Compulsório

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Demetria abaixou a cabeça disfarçadamente ao ultrapassar as portas de madeira da igreja que seria realizada a cerimônia.

Não fora fácil adentrar no recinto com tantos repórteres do lado de fora. Eles se amontoavam uns sobre os outros tentando gravar e fotografar os rostos que aos poucos enchiam a St. Thomas.

Era compreensível.

Haviam muitas pessoas ali. A parte direita da catedral foi destinada à família e conhecidos. Lovato notou os avós de Melanie Montez juntos aos pais e tios. Algumas crianças trajadas de preto conversavam mais ao canto com um ar melancólico.

A família ainda estava em luto, mesmo depois de tantos dias.

Do lado esquerdo estavam sentados o mais alto escalão da polícia de Nova York, alguns juízes e promotores. O prefeito e sua esposa estavam na segunda fileira, conversando com um homem careca que ostentava uma dúzia de medalhas no peito.

Um circo à portas fechadas. Nenhum deles dava a mínima para a garota, mas não era de bom tom faltar ao evento. Não com a imprensa toda do lado de fora disparando seus flashes como se aquela fosse alguma edição da Fashion Week.

Havia um baixo burburinho de vozes incessantes. A arquitetura gótica com tons claros e vitrais coloridos parecia ter sido desenvolvida para propagar qualquer mínimo som. Como se os passos de uma formiga pudessem ser audíveis se uma pessoa quisesse.

Talvez, se Lovato se concentrasse, fosse capaz de isolar cada conversa que acontecia no local sem que precisasse se aproximar muito.

— Demi, o que diabos está fazendo aqui?

Imediatamente os olhos castanhos se ergueram para o sujeito que havia a puxado pelo pulso, obrigando-a a se virar de costas para as outras pessoas e lhe dar total atenção.

John Munch era um homem alto, esguio, de cabelos grisalhos e uma expressão de desinteresse intrínseco. Estava elegante. Em todos aqueles anos trabalhando ao seu lado, Demi não podia se recordar da última vez que o vira tão bem vestido.

— Pergunta apropriada para uma igreja, Munch… — O tom era um misto de alívio e ironia. Se tratava de uma tentativa frustrada de amenizar o fato da ex-detetive não ter permissão para estar ali. Quando notou a falha de suas intenções, Demi desmanchou o pequeno sorriso de seu rosto, se dando por vencida — Eu vim falar com Matthew Montez.

John entortou a boca ao ouvir a admissão. Apesar de estar usando o seu melhor terno naquela manhã — atendendo ao pedido do chefe para que se misturasse aos convidados —, ele estava de serviço. Era o policial responsável pela segurança interna do velório. Cuidava para que nenhum jornalista engraçadinho estragasse a data fúnebre.

Munch lamentou o fato de não ter sido a imprensa a entrar no lugar de penetra. Teria sido mais fácil chutar a bunda de um deles porta à fora. Demi era… uma amiga próxima. Ele não podia  e não queria ser grosseiro com a mulher que já havia lhe estendido tantas vezes a mão.

— Demetria, você sabe que ele não quer te ver. — Iniciou baixo, cauteloso. Como quem explica pra uma criança teimosa as regras sociais. — Isso é loucura. Eu… não posso deixar você falar com ele.

— Você é a última pessoa que eu imaginava que me diria isso. — A língua passou rapidamente pelos lábios, umedecendo-os — Munch, você sabe que tem alguma coisa errada com esse caso.

Ele suspirou e encarou as grandes orbes castanhas, ponderando sobre a afirmação feita e sua próxima sentença.

Durante todos aqueles anos trabalhando juntos na UVE, eles passaram por muitas coisas juntos. Assassinos, molestadores, mentirosos… toda a escória da sociedade reunida, compartilhando as celas da delegacia lado a lado graças a eles. É claro que no meio disso tudo, alguns casos haviam tido repercussão midiática, e como em toda investigação que ganha repercussão, erros foram cometidos e revelados.

Witness Elimination (SEMI)Onde histórias criam vida. Descubra agora