Don't Blame Me - Javier Peña

XXIX - Ruptura

O carro começava a passar pelas ruas estreitas da periferia de Bogotá, talvez devido ao horário algumas pessoas ainda se acumulavam nas calçadas. Música alta vinha de alguns estabelecimentos ali perto e uma quantidade um pouco assustadora de prostitutas podia ser vistas pelo caminho.  Javier segurava o volante com força, as pontas dos dedos esbranquiçadas enquanto ele fazia o caminho que tanto conhecia, mas não esperava nunca mais ter que fazer.

O silêncio reinava no carro, o que quer que fosse acontecer parecia atormentar os dois agentes. Verônica conseguia sentir que o clima havia piorado ainda mais quando ela insistiu em acompanhá-los, talvez tivesse realmente sido uma má ideia.

A rua em que haviam dobrado era mal iluminada e completamente vazia, as casas ao redor pareciam todas abandonadas e cobertas por pichações. Peña começou a entrar em uma espécie de estacionamento subterrâneo, a medida que o carro ia mais longe no lugar uma luz fraca começava a ser visível. O farol alto iluminou as duas pessoas paradas em frente a viatura, os rostos conhecidos dos policiais causou um pouco de alívio na ruiva, pelo menos não estariam sozinhos naquele lugar bizarro.

A mulher pulou para fora quase que instantaneamente quando o veículo foi estacionado e andou depressa até os policiais, que pareciam tão tensos quanto os agentes. Quando ela se direcionou para a  frente da viatura uma mão forte segurou seu braço e a impediu de andar.

—Isso não vai ser nada legal de assistir. —A voz do namorado parecia distante, mas repleta de preocupação.

Verônica sacudiu o braço para se livrar do aperto do mais velho e foi em direção ao homem amarrado a cadeira. Ele estava vestido da cabeça aos pés de preto e seu rosto estava coberto por uma espécie  de tecido, impossibilitando que os agentes conseguissem ver seu rosto.

Javier sentia todos seu corpo tensionar de ansiedade quando viu a ruiva puxar o capuz para longe do homem, não era ninguém que eles já tivessem investigado antes, os cabelos pretos estavam praticamente raspados e o rosto anguloso chegava até a ser bonito. Era apenas um garoto. Um garoto idiota que havia se envolvido com o tráfico e agora estava alí, prestes a ser espancado por qualquer informação.

Verônica afastou-se imediatamente da cadeira quando ouviu os passos firmes e conhecidos do seu chefe, sabia que ele seria a pessoa a tomar as rédeas daquela situação. Viu o moreno respirar fundo e encarar atentamente o garoto a sua frente, o outro se quer parecia sentir  medo.

—¿Por qué hicieron eso? —A voz de Javier sempre ficava rouca e tremendamente baixa quando ele falava em espanhol, mas tudo nos movimentos dele enviavam um sinal de alerta a mulher.

O garoto permaneceu em silêncio, uma expressão quase debochada começava a surgir em seu rosto. Steve engolia  em seco, não queria que o amigo tivesse que fazer aquilo, ainda mais na frente da agente. Ele  sabia que ela não concordaria com nada daquilo, que provavelmente aquela situação causaria um dano permanente na amizade deles.

—Escucha chico, si no respondes a mis preguntas las cosas se van a poner feas. — Ele abaixou-se na altura dos olhos do mais novo, tentava manter seu tom o mais inesperessivo o possível. —Y no quieres que eso suceda.

O garoto começou a rir quase que instantaneamente, seus ombros sacudiam como se Javi tivesse  contado a piada mais engraçada do mundo. O moreno limitou-se a negar e soltou um suspiro frustrado.

—Si lo prefieres así. —Peña deu um curto  passo para trás, mas em segundos seu punho voou contra a mandíbula do menor que pareceu surpreso demais para ter qualquer reação. —Dime quién ordenó el ataque.

O tom de voz não subiu enquanto ele falava, mas Verônica sentiu seu corpo se encolher involuntariamente. O garoto tinha um olhar enfurecido direcionado ao agente, mas nenhuma palavra saiu de sua boca, não cederia tão facilmente. Os sacos seguintes foram desferidos contra a barriga em uma sequência contínua, Javier só parou quando ouviu o mais novo finalmente gritar de dor.