XVI - O outro dia

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Verônica sentia como se um caminhão a tivesse atropelado, até o simples ato de respirar causava uma dor considerável em suas costelas. Abriu os olhos apenas para perceber que ainda era noite, o vento frio entrava pela janela aberta e causava arrepios a mulher, não hesitou em levantar da cama e fechar a janela puxando as cortinas junto, eram apenas alguns curtos passos até voltar a segurança da cama de Javier.

Logo percebeu que se quer conseguia distinguir suas próprias mãos devido a escuridão, arrastou os pés descalços com cuidado pelo quarto até sentir a maciez do colchão tocar seus joelhos. Soltou um murmúrio nada contido de dor enquanto tentava achar uma posição minimamente confortável para voltar a dormir, o moreno pareceu notar a movimentação, pois logo rolou para ficar de frente para a mulher.

-Tá tudo bem? -A voz rouca de sono parecia carregara de preocupação.

Verônica deitou-se de lado, ficando virada para o rosto do homem, o hematoma na lateral de sua barriga lantejou e ela novamente gemeu em protesto.

-Não consigo ficar confortável. -Bufou frustrada.

Voltou a ficar de barriga para cima, mas a parte de trás de sua cabeça doeu, estava machucada demais para ficar fazendo atrito com o travesseiro. A ruiva sentiu vontade de chorar, só queria conseguir dormir em paz, seu corpo, e mente, precisavam muito descansar.

Javier apressou-se em ligar o abajur ao lado da cama, a fraca iluminação era o suficiente para que ele pudesse analisar as feições da mais nova. Ela parecia cansada, os olhos marejados quase fizeram com que entrasse em desespero.

-Vou buscar um remédio pra você. -Ele levantou depressa e seguiu para cozinha em busca de qualquer analgésico que encontrasse.

Quando retornou ao quarto Verônica estava sentada, suas costas apoiadas a cabeceira da cama enquanto olhava fixamente para frente. Sua camisa agora estava amassada e se quer cobria a calcinha da mulher, se ela estava desconfortável de que a visse daquela maneira não demonstrou.

-Aqui. -Javier trazia um comprimido redondo em mãos e um copo d'água.

Sentou-se com cuidado ao lado da mulher e observou o esforço que parecia fazer para que conseguisse engolir, uma breve expressão de dor tomando conta do rosto bonito. Ela voltou a entregar o copo ao homem, que apenas o colocou sobre a mesinha do abajur.

-Me desculpa por ter falado aquilo. -Peña engoliu em seco, não era muito bom com palavras e certamente não se desculpava com frequência.

A mulher o encarou de cenho franzido, seus olhos castanhos pareciam ainda mais escuros observando os mínimos movimentos do moreno.

-Pelo que? -Verônica sabia muito bem sobre o que ele estava falando, mas o obrigaria a dizer, precisava ouvi-lo dizer.

-Por...por ter sugerido que você colocaria a operação em risco caso fosse Simón naquela casa e não Davi. -Ele movia as mãos nervosamente sobre os lençóis, sua boca abrindo e fechando várias vezes antes de continuar. -Eu sei que não colocaria.-Levou uma das mãos aos cabelos e puxou os curtos fios em frustração. -Eu só tava com raiva e descontei em você, fui um completo idiota.

A ruiva esboçou um leve sorriso e empurrou os ombros dele em uma implicância amigável.

-Foi um tremendo idiota-Ela confirmou, mas o sorriso continuava lá. -Mas eu não sinto muito por ter reclamado do seu sexo barulhento. -Javier revirou os olhos, sabia que qualquer frase depois daquela seria absurda. -É sério, Javi, não aguento mais ouvir você transar.

Verônica falava em um tom descontraído, mas a realidade é que sentia que acabaria enlouquecendo se tivesse que ouvir aquilo mais uma vez.

-Não vai mais acontecer, prometo. -Ele encarava os bonitos olhos da mulher, sentia-se preso a ela de uma forma que não entendia. -Quer tentar dormir denovo?

Don't Blame Me - Javier PeñaOnde histórias criam vida. Descubra agora