Dois

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A casa é aconchegante e, diferente da festa dos meus amigos, está mais vazia. Tem umas dezenas de pessoas, mas nada muito lotado. Vou direto para a cozinha, para pegar uma cerveja. Sean fica na sala conversando com uns amigos e minha irmã se anima com a mesa de beer pong.

"Curti o tênis." Um cara de cabelos compridos e barba curta diz, enquanto me entrega uma long neck. "Prazer, me chamo Roy." Ele tem cara de gostar de tocar violão e fumar um nas horas vagas. Sorrio como forma de agradecimento e com a minha análise. Ele é o próprio estereótipo de um californiano. Achei ele fofo, mas prefiro morenos com carinha inocente e, de preferência, sem ou com pouca barba.

"Isabella, valeu pela cerveja." Cumprimento-o de volta. "Se não for muito intrometida, que shampoo você usa?"

"Sabão de coco." Óbvio que ele ia usar qualquer coisa, Deus prefere os homens. Eu gasto milhares em produtos de tratamento e o cara usa algo que nem é feito para ser usado no cabelo.

Saio da cozinha e procuro por algum lugar com menos pessoas. Não conheço absolutamente ninguém e ainda estou um pouco sóbria demais para sair conversando com pessoas aleatórias. Não estou muito afim de socializar com desconhecidos agora, então encontro um canto para sentar na varanda e aproveitar a tranquilidade do barulho do mar. Amo ter esses momentos sozinha, só eu e meus pensamentos.

Percebo uma pessoa escondida no final da escada do deck, com os pés na areia. É Sean. E na dúvida entre continuar sozinha ou talvez atrapalhar algum momento de reflexão dele, decido sentar em uma das espreguiçadeiras e finjo que não o vi. Fico um tempo deitada, relaxando, até ele me notar.

"Ei, tá curtindo ficar sozinha?"

"Às vezes não há nada melhor do que relaxar enquanto se toma uma cerveja. E você, tá refletindo muito ai?" Ele sobe e se senta num cantinho perto de mim. Quando sua pele encosta na minha, sinto um arrepio.

"O som do mar me acalma, por isso amo Malibu. Minha gravadora fica aqui e sempre que preciso buscar inspiração passo uns dias por esses lados."

"É realmente muito bom, ando tão agitada que não tenho tempo de apreciar momentos assim."

"Você está no último ano, né? Está tudo uma loucura?"

"Acho que loucura é apelido. Estou numa corrida contra o tempo para conseguir manter minhas notas excelentes e ainda fazer algumas atividades extracurriculares. Me inscrevi num estágio para uma marca de roupas local nas férias, quase não parei em casa."

"É complicado mesmo, o meu último ano foi o mais louco de todos. Estava começando a ganhar notoriedade, tive que sair da minha escola e começar a ter aula em casa, assim meu tutor conseguia me acompanhar nas viagens para shows."

"Caraca, não consigo nem pensar em como deve ter sido isso. Com a mudança, tive que trocar de escola e ainda estou me adaptando ao ensino dessa nova. Mas pelo menos no quesito social estou bem."

"Tudo no seu tempo, você parece estar indo muito bem." Ele apoia a mão na minha perna, como uma forma de me reconfortar. Fico tensa com seu toque, acho que ele também, porque ficamos um tempo em silêncio depois disso. Não posso ser a única a sentir as faíscas quando nos encostamos. Ele nem me conhece, não precisava falar nada disso, então fico realmente feliz com suas palavras.

"Você curte que tipo de música?", pergunta quebrando o silêncio.

"Um pouco de tudo, sou bem eclética, mas amo hip hop, pop e clássica."

"Clássica?" Sean junta as sobrancelhas, parecendo surpreso.

"Eu fiz ballet por praticamente toda minha vida. Parei há 1 ano e meio, por causa do meu joelho, mas sou até formada."

"Legal! E sinto muito pelo seu joelho." Eu rio, não me importo muito com esse fato, provavelmente não seguiria carreira, então não me atrapalhou muito. "Posso te perguntar uma coisa?" Agora está mais sério. Fico com medo de seu pedido, mas respondo que sim. " Viajo amanhã, mas voltarei para Los Angeles no final de semana. Você iria a um encontro comigo?"

A cerveja desce tão dura que eu engasgo

Encontro? Com Sean Scott?

O mundo não gira, ele capota. Já conheci diversas celebridades, algumas que até me arrependi, mas nunca pensei que conheceria Sean Scott e que ele se interessaria em mim a ponto de me convidar para sair.

"Depende, você vai me levar aonde?" Apesar de estar nervosa, não deixo transparecer.

"É uma surpresa, mas você vai gostar." Sua resposta me aterroriza.

Odeio surpresas.

Aceito o convite, na verdade estou bem honrada. Um cara como ele deve ter milhares de mulheres lindas aos seus pés, porque ele iria querer sair comigo? Não que eu me ache feia ou insuficiente, muito pelo contrário, mas não passa na minha cabeça que não tem ninguém melhor que eu para sair com ele.

Ficamos mais um tempo do lado de fora, conversando. Quando voltamos para a sala, ele me apresenta a seus amigos e posso dizer que todos são tão gente boa quanto ele. A vida é assim, se você é uma boa pessoa, vai ser rodeado de boas pessoas também, é como se fosse um carma. Jogamos beer pong em dupla contra Anna e Roy, apesar da perda feia, não me importo. Foi uma boa desculpa para trocar flertes e toques físicos. Termino um pouco suada, estou morrendo de calor e ainda nem nos beijamos.

Por falar em beijo, quem acaba a noite bem é minha irmã. Depois do jogo, ela sai para a cozinha e Roy vai atrás. Só nos encontramos novamente quando John chega para nos levar embora, tenho que procurá-la pela casa inteira, e acho ela agarrada com Roy em um dos quartos. Sentamos no banco de trás do carro e Sean faz questão de me espremer no banco do meio.

"Você não vai dar para trás no nosso encontro?", ele cochicha em meu ouvido um pouco antes de descer, provocando borboletas na minha barriga.

Meus filmes de romance clichezão estão vivos sim, graças a Deus.

"Estou começando a repensar a ideia já que não quer contar onde vai me levar.", cochicho de volta e ele me olha sério. "Brincadeira, não vou dar para trás." Sean dá aquele sorriso discreto de novo, que é a coisa mais fofa do mundo, e me rouba um selinho. Anna suspira alto, chocada. "Tchau Bananna, foi um prazer te conhecer. Se quiser ir a qualquer show meu é só falar com sua irmã, ela tem meu telefone." Minha irmã me olha extremamente séria e eu sei que é porque eu contei para ele o seu apelido, mas eu ainda estou sem reação com o beijo que ele me deu.

"Izzy não acredito que você contou para ele! Que vergonha.", ela bufa.

"Tudo bem, Bananna é um nome bem autêntico, eu gosto. Assim como Izzy.", ele implica um pouco mais e ela sorri amarelo.

Quando fecha a porta, eu solto toda a respiração que prendi nesse tempo. Pego uma água na geladeirinha e engulo praticamente tudo de uma vez, me engasgando.

"ELE TE BEIJOU! PORQUE VOCÊ NÃO ME DISSE QUE TINHAM FICADO?" Anna grita e eu tapo sua boca.

"A gente não ficou, ele acabou de roubar um beijo meu. Não sei se me sinto lisonjeada ou violada."

"Deixa de ser dramática Isabella, Sean Scott acabou de te beijar e você está dizendo que se sentiu violada? Ele é Sean Scott, o cara mais gato e talentoso do mundo." No caminho inteiro de volta para casa fico ouvindo ela falar em como ele é perfeito, e que foi o melhor dia da vida dela, e que eu sou muito sortuda por ele ter me chamado por um encontro.

"Anna, preciso que você pare de falar. Minha cabeça está prestes a explodir."

"Enfim, ele é muito fofo, nem acredito em tudo que aconteceu."

Uma Estrela Para Chamar de MinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora