Capitúlo 1 - A vida de Isobel...

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Minha vida sempre foi muito conturbada. Quando bebê, qando criança e quando adolescente. No momento eu tenho 23 anos. Comecei a morar sozinha nos meus 17 anos, 3 meses antes de fazer 18 anos. Agora és a dúvida, por que minha vida se iniciou em um ambiente problemático?
Meus pais se conheceram quando ambos ainda eram jovens – pelo menos a minha mãe era. Minha mãe tinha 16 anos e meu pai 24. Minha mãe era garçonete de um bar que meu pai sempre ia nos fins de semana. Meu pai era apenas um rapaz problemático que se relacionava com a maioria das moças da cidade – pelo menos é o que eu sei sobre ele. Minha mãe se chama Rosangela Michel e meu pai se chama Jeferson Garcia – ou pelo menos se chamava. Não sei nada sobre ele, apenas que ele era um cara problemático e descarado – como eu já havia dito. Já vi uma foto quando ele era jovem, ele realmente era encantador. Para resumir a minha relação inexistente com meus pais, eu sou mais uma garota entre muitas que sofre daddy issues e mom issues – ou pelo menos eu sofria. Não sinto mais nada sobre eles.  Interesse, necessidade, raiva...nada!
Moro com minha melhor amiga, Jaqueline Weber. Ela é negra, tem seus lindos cabelos cacheados de cor preta e grandes de tamanho até o meio das costas e cheio como a juba de um leão. Nos conhecemos no ensino médio, hoje trabalhamos e estudamos juntas na faculdade de Harvard – sim, Harvard! Eu e a Jaqueline estudamos psicologia, estamos no nosso penúltimo ano. Foi bem difícil eu conseguir entrar. Passei por muitas coisas, principalmente humilhações...faz parte!
-- Levante-se dessa cama, Isobel. – Disse Jaqueline batendo na porta.
Sim, eu me chamo Isobel, Isobel Michel! Minha pele é branca como a neve, meus cabelos são lisos e longos de tamanho até a minha cintura de cor escura como a noite, e meus olhos são castanhos escuros. Sou francesa, mas moro na cidade de Cambridge, estado de Massachusetts nos Estados Unidos. Me mudei para cá nos meus 1 anos de idade com a minha mãe. O sobrenome “Michel” veio da minha mãe. Meu pai não me registou.
-- Já irei levantar, Jaqueline! – Digo resmungando enquanto desperto.
-- Levante-se logo, temos que ir para a universidade. – Disse Jaqueline andando até a cozinha.
Levanto da cama e vou direto ao banheiro do meu quarto. Me aproximo da pia, ligo a torneira e lavo meu rosto. Pego a pasta de dente, abro a tampa e passo sobre os cabelos da minha escova de dente. Acabo de escovar os dentes e me retiro do banheiro – de costume eu faço skin-care, entretanto como hoje eu acordei um pouco tarde, não tenho tempo. Olho para o relógio e vejo que são 4:44 da manhã – será que eu terei sorte pelos números estarem iguais?
Me aproximo da sacada da janela do meu quarto e observo o sol ainda nascendo. Me concentro no silencio de todo o bairro e no canto dos pássaros. Sinto o vento gelado e fresco do horário da manhã e me sinto bem, aconchegada. Ouço a porta do meu quarto se abrindo. Avisto Jaqueline.
-- Você ainda não tomou banho? – Perguntou Jaqueline me repreendendo.
-- Não, por que? – Digo confusa.
-- Então vá tomar banho para irmos tomar café. – Disse Jaqueline com autoridade – Preferi comer em casa ou na cafeteria?
Ao mesmo tempo em que eu gosto de tomar café em casa com o silencio da manhã, o canto dos pássaros, e o vento gelado e fresco do horário da manhã enquanto observo o sol nascendo pela sacada da janela...gosto de tomar café fora de casa, enquanto escuto os passos das pessoas com pressa indo até os seus destinos, ouvindo o rádio da cafeteria, e ouvindo as pessoas conversando sobre suas vidas e problemas.
-- E então, Isobel, preferi comer em casa ou na cafeteria? – Perguntou Jaqueline novamente com obstinação.
-- Vamos tomar café em casa. – Digo fazendo rabo de cavalo em meus cabelos.
-- Ótimo, se agilize! – Afirmou Jaqueline saindo do quarto.
Novamente vou até o banheiro e ajeito minhas coisas para ir tomar banho. Tiro meu pijama e jogo-o para minha cama. Entro sobre o box do banheiro e ligo o chuveiro. Solto meus cabelos enquanto espero a agua esquentar. Vou para debaixo do chuveiro e começo a banhar. Pego meu shampoo e jorro sobre minha cabeça.
Termino de tomar banho e desligo o chuveiro. Enrolo a toalha sobre meus cabelos. Visto o roupão de banho. Me retiro do box do banheiro e me aproximo da pia. Me olho através do espelho e me pergunto: 
– Sou bonita? – Sempre tive essa dúvida.
(...)
Eu já estou pronta. Estou vestindo uma blusa social colocada por dentro da calça social preta que estou vestindo. Vou para minha penteadeira, me sento e começo a pentear meus cabelos. Sempre cuidei e preservei muito eles. Já sofri muito caso de inveja sobre ele, foi pesado e difícil me livrar, a minha mãe sempre insistia para eu cortar meu cabelo, mas eu nunca aceitava, pois, ele me lembrava meu pai, ele tinha cabelos longos e pretos, como o meu, então quando eu soube disso, nunca mais quis cortar meus cabelos.
(...)
-- Que aulas teremos hoje? – Pergunto indo em direção a geladeira.
-- Antropologia e sociedade, Filosofia e ética, e História da Psicologia. – Respondeu Jaqueline distraída usando o seu celular.
-- Nossa, vamos conseguir sair a tempo para o trabalho? – Pergunto intrigada pegando a garrafa de água. 
Vou até o sofá e me sento ao lado de Jaqueline. 
-- Eu não sei, veremos. – Respondeu Jaqueline.
-- Hm. Vou tomar café!
-- Vou acabar de resolver um exercício.
-- Ok.
Vou até a geladeira e pego uma caixa de Panquecas cruas – essa é uma das minhas comidas favoritas, a primeira é Brownie. Quando criança, a minha primeira comida favorita era Waffles, eu comia direto, pois eu não tinha condições financeiras e sempre comia Waffles, hoje em dia eu enjoei de Waffles de tanto comer no passado.
(...)
Agora já são 5:03 da manhã, a hora em que eu e a Jaqueline saímos de casa. Nos locomovemos para a universidade com o nosso humilde carro. Nós duas juntamos nossas economias para comprarmos esse carro, era muito ruim ir de ônibus, uma correria. Com carro demoramos apenas 7 minutos para chegarmos na universidade. 
-- Já está pronta? – Perguntou Jaqueline vestindo seu casaco.
-- Sim – Responde vestindo meu casaco sobretudo.
-- Viu a chave do carro? 
-- Está na bancada da sala.
Saímos de casa. Descemos as escadas do prédio. Chegamos no carro e entramos. Jaqueline liga o carro e seguimos caminho.
(...)
-- Como está se sentindo? – Perguntou Jaqueline enquanto dirige. 
-- Eu estou bem. Ainda me encorajando sobre o fato de eu ter que lidar com pessoas hoje. Você sabe que não gosto de lidar com pessoas.
-- Não se preocupa tanto. Tenta se distrair ao máximo para não ficar ansiosa.
Chegamos no estacionamento da universidade. Descemos do carro. Avisto vários estudantes da faculdade chegando. Alguns conversando, outros jogando bola, outros lanchando sentados sobre o gramado da faculdade. Chegou o momento de encarar a vida social.
...vida social...
Desde que me entendo por gente, nunca gostei muito de lidar com pessoas, conversar, entender cada opinião, suportar. Lidar com pessoas é um desafio diário da vida, envolvendo estresse, compreensão, tristeza, felicidade, brigas, paz, e etc. Quero lidar com isso? Não! 
-- Eu vou no banheiro, quer ir comigo? – Perguntou Jaqueline distraída.
-- Não, vou direto para sala. – Responde mexendo na minha bolsa.
-- Tudo bem. Até mais.
A universidade é bem grande...espaçosa. Quando eu fui aceita em Harvard, eu fiquei sem acreditar a dias, a Jaqueline quem me ajudou a acreditar que eu passei. É bem difícil eu acreditar em mim mesma, não confio em mim.
Eu e Jaqueline estudamos psicologia. Prometemos sermos psicólogas um dia quando ainda estávamos no ensino médio.
(...)
Chegando na sala de aula vejo alguns estudantes conversando. Avisto o Lourenço, um dos estudantes de medicina. Ele tem 1,90 de altura, pele morena, cabelo baixo de cor loiro puxando para o castanho, e olhos azuis. Acho ele muito atraente. Digamos que eu tenha uma certa queda por ele. Sua personalidade e postura me chama muito a atenção e me irritando ao mesmo tempo.
Me sento em uma das carteiras e observo o pátio pela janela enquanto sinto o vento fresco vindo de fora passando pelo meu rosto – sempre gostei dessa sensação. Lourenço se aproxima até mim e sinto um frio no estomago. 
-- Opa, bom dia! – Disse Lourenço com um sorriso e tom de voz descarada.
-- Oi, bom dia. – Digo com frieza olhando para Lourenço.
-- Eu me chamo Lourenço. Presumo que não nos conhecemos.
-- Eu te conheço, você quem não me conhece.
-- Não entende!? – Disse Lourenço confuso rindo descontraidamente.
-- Eu sempre te vejo por aqui na sala conversando com seus amigos. Que por sinal, fazendo muito barulho. 
-- Não sabia que me conhecia a esse ponto.
-- Que ponto? Qualquer um te repararia pelo fato de você ser bem “espontâneo”. – Digo com ironia. 
Lourenço rir.
-- Compreendo, peço desculpas então. – Disse Lourenço com cinismo.
-- Devo te “desculpar”? – Digo com orgulho.
-- Não sei, você quem decide.
Reviro os olhos me sentindo irritada com esse jeito descarado e cínico dele agir. Eu realmente não tenho paciência em lidar com pessoas, principalmente pessoas como ele.
-- E você, como se chama? – Perguntou Lourenço interessado.
-- Eu me chamo Isobel, Isobel Michel! – Responde com frieza.
-- Eu me chamo Lourenço, Lourenço Ballard! – Disse Lourenço estendendo sua mão para mim.
Sinto um enorme frio no estomago. Eu nunca esperei que isso tudo acontecesse. Ele vir até mim, conversarmos por mais de 10 segundos, e ele querer me tocar. O que está havendo?
Olho para a mão de Lourenço por um breve momento.
-- Não irá apertar a minha mão?
-- Prefiro não ter contato físico com pessoas que eu não tenha afinidade – Digo com orgulho.
-- Hm, compreendo. – Disse Lourenço sorrindo de canto.
-- Agora entendo por que você é tão comentado.
-- Sou tão comentado a que ponto? – Perguntou Lourenço intrigado.
-- Francamente, ao ponto de me irritar! Seu jeito cínico e descarado é bem chamativo...atraente.
Eu não queria estar sendo grossa assim, mas a minha personalidade e minha alergia por pessoas esta gritando mais alto
-- Eu digo o mesmo sobre seu jeito afrontoso. Frio e sincero.
Ele disse isso mesmo?
-- Hm, devo agradecer? – Pergunto com orgulho.
-- Se caso você gostou do elogio franco e sincero, agradeça. A não ser que você seja uma garota necessitável de elogios.
Quem ele pensa que é para falar assim? Me sinto ofendida. Eu sei que ele não falou de forma direta a mim, entretanto eu vi um tom de desprezo e de autoridade. Estou errada?
-- Não, eu não sou uma garota “necessitável de elogio”, sou uma garota necessitável de paz e distancia de pessoas como você. – Disse com fúria – eu realmente me irritei.
-- Pelo visto eu te ofende.
-- Me ofendeu?! – Repito – na verdade não, suas palavras estupidas só me lembraram do fato de eu não dever falar com pessoas do seu nível.
Lourenço se aproxima de mim aproximando seu rosto ao meu.
-- E qual seria o meu nível? – Disse Lourenço com tom suave e baixo encarando os olhos de Isobel.
O que está havendo neste exato–momento. Estou sonhando? Alucinando?
-- Precisa se aproximar tanto? – Pergunto insegura.
-- Preciso? – Perguntou Lourenço mexendo nos cabelos de Isobel.
-- Não toque no meu cabelo. – Digo afastando Lourenço.
A professora chega na sala de aula, fui salva. Ele se retira piscando um dos seus olhos para mim com um sorriso de canto malicioso. Eu ainda estou assimilando o que aconteceu. O que ele queria de mim? Me manipular para fazer as atividades e trabalhos dele? Ser sua secretaria? O que poderia ser?
Despois da aula ter acabado, vou até a carteira onde Jaqueline está sentada e conto tudo para ela. Cada coisa do que ele falou.
-- Como é que é? – Perguntou Jaqueline intrigada.
-- Sim, tive a mesma reação. Ele parecia estar...flertando!?
-- Parecia estar flertando?! – Repetiuu Jaqueline – Ele estava flertando, Isobel! Acorda. 
-- E daí? Irei me importar com isso? Obviamente não! – Digo com orgulho.
-- Não, claro que você não fará nada. Você ficará na sua quieta. Deixará ver no quer vai dar.
-- Deixar ver no quer vai dar?! – Repito com chateação.
-- Sim, ué. O que vai fazer então?
-- O obvio, desconsiderar aquele sinal imbecil e seguir minha vida como sempre faço.
-- Meu Deus Isobel, fico impressionada com o nível do seu alto antissocialíssimo.
-- Deixa de falar besteira e vamos logo para a cantina, estou com fome.
O que ela acha que está pensando? Eu não posso me deixar levar por apenas um olhar sedutor de um cara estupido e imbecil como o Lourenço Ballard. Sem contar que ele é muito babaca. Não quero esse tipo de pessoa para a minha vida, já basta meus problemas e o que eu já passei, não quero mais um trauma em lista.
Em alguns momentos eu penso sobre um dia eu ter uma pessoa ao meu lado. Que me apoie, que cuide de mim, me conforte, me traga a felicidade. Mas não estou pronta para isso tudo agora. Para eu querer alguém para me fazer feliz, também devo faze-la feliz.
(...)
Enfim, voltando para a minha vida social...eu pedi na cantina um sanduiche com pasta de amendoim – minha mãe falou que meu pai amava sanduiche com pastas de amendoim e com geleia, não como muito geleia, acho muito doce e enjoativa.
-- O que pediu? – Pergunto já mastigando meu sanduiche.
-- Uma fatia de pizza.
-- Não como pizza a muito tempo, vamos pedir quando chegarmos em casa?
-- Vamos.
Avisto o Lourenço passando pelo pátio com sua postura linda e chamativa. Por fora ele é um anjo, por dentro, ele é um demônio! Como eu, Isobel Michel, iria ter capacidade e coragem em me envolver com um cara como ele. Sem contar que eu poderia me tornar mais uma de muitas garotas que colocam suas carências paternas em caras, não quero isso para mim.
(...)
Horas se passaram e todas as aulas acabaram. Eu e a Jaqueline vamos para o estacionamento para irmos aos nossos devidos trabalhos. Eu trabalho como caixa em um mercadinho perto de casa – as vezes eu ajudo os repositores a organizar os produtos e legumes. A Jaqueline trabalha como babá de uma criança rica e mimada em um condomínio de luxo. Ela recebe mais do que eu praticamente ela quem cuida da casa, ela paga o aluguel, energia e água. Eu faço as compras do mês.
Chegamos em frente ao meu trabalho. Jaqueline para o carro.
-- Tchau bel, até mais!
-- Tchau Jaque, até mais! – Digo descendo do carro. 
Nós duas nos despedimos e seguimos nossos caminhos – espero que ela tenha sorte em cuidar daquela criança, já o conhece, ele realmente não é fácil de cuidar e suportar, contanto que os pais pagam uma boa quantia por justamente eles serem cientes do filho que tem.
Trabalho no mercado Star Market – é a cinco quarteirões distante do condomínio onde moro. Entro no mercado. Comprimento alguns colegas de trabalho. Vou para o vestiário de funcionários guardar minha bolsa e meu casaco sobretudo. Saio do vestiário de funcionários. Passo pano no chão e limpo o caixa. Organizo alguns produtos. Alguém entra no mercado e o sino toca, me atento, olho para ver quem é e avisto o Lourenço – eu realmente não esperava por isso. 
Sem hesitar vou para o vestiário de funcionários. Pego uma máscara descartável e coloco ao meu rosto – espero que ele não me reconheça.
Ele começa a andar pelo mercado a procura de algo. Observo ele pegando vários pacotes de M&M – acho estranho. Ele se aproxima do caixa. Vejo ele entregando os pacotes de M&M para a caixa. Eles começam a conversar e a rir – estão flertando?
Ele finalmente foi embora. Meu Deus, estou com medo de todas essas situações. Vou até o caixa.
-- Oi, Audrey.
-- Oi, Isobel. Precisa de algo? – Perguntou Audrey mexendo na caixa automática.
Essa é a Audrey, a gerente do mercado, minha chefe. Ela é da minha altura, seus cabelos são lisos e pretos de corte “curto bob ondulado”, pele branca e olheiras avermelhadas, ela é linda! Mesmo ela sendo a minha chefe, tem momentos que conversamos muito, sobre a vida e tal. As vezes tenho a impressão de termos a mesma personalidade.
-- O que você e aquele cara tanto conversaram? Pareciam estar flertando. – Pergunto forçando interesse.
-- Flertando?! – Repetiuu Audrey confusa.
-- Sim?!
-- Caso não saiba, eu sou lésbica, Isobel!
Engulo seco. Nesse momento em senti uma enorme vontade de enfiar a minha cabeça em um buraco ou até sumir.
-- Ah, compreende. – Digo dando um sorriso amarelo disfarçando o constrangimento.
Audrey rir.
-- Não precisa ficar constrangida, não tem problema. – Disse Audrey parando de rir.
Eu fiquei vermelha como um tomate de tanta vergonha que eu estava sentindo.
-- Por algum a caso...você conhece ele? – Perguntou Audrey mexendo no computador.
-- Sim. Ele estuda na mesma faculdade que eu. – Digo colocando meu cabelo atrás da orelha.
-- Entende. Não dá para negar que ele é muito lindo. Um gato.
-- É. – Digo meio sem graça.
-- Pode ficar aqui no caixa? O Rafael foi resolver uma coisa na casa dele.
-- Tá, tudo bem!
Não me sinto satisfeita com as palavras da Audrey. Em segundos atrás eu estava me dizendo que não estava interessada, e agora me sinto assim? És a confusão.
Entro no lugar da Audrey no caixa. Começo a usar meu celular para ver mensagens. Vejo que a Jaque me mandou uma mensagem de áudio. Abro o áudio. Ela está dizendo que o garoto que ela cuida acabou de dormir e ela estava comendo comida grife. Acho engraçado e riu. A Jaque é demais.
Alguém abre o portão e o sino toca. Olho para ver quem é e vejo um homem que aparentemente parece ter uns 40 anos para cima. Sinto uma sensação de nostalgia e um arrepio no estomago, estranho.
(...)
Horas se passam e minha hora de ir embora chegou. Me despido de alguns colegas de trabalho. Saio do mercado e vou em direção ao caminho de casa. Respiro fundo. Chega de lidar com pessoas por hoje. 
Percebo que ainda estou com a máscara no rosto e tiro a máscara. Penso sobre tudo isso que está acontecendo e me sinto confusa, perdida, carente. O que está havendo comigo? 
Inesperadamente começa a chover. Por que chuvas sempre começam em momentos dramáticos. Estou vivendo um filme?
Inesperadamente alguém surge por trás de mim com um guarda-chuva. Me assusto. Me viro para trás e me deparo com o Lourenço. Sinto um enorme frio no estomago.
-- E aí – Disse Lourenço sorrindo.
Encaro Lourenço por um breve momento com meus olhos arregalados. Reparo seus olhos azuis e suas pupilas dilatas. Sinto o calor do seu corpo. Reparo sua respiração funda e ofegante.
-- Oi? – Disse Lourenço confuso
-- Oi – Digo sem graça despertando.
-- Tudo bem contigo?
Assenti afirmando com a cabeça. Escondo meu crachá de trabalho.
-- Que bom. Foi mal ter te assustado. Te vi na chuva e vim correndo socorre-la – Disse Lourenço rindo.
Sorrio fechado.
-- Sua casa é muito longe daqui?
-- Não. Virando a esquina e seguindo reto eu chego na minha casa.
-- Hm. Entende. Permitiria eu te emprestar meu guarda-chuva? Para não chegar em casa molhada e pegar um resfriado. 
Por que ele está sendo atencioso e simpático comigo?
-- Sim, aceito. Agradeço muito!
-- Não precisa, relaxa. Se preferir, pode ficar, comprei agora.
Ele foi comprar esse guarda-chuva para me proteger da chuva? É isso mesmo?
Fico vermelha.
-- Eu acho que você está ficando vermelha. – Disse Lourenço com um sorriso cínico.
Coloco minhas mãos sobre meu rosto.
-- Estou? – Pergunto intrigada.
-- Está! – Respondeu Lourenço com um sorriso de canto.
Fico calada. Não sei o que dizer.
-- Toma. Pega o guarda-chuva e vai para casa antes que você pegue um resfriado.
-- Obrigada. 
-- De nada!
Dou as coisas para Lourenço e sigo caminho. Penso sobre o que acabou de acontecer. Ele parece mesmo se importar, se preocupar. Aqueles olhos azuis com as pupilas dilatas, meu deus, que lindo!
(...)
Chegando em casa coloco minha bolsa e algumas sacolas com comida sobre a bancada da cozinha. Vou para meu quarto, tiro minhas roupas e vou para o banheiro tomar banho – falando francamente, eu nunca me senti tão cansada, psicologicamente e fisicamente. 
Acabo de tomar banho e visto o roupão de banho. Me pego abrindo um sorriso lembrando do que ocorreu no meio do caminho e logo fecho a cara. Vou para a cozinha e preparo uma xicara de café. Pego um pão baguette – eu amo esse pão, está na lista dos meus favoritos. Vou para a sacada da janela e observo o bairro. Observo o céu cheio de estrelas brilhantes. Avisto a lua mais brilhante do que nunca. Sinto o vento gelado da noite. Me sinto aconchegada. Essa sensação é única.

Azar ou Karma?Onde histórias criam vida. Descubra agora