pisou na Terra porque não tinha um pingo de sentimento pelo namorado e não fazia questão de ficar com ele.

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