Capítulo 4

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O sábado chegou, era bem cedo e a loja ainda estava fechada. Agatha estava um pouco receosa sobre como o Senhor Stone a trataria depois de quebrar um acordo importante da loja. Depois de desempacotar novos livros e empilhá-los, Agatha foi ao banheiro. Ela não estava se sentindo bem e via tudo ao seu redor embaçado. Quando sacou o celular do bolso para mandar mensagem para seu pai, perguntando sobre um remédio para dor de cabeça, deixou o celular cair, rachando sua câmera. Quando o pegou e se levantou, olhou para o pequeno espelho do banheiro à sua frente. "Que estranho" pensou. Mesmo sem saber o porquê o espelho parecia diferente.

-Ei! - Ouviu. Agatha então abriu a porta e ficou olhando de um lado para o outro. -Senhor Stone? - perguntou. Ninguém respondeu, nem mesmo Stone, que estava no depósito. Agatha então fechou a porta novamente e se deparou com seu reflexo no espelho sorrindo, mesmo com ela séria. No mesmo instante ela gritou, saindo correndo do banheiro.

- O QUE ACONTECEU? - veio gritando Senhor Stone, vendo o desespero de Agatha.

- N-no banheiro, no espelho! - Stone então foi até lá mas não viu nada.

- Está enlouquecendo, garota? - perguntou ranzinza, caminhando de volta para o depósito.

- Eu juro, era o meu reflexo sorrindo pra mim. - Disse antes que ele entrasse. Ainda perplexa, caminhou até os corredores tentando evitar qualquer espelho da loja, inclusive o espelho. Mesmo sendo cautelosa, deu de cara com ele e novamente seu reflexo se moveu. Agatha desta vez nem gritou, apenas saiu correndo abandonando a loja. O Senhor Stone a gritou mas ela nem olhou para trás.

Enquanto corria pela rua, Agatha tromba com Diego, e os dois caem.

- Ai Ai, por que você tá correndo? - Ele perguntou, se levantando lentamente por sentir dor.

- Me desculpe, é uma longa história. - Disse Agatha, o ajudando a levantar.

-Eu sabia que você era desastrada, mas não tanto assim. - disse Diego.

- Parece que você fala isso só para irritar né. - Disse Agatha, bufando.

- É legal te ver brava.

- estranho.

- Mas me conta aí, você estava correndo perigo? Porque parecia desesperada.- perguntou preocupado.

- Você já me zoa o bastante, não quero que ache que enlouqueci também.

- O que, - ele começou a rir - me fala vai, não tem como ficar mais maluca. - continuou a rir.

- Cala a boca - Agatha deu um leve tapa no braço de Diego - eu não vou te falar.

Depois de tanta insistência, Diego desistiu de perguntar e continuou andando. Quando passou na frente da loja de conveniências, pensou em entrar e perguntar se Stone sabia de alguma coisa.

- Olá, Stone!? - perguntou enquanto se desviava dos clientes.

- Olá, o que deseja? - perguntou.

- Eu sou amigo da Agatha, que trabalha aqui. Sabe o que aconteceu com ela?

- Ah, saiu adoidada daqui. Se veio a procura dela volte amanhã, se ela vier.

- Não, mas eu a vi correndo, saindo dessa direção. Ela não trabalhou hoje?

-Se é isso que você chama de trabalho. Ela veio, mas se assustou ao olhar pro espelho. - Stone deu uma leve risada. - Essa é a primeira vez que eu vi alguém sair correndo ao se olhar no espelho- começou a gargalhar.

Diego, sério, se afastou da bancada e começou a andar pela loja. Sabia que ela poderia ter visto esse tal espelho em qualquer lugar, mas decidiu continuar na loja. Quando passou pelo espelho sentiu algo estranho, então ficou parado se olhando, mas ao mesmo tempo, reparando o quão esquizito era. Quando decidiu ir embora da loja, resolveu brincar com Stone, perguntando se ele achava que um dia alguém compraria aquele espelho. Stone apenas sorriu, no fim, o velho tinha esperança que um dia seria vendido, mesmo imaginando o contrário.

Em casa, Agatha se encontrava em pânico, estava sozinha, para piorar a situação. Sem exitar, colou um pano em todos os espelhos da casa e qualquer outro objeto que tivesse algum reflexo. Mais tarde, Agatha resolveu dormir, mas também só decidiu descansar quando se viu segura. Entretanto, quando seus pais chegaram, se questionaram do porque tudo estava tampado e começaram a retirar todos os panos dos espelhos.

-Por que todos os panos da casa estão espalhados por aí? - Lilian subiu as escadas e caminhou pelo corredor da casa. - Será que Agatha já chegou? - disse baixinho para si mesma. Ela abriu a porta do quarto de Agatha, que ainda estava dormindo, e se irritou ao ver sua toalha de banho tampando o espelho do quarto dela. - O que essa menina andou fazendo? - puxou a toalha e saiu.

Quando acordou, Agatha foi direto para o banheiro, sua visão ainda estava sonolenta então não percebeu que o pano que tapava o espelho de seu quarto não estava mais lá. Depois de usar o banheiro, lavou seu rosto, e quando olhou para frente viu que o espelho estava destampado e arregalou o olho.

-Pare de ser covarde! - ouviu uma voz quase semelhante à sua, porém mais grossa falando.

-o-que? - olhou de um lado para o outro. Estava paralizada.

-Eu estou aqui, querida. No espelho. - Seu reflexo se mexeu. -Não grite e não saia correndo. Não importa que lugar você vá, eu sempre estarei lá. Quando olhou para o espelho de soledad...

-O que? - Agatha perguntou quase sussurrando.

-Soledad, um espelho criado por um padre que acreditava que existia um outro-algo em outro mundo, mas, a forma que ele criou o espelho foi errado e, ao invés de encontrar o paraíso, encontrou o lugar das sombras e reflexos. Quando olhou fixamente para a soledad fiquei surpresa, as pessoas sentem uma energia horrível quando chega perto do espelho. E você sabe por que existe essa tensão? - perguntou sorrindo, era maléfico, mas ao mesmo tempo dócil e ingênuo.

-N-não, eu não sei. - Agatha estava quase a chorar de tão paralisada que estava, apenas seus olhos se mexiam.

-O padre o amaldiçoou. "Eu sou uma pessoa pura e entrei neste lugar horrendo, talvez seja uma ordem divina, passar por aqui primeiro, para que no final chegue no paraíso. Todos estão condenados a passar por este espelho, mas apenas os puros terão mais facilidade de entrar aqui." Ele acreditou que esse lugar fosse uma prova para chegar ao divino - o reflexo no espelho riu - ele permanece aqui, mas nunca o vi.

-O que você quer de mim? - Agatha finalmente conseguiu dizer uma frase sem gaguejar.

-ser sua amiga. Eu sou tão solitária. Tudo aqui é. - O reflexo fez uma cara triste.

-Qual o seu nome?

-Athaga.

-Ué, o contrário do meu nome? - Agatha se viu surpresa. Já estava melhor e conseguia mexer.

-Somos idênticas burrinha. Você sou eu!

Por trás do EspelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora