Inimigos Não Se Apaixonam | ✓

43 | Stage 1, denial

SCARLETT HARMON

Eu entendi tudo o que ele está passando, passei por isso quando minha mãe morreu. É o estágio do luto, em algumas semanas a dor vais era mais forte. Pois é aí que ele vai na real, percebe que não vai mais ter a pessoa, percebe que tudo era real e agora terá que aprender a viver com aquela dor. Pois a dor é assim, ela faz você se acostumar com ela, nunca vai embora. Apenas, você se adapta.

Levantei cedo, percebendo que ambos ainda estavam dormindo. Saí pé por pé para não acordar Kenny, desci as escadas e abri as cortinas. Deixando a claridade entrar na sala e na cozinha. Abri as grandes janelas de vidro, sentindo o sol da manhã. Esbocei um sorriso, sol sempre costumava me deixar feliz quando meus problemas eram roupas, garotos e acabar com o casamento do meu pai e Magnólia. Ainda não acredito na mudança drástica que aconteceu em minha vida, ainda não superei tudo o que aconteceu.

Caminhei até a cozinha, já estava toda impecável. Eu havia dispensado a empregada ontem à noite, mas se não fosse ela tudo isso estaria uma zona igual está dentro da minha cabeça.

Fui até o armário e peguei farinha, açúcar, fermento e essência de baunilha. Coloquei na bancada de mármore, logo pegando ovos e leite na geladeira de portas duplas.

Liguei meus fones de ouvido, colocando uma música baixa onde o som da Hades de voz era a única coisa que eu ouviria enquanto estivesse de fones. Suspirei, misturando todos os ingredientes.

— 280 gramas de farinha, 240 mililitros de leite, 120 mililitros de óleo, 40 gramas de açúcar... — murmurei, enquanto adicionava cada coisa cuidadosamente. — 2 ovos e duas colheres de fermento e por último, uma colher de essência de baunilha. Misturei tudo à mão para não acordar os meninos, fiquei por alguns minutos batendo até que estava no ponto certo.

Coloquei a massa na mini máquina de waffle, quando estava pronto, coloquei em um prato e corte um pedaço de manteiga para colocar por cima. Mais uma calda de caramelo e frutas. Deixei de lado e terminei de fritas ovos e bacon, na cafeteria coloquei duas xícaras de capuccino. Para Kenny, fiz uma mamadeira com cacau em pó e leite.

Coloquei todas as coisas em uma bandeja e subi as escadas cuidadosamente, tentando não virar tudo e principalmente não acordá-los antes que eu cheguei ao quarto.

Empurrei a porta e chamei-os pelo nome. Coloquei a bandeja no meu lado da cama e beijei o rosto de Kenny, vendo seus olhos azuis se abrirem aos poucos. Ele fez um semblante de choro, mas apenas esfregou os olhos e virou-se para o outro lado.

Depositei alguns beijos em Hades, sussurrando seu nome. Eu sei que não era isso o que ele queria, um café da manhã romântico na cama. Mas é o que posso lhe oferecer em meio a sua dor. Vou tentar ser o mais compreensível possível, tentar fazer tudo o que eu gostaria que fizessem por mim. A atenção que eu gostaria de ter recebido quando minha mãe morreu.

— Bom dia, gatinha — murmurou ele, também esfregando os olhos e bocejando. Eu sorri, vendo seus cabelos bagunçados e as bochechas levemente vermelhas. — Uau!

Ele pegou a xícara com capuccino na mão, dando um gole do mesmo. Coloquei a bandeja no meio da cama, assim que Kenny sentou-se ao lado de Hades e pegou a mamadeira. Tomando tudo em questão de segundos, alcancei o prato com waffles para Hades e peguei um pra mim.

— Que horas são? — ele perguntou. Procurando por seu celular ou algum relógio perto.

— 10:20 — avisei, olhando em meu relógio de pulso. Deixei o celular dele no andar de baixo, não quero que ele pegue agora. Pois vai entrar nas redes sociais e a primeira coisa que vai aparecer é sobre Magnólia. Ele vai entrar no whats e as mensagens de "sentimentos a família" estarão lá? Em qualquer lugar que ele olhei agora, ele vai lembrar dela. Vai lembrar que foi real e que ela realmente está morta.

Coloquei um desenho para nós, Kenny ficou em silêncio assistindo. Observei os dois, eles são tão parecidos. Ambos estão prestando atenção no desenho animado, enquanto comem seus waffles e pegam algumas frutas na bandeja.

Nós passamos a manhã juntos, até mesmo Kenny quietinho. Ele parece tão calmo, Hades também parece. Mas sinto que quando olho para ele, seu olhar está perdido. Seus pensamentos é o que são presentes em sua cabeça nesse momento. Talvez não esteja falando nada por consideração a mim que pelo menos tentei fazer algo bom, tentei mostrar que me importo, que estou aqui para ambos. Mas é difícil, difícil ouvir Kenny perguntar por Magnólia, difícil ter que dizer na frente de Hades que ela não está mais entre nós.

"Ela está morando com o papai do céu agora" é a frase mais dolorosa que tenho que dizer. Pois sinto a dor dos dois, e mesmo que Kenny não entenda muita coisa. Ele sente a falta dela, sente a tristeza de Hades.

— Nós podemos fazer uma viagem, o que acham? — tentei animar meus meninos, mas apenas Kenny abriu um sorriso. Hades balançou a cabeça em afirmação.

— Já viajamos o mundo...

— Mas não com Kenny junto — murmurei, fazendo carinho nos cabelos loiros do mais novo.

— Eu quero passear! — Kenny disse, como se fosse uma ordem. Hades e eu olhamos para ele e rimos, ele é tão pequeno, mas está agindo como se fosse adulto já.

— Então vá fazer suas malas, partiremos amanhã — disse o loiro, bagunçando os cabelos de Kenny, vendo-o soltar gritinhos de felicidade.

Logo nosso garoto estava fora do quarto, então Hades abriu os braços e me aconcheguei em seu abraço. Sentindo seu perfume, sentindo como se tudo estivesse bem. Não está nada bem, mas essa falsa segurança é boa.

— Vai ficar tudo bem, amor — sussurrei, assim que ele levantou meu rosto com seu indicador no meu queixo.

— Graças a Deus eu tenho você, Scarlett. — Hades sorriu, senti meu coração aquecer por alguns instantes.