imigrante.

127 18 2
                                    


eu fugi da minha própria arquitetura.
sou um museu posto em chamas de propósito,
sou uma runa repleta de hieróglifos que prefiro não saber ler.
e eu fugi da minha própria cultura.
sou um quadro deixado para trás na correria da fuga,
sou os hábitos esquecidos pois os do exterior pareciam melhores.
e eu fugi da minha própria natureza.
sou uma terra que aleguei ser infértil,
sou o fenômeno da natureza que lá no estrangeiro não acontece.

eu quis ser imigrante.
eu quis fugir num bote, nem que fosse furado,
navegando para longe da minha costa, em direção a você
na esperança de uma vida melhor,
na esperança de ter o amor que eu não encontrei no meu antigo lar,
na esperança de apagar tudo o que eu fiz e tudo o que fui antes de decidir migrar.

mas como eu vou aprender uma segunda língua se eu sequer sei uma primeira?
como eu vou sentir amor lá fora se eu nunca ensinei meu coração a recebe-lo?
por que eu busquei estudar os seus museus enquanto ateava fogo na minha própria história?

como eu vou esperar ser amada do outro lado do oceano
se nem na minha língua materna eu sei como se pronuncia amor?

- amar a si mesma antes de querer ser amada.

༼ 𝐓𝐄𝐎𝐑 𝐏𝐎𝐄𝐓𝐈𝐂𝐎 ༽ 𝑝𝑜𝑒𝑠𝑖𝑎 𝑒 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑜𝑠Onde histórias criam vida. Descubra agora