Quatro anos haviam se passado desde que saí do Brasil, e estar de volta era estranho. S.A.P parecia tão diferente de quando parti. A cidade cresceu consideravelmente, os pés de Ipês derrubavam suas flores no asfalto da grande avenida, formando um tapete roxo e amarelo.
Jurei que jamais voltaria a esta cidade após o assassinato do meu irmão, entretanto, os negócios da famiglia sempre vinham em primeiro lugar, e fazer com que a Viper ganhasse espaço no Brasil era essencial para expandir a organização.
Atrás do volante do Porsche, seguia em direção ao Morro da Águia, onde o dono repassaria minha mercadoria. Uma grande carga entraria em território nacional e eu pessoalmente iria conferir, sempre fui a favor do se quer bem feito, faça você mesmo.
Dois carros me acompanhavam, nos quais Jones, Henrique e Taylor, meus homens de confiança, faziam a escolta. Assim que paramos, bem afastados da entrada do morro, fomos recepcionados por dois vapores, armados com fuzis. O mais alto, com o cabelo pintado de amarelo, fez sinal com a cabeça para que os seguíssemos. Subimos as ruas íngremes ladeadas por casas, algumas sem reboco, outras feitas com material duvidoso e cobertas por latão, conforme chegávamos ao alto do morro, os vapores mal-encarados, varriam com o olhar o terno caro que meus soldados e eu usávamos como se estivessem prestes a nos comer vivos.
Irritado com o calor infernal e a tensão que se formava, levei a mão à têmpora massageando.
Mais alguns passos, e estávamos dentro de um barracão, onde um laboratório clandestino foi montado. Em cima de uma mesa de madeira, que ocupava boa parte da lateral do galpão, pacotes pardos organizados milimetricamente, com toda certeza comportavam quilos de cocaína. Alguns meninos transitavam por ali, com uma pistola em mãos.
— Cadê o seu chefe, guri? — a voz carregada de sotaque de Jones preencheu o local no exato momento em que o menino foi chamado pelo rádio.
— Já é, Catraca. Os mano tão aqui. — Ouvi o vapor de cabelo amarelo falando no rádio. — Tá certo. Já vou dar a ideia.
Observei enquanto o rapaz se afastava e falava algo com os caras ali, em questão de segundos a correria morro abaixo começou. Alguma coisa tinha dado errado. Cazzo!
— Zóio, cê fica aqui com o Curumim, tô descendo lá pra dar cobertura pro Catraca. — o vapor que falou ao rádio, soltou de forma nervosa.
— Rala peito, Gaúcho. Tá esperando o que, irmão? — O outro acelerou, estalando os dedos.
— Que caralho tá acontecendo? — Dei um passo à frente, ganhando a atenção dos dois.
Antes que qualquer um pudesse responder, ouvimos tiros vindos da entrada do morro. O cara, agora identificado como Gaúcho e o tal do Zóio, desceram correndo, meus soldados e eu sacamos as armas nos preparando para o confronto.
— Saia daí, chefe — a voz de um dos meus hackers invadiu o comunicador. — Invadiram nosso sistema, roubaram a localização da carga. Em menos de vinte minutos, o morro vai estar cercado. Os primeiros policiais já devem estar chegando.
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[DEGUSTAÇÃO] A Hacker e o Mafioso
RomanceQuando alguém fica tempo demais na escuridão, é provável que ela consuma cada gota de luz que um dia possa ter existido. É provável que o caos domine e o faça gostar de estar nele. E assim foi com Dylan Spencer. Conhecido na máfia como o Don cruel...