𝐅𝐈𝐕𝐄

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As coisas estavam complicadas para o seu lado. Depois de sair da enfermaria, foi pegar sua mochila na sala de aula que agora estava vazia. Todos já haviam ido embora e somente você estava naquele lugar, se sentia fora de órbita e meio zonza pelo ocorrido. Ainda não sabia porque havia agido daquela forma, era óbvio que você iria apanhar do garoto e ainda sim, bateu boca e de brinde, levou um soco na cara.

Seu celular estava no bolso do seu casaco, havia duas ligações perdidas da sua mãe, provavelmente avisando que não poderia lhe buscar. Saindo da escola, pensando que a situação não poderia ficar ainda pior, uma chuva forte com ventania começa. Encarando o céu com os olhos vazios e inchados, você se perguntava o que havia feito de errado, por que tudo aquilo estava acontecendo com você tudo no mesmo dia? Tomando impulso, você começa a andar pela chuva vagamente, as gotas da chuva pareciam facas cortando levemente seu rosto e causando arrepios torturantes no corpo, mas você não ligava, afinal, seu dia já estava uma bosta e se conformou com isso.

Chegando em casa depois de duas horas andando na chuva, você sobe para o quarto e entra no banheiro, apesar da água está apelando de quente, ainda sentia frio e dormência nos pés. Enquanto enxugava os cabelos platinados, você se encara no espelho, havia um corte na boca e o local onde o garoto tinha lhe dado o soco, estava levemente roxo. Até pensou em passar maquiagem no rosto para sua mãe não perceber e perguntar o que era aquilo, mas que diferença ia fazer? Ela mal ficava em casa por conta do trabalho e dos documentos da casa que ainda não estavam completamente prontos. Que diferença faria se escondesse ou não o hematoma?

Sentada na cama, encarando o chão com o tapete roxo em forma de estrela, você sobe o olhar lentamente para cima e vê sua guitarra pendurada na parede. Caminhando até ela, passa a mão levemente no instrumento que trazia memórias dolorosas da sua antiga escola. Não sabia porque, mas depois que saiu da escola nunca mais conseguiu tocar uma música sequer na guitarra roxa com branco, tinha alguns desenhos da Kuromi e algumas estrelas brancas com detalhes pretos espalhados pelo instrumento. Fazia quanto tempo desde que se sentiu a vontade fazendo o que lhe fazia bem? Desde quando começou a viver automaticamente em vez de se divertir com sua guitarra, tocando no volume máximo, enquanto sua mãe e seus vizinhos reclamavam do barulho? Há quanto tempo havia mudado tanto?

Havia muitas perguntas rondando sua cabeça, se afastando da guitarra e abrindo o armário de madeira rústica ao lado do guarda roupa, você pega seu caderno de desenho e senta na cama. Música tocava em seus ouvidos enquanto desenhava por mais de duas horas, sua mãe ainda não tinha chegado e havia avisado que iria chegar muito tarde em casa, apenas mandou um "Ok." e bloqueou a tela do celular. Não tinha comido desde que chegou da escola, só desceu para a cozinha porque seu estômago praticamente a obrigou a comer.

Enquanto fazia macarrão instantâneo, seu celular começa a tocar repentinamente, tirando-o do bolso da calça moletom preta, você vê na tela que era Tighnari ligando. Um sorriso fino se forma em seus lábios e se apronta para atende-lo, a voz do garoto era claramente abusada pela puberdade, se segurava muito para não rir quando a voz do rapaz falhava ou ficava fina do nada, mas naturalmente, sua voz era extremamente calma e confortável de ouvir.

⎯⎯ Se você rir da minha voz de novo, eu te bloqueio! - exclama irritado fazendo você soltar a gargalhada que estava segurando desde o começo da ligação. ⎯⎯ Desgraçada! - diz emburrado enquanto digitava rapidamente no teclado.

⎯⎯ Só você pra me fazer rir assim. - diz limpando os cantos dos olhos que estavam lacrimejados de tanto rir.

⎯⎯ Hm... Aconteceu alguma coisa? - pergunta preocupado para a amiga que já tinha parado de rir, ouvindo um suspiro cansado do outro lado da linha, ele franze as sobrancelhas.

𝐀𝐋𝐋 𝐌𝐈𝐍𝐄, ScaramoucheOnde histórias criam vida. Descubra agora