Capítulo 11

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Na sexta feira o casal era pura felicidade quando andava pelos corredores do orfanato até a sala onde Luzia estava. Stênio não solta a mão de Helô durante todo o caminho até lá, e mesmo sabendo que o advogado está fazendo isso principalmente por si mesmo, ela ainda é grata. A assistente social fez com que assinassem a última papelada e informou que receberiam uma visita a cada dois meses para observar a progressão e adaptação de Luzia a eles e a sua nova casa. E se em um período de um ano nenhum familiar aparecesse para reclamar a guarda poderiam seguir com o pedido de adoção

- Helô - Stênio diz enquanto a puxa para mais perto do berço - Você quer pegá-la primeiro? - Ele pergunta, e a delegada normalmente diria ao ex para ir primeiro, mas há algo nos olhos de Stênio que diz a ela que ele sabe que Helô está morrendo de saudades de ter sua filha em seus braços.

Soltar a mão de Stênio torna tudo muito mais real, estar sem seu alicerce fazia suas pernas bambearem um pouco. Mas ela era uma delegada e não iria mostrar fraqueza, tem suas duas mãos livres agora porque está prestes a pegar sua bebê.

Assim que ela olha para a pequena Luzia, o coração de Helô parece que se enche de amor e depois transborda. Ela não pode evitar as lágrimas que brotam de seus olhos, e só se importa com elas porque isso significa que sua visão embaçada não a deixará ver sua bebê tão claramente quanto ela gostaria.

- Oi, pequena. Ainda se lembra de mim? - Ela se ouve dizer, mesmo que não planejasse falar, enquanto seus braços se estendem e a pegam. Luzia é embalada em seu peito, e como se a entendesse ele funga e fica a encarando com um enorme sorriso

As lágrimas de Helô caem livremente agora, enquanto ela embala lentamente a bebê. Suas mãos são tão pequenas, mas tentam agarrar a jaqueta da delegada, puxando-a com força. Quando Helô ri, tão impossivelmente apaixonada, Luzia ri também, seu grande sorriso desdentado.

É só então que Helô escuta uma fungada, e levanta a cabeça para olhar para Stênio, que tem lágrimas rolando pelo rosto enquanto olha para elas, tentando capturar o momento mesmo que o celular esteja tremendo tanto por causa de suas lágrimas.

Não deveria ser possível que Helô ainda carregasse tanto amor em seu corpo, mas ele vê seu marido, pois ele nunca deixaria de ser seu marido, ali, olhando para elas como se fossem seu mundo inteiro, e seu coração cresce mais, enchendo todo o peito.

- Venha cá, amor - Helô diz e Stênio ri antes de ir, descansando a cabeça no ombro da mulher e envolvendo um braço em torno de Luzia, que ainda está distraída com a roupa da mãe.

- Como você cresceu! - Stênio diz acariciando o rosto dela gentilmente - Está ainda mais linda do que eu me lembro

Helô sorri quando a garotinha para e pisca levemente, olhando-a como se enxergasse sua alma e sensação que tem é que de fato ela enxergava - O que você está olhando? - Ela exclama a fazer carinho no rosto da garotinha e nota ela a fecha os olhinhos, gostando do toque do pai e imediatamente ela sente-se intensamente grata por ter a chance de viver cada simples e pequeno momento como este. Era insano pensar que já havia passado semanas desde conheceram a pequena, aqui com ela no colo parecia que havia sido a apenas um dia, e ao mesmo tempo a sensação que tinha era de que Luzia sempre esteve em sua vida, não conseguia recordar-se de si sem a presença e sem o amor que sentia pela garotinha em seus braços - Obrigada por me escolher, tudo tem muito mais sentido com você - Ela sussurra para a filha

- Vamos pra casa meus amores? - Stênio pergunta baixo, com medo de invadir aquele momento de conexão entre a mulher e a filha

- Eu queria apresentar a Lulu para uma pessoa antes - Helô olhou para ele em busca de aprovação, rezando para que ele entendesse onde ela queria chegar sem ter que dizer aquelas palavras em voz alta

Por um momento, Stênio se lembrou da jovem com quem se casara, que o procurava em busca de aprovação e orientação em sua nova vida. Mas ele aprendeu rapidamente que precisava ainda mais da orientação dela, especialmente quando se tratava de seu coração. Ele sabia onde aquela conversa chegaria, mas estava pronto, era o momento de enfrentar isso juntos, como uma família. Stênio ofereceu a ela um pequeno sorriso enquanto uma nova lágrima descia por sua bochecha - Eu dirijo

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Quando chegaram ao cemitério estacionam o mais próximo da lápide de Drika. Estava tudo como Helô tinha deixado da última vez exceto por alguma galhos e folhas seca caídas que ela trata logo de retirar dali, já que Stênio está segurando a filha mais nova no colo

- Eu sei que aqui é o último lugar para trazer um bebê, mas eu precisava vim te visitar, te deixar flores e dizer que ainda sinto sua falta, e que não vou te apagar da minha vida, pois não dá para remover um filho da nossa vida, eu ainda te amo e eu vou te amar para sempre, mas eu precisava dizer que está tudo bem e que você agora é irmã mais velha.

Nesse momento, Stênio se aproxima com a pequena e pega uma de suas mãozinhas e balança em um aceno. Ele se abaixa para conversar com a lápide da filha como costumava fazer sempre que a visitava e sorri com os olhos marejados - Oi Drika, essa é a Lulu, sua irmãzinha. Eu sei que você sempre pediu uma irmã mais velha, mas sua mãe nunca me deixava fazer todas as suas vontades, então Lulu veio de presente atrasado

Helô ri atrás dele secando suas lágrimas - Eu tenho certeza que ela vai te amar tanto quanto eu e seu pai a amamos. Por favor fique de olho na sua irmãzinha ai de cima - Luzia que até o momento apenas observava tudo em silêncio começa a balbuciar como se estivesse também se apresentando para a irmã

Eles ficam ainda alguns minutos no cemitério contando as novidades para a primogênita, ainda doia muito, mas de alguma forma os três juntos ali faz com que a dor pareça um pouco menor. Stênio caminha de volta ao carro e sorri secando as lágrimas ao ver Luzia dormir ao ser colocada na cadeirinha mexendo a boquinha como se ainda estivesse batendo um papo

Ele dá a volta para se aproximar de Helô a abraçando, suas mãos na cintura dela puxando-a para perto de suas testas se tocando e eles permanecem em silêncio. Seus dedos roçam os dela. Ela pega a mão dele. Um aperto reconfortante passou entre eles, beijo na boca e eles se afastaram. Suas mãos ainda entrelaçadas

Com isso, Helô beijou sua bochecha e passou os braços ao redor dele, descansando a bochecha no peito de Stênio. Ele colocou seus próprios braços ao redor dela e respirou profundamente o cheiro de seu cabelo - Obrigada por me dar essa família Stênio - Uma vida sem Drika nunca mais seria a mesma, mas também sabia que eles haviam dado um passo em direção ao outro para construir algo novo.

Na soleira da portaOnde histórias criam vida. Descubra agora