25 - The moment.

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Sexta.

Eu passei a manhã inteira a beira de um colapso, olhando as horas no relógio de cinco em cinco minutos, mas, quanto mais rápido queremos que o tempo passe, mais devagar ele passa. Ele é um completo filho da puta.

De qualquer forma, estou terminando de me arrumar para ir ao tal "encontro", que na verdade não é exatamente um encontro.

— Pegou a venda preta? - Bianca perguntou e eu chequei novamente se o pano estava dentro do bolso da minha calça.

— Sim.

— Deixe-me ver se ela realmente esconde alguma coisa. - disse ela.

Bianca estirou a mão e eu lhe entreguei a venda. Ela logo envolveu sua cabeça com a mesma, cobrindo seus olhos.

— E então? - perguntei.

— Mhm... Tem o selo Bianca de aprovação. - revirei os olhos — Vamos logo, Wed. Quando chegarmos no local eu a coloco em você.

— Ok.

Bianca e eu descemos no elevador até o primeiro andar do prédio e fomos até a garagem onde ela havia guardado seu carro.

Eu podia sentir meu coração bater cada vez mais rápido em cada novo metro que avançávamos no veículo. Tive medo de que ele saísse pela minha boca.

Veja bem, eu tenho motivos para tamanho nervosismo. Acreditem se quiser, mas eu sou tímida e nunca sei como reagir a elogios pessoalmente e sei que a tal garota vai fazer questão de me elogiar a cada minuto. Também estou nervosa porque não faço a mínima ideia de quem ela seja e justamente por isso eu irei ficar com uma vontade enorme de arrancar essa venda dos meus olhos a fim de descobrir sua identidade, mas nós temos um trato e eu não irei quebra-lo.

Estou começando a achar que tenho crise de ansiedade.

— Chegamos. - anunciou Bianca ao parar em frente ao local marcado. — Vire-se para que eu possa ajeitar isso nos seus olhos.

E assim eu fiz. Me virei de costas para Bianca no banco do carro e ela apertou bem a venda nos meus olhos.

Eu não estou enxergando absolutamente nada.

— Cuidado comigo, sua puta insensível. - falei quando ela deu a volta para abrir a porta do carro pra mim.

— Cala a boca, Wednesday. Eu já estou fazendo demais. Acha que eu queria presenciar um encontro seu? E o pior... Observando tudo de outra mesa, SOZINHA.

— Problema seu.

Bianca resmungou alguns palavrões desconhecidos por mim e finalmente me guiou até uma mesa, puxando uma cadeira para que eu me sentasse logo em seguida.

— Espere um pouco, ela deve estar chegando. Eu vou ficar na mesa ao lado. Divirta-se. - Bianca sussurrou no meu ouvido e depois eu já não sentia mais a sua presença ali.

Quase gritei para que ela voltasse, mas isso não seria muito legal.

Aproximadamente 3 minutos depois, senti uma pessoa se aproximar e logo puxar a uma cadeira para sentar.

É ela.

— Boa tarde, Wednesday. - falou. — Eu estou forçando a minha voz o máximo que posso para que ela fique pelo menos um pouco irreconhecível. Espero que não se importe. - soltou uma pequena risada pelo nariz.

Embora ela esteja forçando a voz, ainda é perceptível que a mesma é um pouco roupa e arrastada, assim como a voz de Enid. Será que...

Não, nada a ver. Isso não é possível. Eu estou ficando paranóica demais e vendo a Enid em todo lugar. Preciso parar com isso urgentemente.

— O-Oi, Darling. - sorri — Tudo bem, embora eu tenha dito que não iria reconhecer sua voz de qualquer forma.

— É só por precausão. - ela riu — Eu vou pedir o meu sorvete agora. Quer que eu peça o seu também?

— Sim. Peça um de...

— Baunilha com calda de morango, eu sei.

— Como você... Ah, esquece. - ri.

Ela fez os nossos pedidos e os mesmos logo chegaram. Enquanto conversávamos, ela fazia questão de segurar minha mão por cima da mesa e passar seus dedos levemente pela minha pele.

— Você está linda. - minhas bochechas esquentaram.

Elas costumavam esquentar assim apenas quando Enid me elogiava.

— Não me deixe sem graça.

— Desculpa, mas eu precisava fazer esse comentário.

— Então obrigada.

— Disponha.

— Você tem um cheiro bom... - ela riu.

— Obrigada, Wednesday.

— Eu também queria dizer que você está linda, mas não iria me deixar tirar essa maldita venda.

— Não mesmo, e nem apele para a chantagem emocional.

— Tudo bem, eu supero. - suspirei — Quando vou poder descobrir quem você é?

— Eu já lhe disse, e isso depende de você.

— É difícil pra mim, você sabe...

— Sim, eu sei. E já disse que não tenho pressa.

— Mas eu sim! - ela gargalhou alto.

Meu Deus, eu juro que acabei de ouvir a risada da Enid nessa garota. Eu definitivamente preciso de tratamentos, ou irei endoidar de vez.

— Como está se sentindo?

— O que você quer dizer com isso?

— Nada, eu só quero saber como você está se sentindo em relação a Enid, a mim, você sabe... Tudo.

— Eu estou bem, juro. Ainda dói, mas eu estou melhor em relação a ela. Você está realmente me ajudando muito. Obrigada por isso. Eu disse que iria agradecer pessoalmente.

— Não precisa agradecer, Wednesday. Eu ja disse que não é um favor.

— Uh, como quiser, Darling.

— Você pronunciando "darling" é uma fofura, sabia?

— Agora eu sei. - sorri. — Que droga! Não estou conseguindo terminar de comer esse sorvete com os olhos vendados assim.

Eu conseguia sim, mas ela não precisava saber.

— Quer ajuda?

— Por favor.

Ouvi um barulho de cadeira ser arrastada pelo chão e concluí que ela havia colocado a sua ao lado da minha para poder me ajudar a terminar de comer o sorvete.

— Você tem vontade de morar em outro lugar? - perguntou.

— Pensei que você me conhecesse...

— Tem coisas que eu realmente não sei!

— Bom, eu gostaria muito de morar em Los Angeles.

— Eu já deveria imaginar. Você ama praias...

— Exatamente.

— Gostei do seu perfume... - ela aproximou o nariz do meu pescoço e roçou o mesmo por ali.

Foi inevitável, meu corpo inteiro se arrepiou.

— O-Obrigada.

— Disponha. - disse de uma forma arrastada.

Isso não pode ser loucura minha. Essa é a voz da Enid, eu não posso estar ouvindo coisas! Eu sei que o cérebro das pessoas é surpreendente, mas ele não pode fazer isso. Ou pode?

— Ah! Eu já ia esquecendo. Trouxe os chocolates que prometi.

— Sério?

— Sim, abre a boca.

Abri, e logo um pequeno chocolate foi colocado na minha boca. É o meu preferido!

— É como comer o paraíso. - falei.

— Eu sabia que você iria gostar.

— E você prometeu que iria comer comigo, então trate de fazer isso.

— É você quem manda.

Nós passamos longos minutos conversando, rindo e comendo o resto dos chocolates, quando decidi que já estava na hora de encerrar isso.

— Eu... Acho que já está ficando tarde. Preciso ir.

Na verdade eu não faço a mínima ideia de que horas são, mas acho que já estamos aqui a uns 40 minutos. Bianca deve ter coisas melhores para fazer além de me vigiar, e eu estou ficando cada vez mais intimidada com a presença dessa garota.

Não estou dizendo que não estou gostando. Pra falar a verdade, eu estou amando, e é justamente isso que me assusta. Isso e outros vários motivos, é claro. Como por exemplo, a voz extremamente parecida com a de Enid, mas eu ainda acho que isso é coisa da minha cabeça.

— Tudo bem, deixe-me ajuda-la. - ela se levantou, segurou minha mão, e me ajudou a ficar de pé.

— Foi ótimo poder passar um tempo com você. - falei com sinceridade.

— Eu que o diga. Você nem imagina a minha felicidade. - ela desceu uma mão até minha cintura e eu engoli seco. — Bom, eu já vou. Bianca já está aqui ao lado.

— Tudo bem...

— Até breve, eu espero. - me puxou suavemente até juntar nossos corpos e deu um rápido beijo no canto da minha boca.

Ela beijou o canto da minha boca... Isso é quase nos meus lábios. Merda! Por que diabos ela não me beijou logo?

Fortune Cookie | WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora