Nove

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Sinto um movimento na cama e acordo num susto, Sean está deitado do meu lado, ainda dormindo. Entrei num sono tão pesado quando voltei do jantar ontem que esqueci em que órbita estou. Tomo copo d'água que está na minha mesa de cabeceira e desço para tomar um café da manhã reforçado, não só porque estou de ressaca, mas porque preciso estar bem alimentada para aguentar o dia de hoje. No dia dos Grammy eu quase desmaiei de fome no meio da produção, tiveram que me deitar com pernas para cima e colocar sal debaixo da minha língua para eu não cair durinha e depois fizemos uma pausa, que quase nos causou um grande atraso, para eu almoçar.

Agora, acordada e sofrendo com dor de cabeça, eu me arrependo de ter saído e bebido ontem, talvez não tenha mais o pique de ontem. Porém tenho uma justificativa plausível: Allie, minha cunhada, está na cidade e acabou de terminar o namoro, então não podia deixá-la entediada num quarto de hotel. A princípio, íamos apenas jantar, mas de lá Sean disse que estava rolando um evento no Delilah e tomamos a péssima decisão de ir.

Eu não bebi tanto, só três drinks com gin, mas pela ressaca que estou tendo parece que tomei a garrafa inteira sozinha. O pior é que não é só uma dor de cabeça, estou enjoada e sentindo dores em algumas regiões do meu corpo, principalmente meu abdômen, como se eu tivesse feito mil abdominais seguidos. Para não ter problema mais tarde, tomo um zofran e rezo para melhorar.

Tomo um banho, volto para a cama e só acordo de novo quando a equipe de produção chega.

"Era só o que me faltava!", exclamo assim que experimento o vestido.

Há algumas semanas atrás ele caiu como luva no meu corpo, destacou meus ombros e os músculos da minha perna. Agora a única coisa que está destacando é minha barriga, estou super inchada, mas provavelmente é resultado de não ter comido bem nos últimos dias e faltado academia.

Começo a repensar minha ida ao evento. Sean já está pronto me esperando na sala junto com Allie, acho que seria muita sacanagem cancelar assim em cima da hora, então mantenho meu compromisso, mesmo que esteja me odiando.

Desço para a sala de elevador, o cúmulo da preguiça, mas o vestido é colado até a canela e o salto bem alto, como não estou podendo brincar muito com a sorte, melhor prevenir do que remediar.

"Uau, você está linda, meu amor!", Sean fala assim que me vê. Um elogio assim melhoraria minha autoestima normalmente, mas é meu namorado, então não conta. É tipo elogio de mãe.

"Não estou não, estou me sentindo horrível, mas agradeço a tentativa de melhorar meu dia.", cumprimento Allie, já que não a vi hoje ainda, e depois vou até meu namorado, que me recebe com um abraço apertado e um beijo na cabeça. Tenho vontade de chorar, porque eu estou feia demais para ele, e ele é fofo demais.

É serio, meus olhos começam a lacrimejar e eu tenho que pegar um lencinho para não estragar a maquiagem. Odeio chorar. Sean me olha confuso, sem entender a tristeza repentina, mas sua irmã explica que é coisa de mulher. Saímos a caminho do evento e eu tento relaxar nos quase trinta minutos até o Dolby Theatre, na calçada da fama.

Quando descemos da van está tudo um caos, minha cabeça explode de dor e eu mal consigo raciocinar o que estão falando. Poso para algumas fotos com Sean, mas os flashes e gritos acabam comigo, mesmo estando quase dopada de remédio, então entro no teatro e fico esperando ele e sua irmã no assento separado para a gente.

"Está melhor? Quer comer algo?" Uma das assistentes designadas para a gente pergunta e eu agradeço, mas recuso. Ainda estou nauseada e não quero correr o risco de vomitar no meio do evento.

"Amor, não vou ficar chateado se você achar melhor voltar para casa mais cedo. Já deixei John avisado."

Eu realmente não sei o que fiz para ter um namorado com Sean, mas deve ter sido algo muito bom para ele ser tão perfeito. Mesmo assim eu dou meu máximo para ficar, pelo menos até uma das categorias dele serem anunciadas, quero comemorar ao seu lado caso ele vença, mas se for o contrário sei que vai precisar de um acolhimento. Algumas categorias importam mais para ele do que outras, a que ele está mais ansioso é música do ano pela música que cantou no aniversário de Anna. Ela foi lançada logo depois e chegou a ganhar disco de diamante triplo, então a expectativa para o prêmio hoje é alta.

Sean segura minha mão quando anunciam seu nome em seguida dos outros artistas e no intervalo de tempo que os apresentadores tem para ler o nome do vencedor, minha mão já está branca, sem nenhuma circulação sanguínea. Então quando exclamam seu nome e as câmeras focam nele, eu tenho um sorriso de orelha a orelha, esquecendo até da dor de cabeça infernal.

Pena que assim que ele sobe ao palco o enjoo volta com tudo e eu preciso correr para o banheiro mais próximo, para vomitar praticamente bile, já que não comi direito o dia todo. Nem espero o final do evento para ir embora. Não quero que ninguém me veja passando mal e comecem a fazer burburinho.

Quando chego em casa me auto medico e deito na cama com minha mãe, que faz carinho nas minhas costas para eu relaxar. É uma das minhas coisas favoritas desde pequena e uma das que eu mais sinto falta hoje em dia, com a vida adulta e desde que ela foi promovida a editora chefe da revista. Agora mal tem tempo para a gente, mas não posso reclamar, ela sempre faz o melhor para ficar com a família.

"Ai, como amo o Bruno Mars! Esse foi merecido demais." Ela comemora quando ele ganha na categoria de Artista R&B do ano.

"Realmente, o álbum novo é muito bom." Continuamos assistindo a premiação, esperando o momento que vão anunciar Sean de novo.

Minha mãe sempre dá um jeito de assistir os eventos que ele participa e depois liga chorando, feliz pelas vitórias. Ele está no auge de sua carreira, então tem sido nomeado para bastante coisa e leva a maioria dos prêmios para casa. Não sei quanto tempo isso vai durar, nem ele, mas aproveitamos enquanto dá tempo.

"É agora, acho que essa é a última categoria dele." Ela para de coçar minhas costas e levanta da cama. Fica andando de um lado para o outro enquanto não anunciam o vencedor. Eu rio com a cena toda, até parece que é ela que está sendo indicada. "Ai paizinho do céu, por favor, por favor!"

Quando repetem o nome dele, até grito de alegria ela dá. Me puxa da cama e me balança, pulando. O que é uma péssima ideia, porque volto para o banheiro. Agora a minha janta está fora do corpo e eu preciso de outro banho para me sentir menos nojenta.

"Bella, acho melhor irmos ao médico. Isso não é normal, uma ressaca não pode te fazer vomitar tanto assim, deve ser uma virose."

"Vou dormir e se não tiver melhor amanhã eu vou na emergência."

Volto para o quarto e não espero Sean chegar, coloco uma música calma em volume baixo e faço o que combinei com minha mãe.

Uma Estrela Para Chamar de MinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora