Kristen

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Antes de meu nascimento, minha mãe era uma mulher belíssima que vivia com seus pais e suas irmãs em um povoado viking na Noruega. Muitos homens atravessavam nações apenas para ver as três filhas do Jarl de Askvoll, na comuna de Sogn og Fjordane. Entretanto, minha mãe Kristen era a que chamava mais atenção. Vários cavaleiros tentavam cortejá-la, porém sem sucesso, o pai dela já havia prometido sua mão ao grandioso Solveig, o poderoso konungr de Fedje, na comuna de Hordaland que também ficava na Noruega. Konungr era como nós vikings chamávamos nossos reis e jarl eram os governadores de certos povoados. Solveig era um senhor de quase setenta anos, viúvo e sem filhos, vivia em seu castelo e assim como todos era viking, porém já havia se cansado de tanta violência, deixava isso para seus sobrinhos Björn e Ivor que dizimavam povoados. Uma aliança entre Askvoll e Fedje havia sido feito quando uma das minhas tias-avós havia sido resgatada das mãos de Iorek Asriel, um grande inimigo de muitos vikings. Minha mãe chorou por semanas ao saber que como agradecimento ao resgate de sua tia teria que se casar com um velho. Porém não poderia ir contra as regras de seu pai, afinal de contas, meu avô era um cruel viking.

As barbaridades que meu avô cometia eram terríveis, assassinava crianças, mulheres e idosos sem dó. Minha mãe achava aquilo horrível, porém nunca se metia nas coisas de seu pai, trancava-se em seu quarto e orava por Frigga e Freya, para que uma delas intercedesse pelas pessoas que morriam. Meu avô era um viking herege que em nada acreditava, para ele os deuses eram apenas ilusões da cabeça do povo.

Um dia houve um banquete, os guerreiros de Askvoll haviam vencido mais uma de suas guerras.

- Amigos, ergam as taças! Bebamos em homenagem aos nossos homens, sangue do nosso sangue, aqueles que lutaram e perderam suas vidas hoje.

Meu avô falava erguendo a taça cheia de hidromel. Seus companheiros brindaram com ele, e um coro de vozes fez estremecerem as paredes do salão. Lá fora o vento gelado parecia cantarolar uma canção em assovio, a névoa parava sobre o reino fazendo com que o mesmo ficasse ainda mais sombrio. Apenas duas figuras agasalhadas ousavam caminhar lá por fora.

- Ora, Kristen! Pegue essa taça e beba. Sua cara não parece nada bem.

- Minha avó Ástrid comentou, seus olhos acinzentados intimidavam qualquer um. Era filha do konungr de Viker, possuía uma espécie de persuasão sobre as pessoas.

Minha mãe era uma garota que minha avó conseguia persuadir com poucas palavras, ela nada disse, pegou uma taça e caminhou até onde as duas irmãs estavam com alguns dos companheiros de seu pai. As irmãs estavam ocupadas sendo cortejadas pelos vikings, cada um mais horrível que outro, ela não entedia como duas jovens tão belas conseguiam se contentar com tão pouco. Suspirou fundo e então caminhou para fora do salão.

O frio não a incomodava nem um pouco, sentia uma enorme tristeza pelas mortes causadas por seu pai e por seus homens, desejava nunca mais vê-los. Enquanto caminhava sentiu um cheiro de terra molhada e uma brisa suave pareceu envolvê-la. Era como se alguém ou algo estivesse por perto.

O Caldeirão de YmirOnde histórias criam vida. Descubra agora