Passaram dois dias sem aula após o ocorrido com a senhora Teresa. No terceiro dia, no entanto, a escola convidou os alunos para prestar homenagens a professora e tentar ver como agiríamos voltando ao local que havia acontecido o incidente.
Nesse tempo em que fiquei em casa, Benedict não apareceu nenhuma vez. Ele era amigável quando precisava, mas não parecia querer ficar muito comigo. Parte de mim dizia que era óbvio que ninguém além dele poderia ter matado Teresa, mas a outra parte dizia que de certa forma os problemas estavam resolvidos agora. Poderíamos finalmente ter outra professora, uma que se preocupasse com os alunos, uma que me ouvisse e me protegesse como professora conselheira da sala, para eu não ter que passar pelo o que Teddy e Carson fazem comigo nunca mais.
Estava pensando sobre isso no canto da quadra quando reparei as meninas do outro lado, todas choravam muito enquanto penduravam fotos da professora, todas exceto Ann, ela olhava para mim.
Ann era linda, e também minha paixão desde a infância quando brincávamos no quintal da casa dela, ela dividia até mesmo seus brinquedos favoritos e adorava brincar de montar pistas de corrida com terra para os meus carrinhos, mas uma vez os pais dela ouviram sobre o meu pai e proibiram Ann de conversar comigo. Eu nunca soube se ela ainda tinha vontade de voltar a falar comigo, mas desde o ocorrido a dois anos atrás, mesmo estando na mesma sala que eu, ela não costumava me dirigir o olhar. Mas agora lá estava ela, olhando para mim. Acenei e fui em sua direção.
— É muito triste o que aconteceu com a senhora Teresa! — lamentou quando cheguei perto dela.
— Até um relógio parado está certo duas vezes ao dia, garota, mas você não podia estar mais errada! — comentou Benedict sentado na cadeira ao meu lado, aparecendo de repente.
— Sim — respondi rápido. Se eu ia ter a chance de conversar com Ann, não ia perdê-la falando sobre nossa ex-professora. — Mas ela não era uma boa pessoa!
— Ainda sim! — Ela exclamou em voz alta.
— Será que podemos conversar? No segundo andar, daqui a dez minutos?
Aquela podia ser a única chance que eu teria de falar com Ann, pois em breve ela assumiria como representante de sala e seria tão requisitada que não teria tempo. Ela consentiu com a cabeça conforme eu a observava se afastar sem olhar para trás se quer uma vez, eu tinha que valer a pena para que nossa amizade voltasse, mostrar a Ann o quanto eu gostava dela.
Contei a John aonde ia, ele me deu uma dica sobre o que falar com ela e colheu uma flor do jardim, dizendo que isso poderia alegra-la, já que a escola estava em clima fúnebre. Quando os dez minutos se passaram eu subi as escadas até o segundo andar, Ann estava lá como combinado, perto do corrimão enquanto olhava para baixo até que eu me aproximasse. Eu não sabia bem em que momento deveria lhe entregar a flor, então escondi atrás das costas e esperei que ela começasse um assunto para eu poder dizer algo bonito.
— O que você queria? — Sua voz era seca. Então tratei de mostrar logo a flor. Era uma rosa, a flor favorita de Ann, e que sua família cultivava no jardim.
— Quero que a gente volte a conversar, como era antes. A gente pode sair?
— Como era antes? — perguntou Ann.
— Sim. Como quando éramos pequenos! — falei animado.
— Eu odiava aquela época. — Ela disse apertando o corrimão.
Abaixei a flor. Aquilo não fazia sentido. Éramos felizes, não éramos?
Antes que eu pudesse perguntar, minha duvida foi respondida na próxima frase de Ann:
— Eu odiava ter que brincar com você. Ficar com você. Fiquei tão feliz quando meus pais acharam que não precisavam mais fazer amizade com os Napier, que vocês não deviam ser influentes.
— Seus pais queriam se aproximar? — perguntei confuso.
— Mas agora não preciso mais brincar com você. E muito menos conversar. Então por favor, nunca mais tente falar comigo!
— Mas, você aceitou vir até aqui. Por que não quer sair comigo?
— Você já se olhou no espelho?! É horrível. A cicatriz que tem na bochecha nem sequer é capaz de deixá-lo feio pois você já parece um alien mesmo sem ela, com esse jeito todo... — Ela balançou os braços para expressar o que queria dizer.
Ela pegou a rosa da minha mão e com cuidado para não se espetar nos espinhos, a despetalou e jogou bem a frente dos meus olhos antes de se virar para descer as escadas.
Ann era a pessoa que eu mais considerava, faria tudo por ela e sempre achei que seria o mesmo de volta, mas ouvir aquelas palavras me machucaram, então enxugando as lágrimas eu disse:
— Resolva isso, amigo.
Benedict apareceu vindo caminhando em minha direção.
— Ann parece ser o tipo de pessoa que iria maltratar muitos corações. Ainda bem que você escolheu de forma sábia. — Então sem aviso ele desceu as escadas, me deixando sozinho com meus pensamentos.
Desci a escada um tempo depois quando me senti melhor. Na metade do caminho reconheci algo que não queria. Ann estava caída na escada, em uma posição nada agradável. Suas pernas e braços dobravam em um ângulo estranho e haviam vários hematomas roxos por seu corpo, de certo por causa da queda, e quando me aproximei eu vi seu pescoço dobrado para trás um degrau acima do corpo, seu cabelo tampava o rosto que revelava os lindos olhos azuis claros estáticos e a boca arroxeada. Terminei de descer as escadas, olhei aborrecido para o corpo da Ann e segui o meu caminho fora dali.
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Sujas de sangue
HororMax Napier tem uma chuva de problemas que sempre rondam ao seu redor, seu pai tem um segredo que reflete em si, o garoto tem uma cicatriz e ainda sofre bullying todos os dias na escola. Querendo resolver tudo, ele acaba decidindo fazer um ritual de...