Collide

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~ você nem viu ainda o meu lado sombrio.

A primeira coisa que o pegou foram os olhos.

Como um tiro muito certeiro com a última bala que restou no cartucho de uma 9 milímetros.

Leve e preciso.

Onde quer que atinge, isso faz estragos.

Era assim que Jeff Satur se sentia naquele clube escuro e úmido, preso sobre a intensidade daqueles olhos. Colidindo.

A energia que se soltava dos corpos balançando e se roçando na pista de dança não fazia nada para melhorar a sensação.

Essa ideia foi péssima.

Ele queria amaldiçoar Apo e seu otimismo, sua capacidade de persuadi-lo a fazer coisas estúpidas.

Você precisa sair para dar um tempo Jeff. Você precisa deixar a tensão do lado de fora, talvez transar. Sexo sempre ajuda a tirar esse pau enorme da bunda.

Um monte de besteira. Jeff sabia a verdade. Tudo isso era por causa de seu primo. Tudo porque Apo queria trepar com Mile.

Jeff bufou. Ele podia sentir aqueles malditos olhos vivos em cima dele, aquecendo cada parte das suas bordas, onde quer que aquela corça deslizasse o olhar.

E ele tem olhos de um cervo. Marrons e iluminados. Do tipo que te fazem esquentar e depois derreter.

Jeff balançou o copo de whisky sem líquido, apenas as pedras de gelo sozinhas, causando um leve tilintar ao baterem nas borda de vidro, enroscando umas nas outras como aqueles corpos no cio a centímetros de onde ele estava sentado no canto escuro do bar desse clube sujo.

Mais uma dose.

Apenas mais uma e depois ele vai embora. Apo que se foda. Ele já tinha sumido há muito tempo de qualquer maneira. Também não havia rastro de Mile em qualquer centímetro desse lugar. Jeff estremeceu com a lembrança do olhar de foda que Mile estava dando para Apo no início da noite.

Adorável.

Ele não podia fazer nada sobre os vínculos de sangue familiar, mas talvez devesse escolher melhor seus amigos. Ele também deveria pensar muito bem sobre os lugares que se deixava frequentar.

Maldito Apo por coloca-lo na mira daquele olhar.

E ele sabe a quem pertencem aqueles olhos de cervo. Ele conhece cada um dos garotos, todos eles, assim que pisam no saguão principal do Conservatório.

Mas ele não ia cair nessa. O garoto não deveria ter mais que 20 anos, pelo amor de Deus.

E além disso, Jeff Satur não se envolvia com alunos.

Uma de suas duas regras vitais.

A primeira delas é a discrição.

Ele poderia contar nos dedos quem realmente o conhecia ou algumas de suas facetas mais profundas. Seu primo Mile sabia sobre algumas delas, sendo ele mesmo um dos beneficiários de uma herança de família deixada pelo excêntrico avô, que despertou neles dois suas tendências à... desviar.

Mas nem mesmo Mile compartilhava a totalidade das torções imorais de Jeff ou sabia sobre as profundezas de suas feridas, sobre a intensidade da escuridão nos lugares mais reservados dele.

Mesmo Apo, a quem Jeff considerava como um amigo próximo, não fazia ideia do que Jeff era capaz de pensar, de querer, de fazer, na privacidade dos seus desejos e suas atividades clandestinas.

Então por que aquele maldito par de olhos o fazia querer desvendar. Quebrar algumas regras. Não todas, uma só seria o suficiente. Ele poderia manter a regra da discrição intacta e sem prejuízos. Ele poderia...

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