Lorena Bernardi

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Desço a escada, degrau por degrau, e a cada um deles o meu coração acelera mais ainda.

Eu me sinto como se estivesse sendo encaminhada para a morte, porque esse não é o destino e nem a vida que sonhei para mim.

Passei anos estudando, treinando, mantendo uma rotina impecável para alcançar meus objetivos de vida, me dividindo entre meus treinamentos no hipismo e a faculdade, para que, no fim, terminasse assim, noiva de um homem que conheço só de ouvir falar.

O pior é que tudo o que ouvi foram as coisas mais horrendas que ele fez em nome da Cosa Nostra.

É um destino muito triste para uma mulher que não foi criada para isso, afinal tenho sonhos, uma vida toda pela frente, e me sujeitar a isso de boca fechada está acabando comigo.

Tudo porque cruzei, mesmo que sem querer, o caminho desse monstro.

— Don Riccardo, essa é a minha filha, Lorena.

Nosso Don está sentado na poltrona do meu pai, como se ele fosse o rei da minha casa e isso faz com que fique mais indignada ainda com a situação toda.

O pior de tudo é que o infeliz é lindo.

Tinha que ser tão lindo assim?

Inferno!

— Já tive o despra...

— Só fale quando a palavra for dirigida a você, Lorena — meu pai me interrompe, me tratando de uma maneira que nunca fui tratada antes.

Dio me dê todo o autocontrole que preciso.

— Mas, pai...

— Lembre-se do que falei no seu quarto, comporte-se.

Travo o maxilar e engulo em seco para não responder meu pai na frente de um homem que é completamente estranho para mim.

— Fico feliz em ver que de algum jeito ainda tem controle sobre a sua filha, Félix.

Encaro o homem à minha frente e demonstro todo o meu desprezo por ele, por sua presença na minha casa.

— É claro que tenho, senhor. Lorena é uma boa garota, ela sabe se comportar e receber ordens quando é preciso.

Agora viro o olhar na direção do meu pai.

Não posso abrir a boca porque a porra da palavra não foi dirigida a mim, então, tudo o que ele recebe é o meu olhar raivoso.

Mas isso não o assusta, é claro.

— Espero que ela seja assim mesmo, Félix, nós dois já tivemos a nossa conversa mais cedo e creio que por enquanto nada precisa ser dito.

— Não, senhor, entendi tudo. Agora vamos até à cozinha, Don Riccardo, o jantar já está servido. Rosa cozinha muito bem, o senhor vai gostar.

Ele não fala nada, apenas se levanta e meu pai indica o caminho me fazendo segui-los.

Quando chegamos à cozinha o cúmulo do absurdo acontece, meu pai puxa a cadeira da cabeceira da mesa para que o Don se sente.

— Pai...

— Quieta e sente-se ao lado direito do seu noivo.

Chego a sentir um tremor percorrer meu corpo.

Deus me ajude porque eu, realmente, não posso abrir a minha boca, ou algo de muito ruim vai acontecer, então, obedeço à ordem do meu pai mesmo contra a minha vontade.

— Sirva o jantar, Rosa — papai ordena se sentando na outra extremidade da mesa.

Rosa obedece sem abrir a boca e pelo que estou vendo, ela não vai se sentar à mesa conosco.

[DEGUSTAÇÃO]A Escolha Dele: Série Caminhos Cruzados livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora