Um desejo avassalador alastrava-se através das veias tensas de Jim, florescendo, ameaçando tomar toda a extensão de seu corpo.
Passado um tempo desde o último momento em que aquele sentimento foi apenas uma vontade, a cada instante aquela necessidade angustiante de adentrar o salão se agravava, ainda que sutilmente.
Ainda que volumosa, era reconfortante a maneira como sua audição foi extasiada ao captar a cacofonia criada pela miscêlanea de sons vindos do interior do salão. Um arrepio se manifestou através de seus pelos, e os músculos de seu rosto não fizeram um bom trabalho em reprimir seu sorriso.
Não conseguiu conter o suspiro que parecia implorar para que escapasse de seus pulmões.
Como se atuassem como um convite, os afáveis feixes da luz quente e amarelada fugiam pelas janelas e por diante das brechas amadeiradas da porta do salão.
Ajeitava seus fios castanhos antes de cobri-los outra vez, não podendo evitar olhar para baixo por um mero segundo para posicionar seu chapéu devidamente. Assustou-se vagamente ao perceber o estado de suas vestes, que antes já pouco coloridas, agora notavam-se com uma variação de cores muito menor. Estavam imundas, parcialmente manchadas pela deplorável lama que insistia em assombrá-lo todas as vezes que visitava Valentine.
Seus olhos azuis passearam pelos arredores enquanto tremia diante da entrada do salão, quase louco para que enfim pudesse acalmar seus ânimos. O som das esporas batendo no chão ecoava enquanto o fora da lei empurrava a porta de vaivém e adentrava o recinto.
Seus olhos se ajustaram à penumbra, revelando um ambiente repleto pela presença de tantas pessoas com o mesmo propósito que ele.
Apesar de sempre apreciar uma quantidade relevante de uma boa bebida, ironicamente, não queria beber como os demais naquele local. Pelo menos não o suficiente para ser considerado um homem verdadeiramente embriagado.
Aquele estava longe de ser o melhor dia para que um Jim embebido em uísque barato tomasse e transformasse a cidade em um incontestável pandemônio. A última coisa que queria era acordar na cadeia, alheio aos acontecimentos que o levaram até lá. Principalmente após um dia árduo; e, nesse caso, também uma noite de baderna.
O tênue calor que os lampiões ofereciam ao ambiente abraçava sua pele e o preenchia com uma leveza categórica. Aquele sentimento revigorante o impedia de desmanchar seu sorriso, ainda que minimamente. Enfrentando os perigos diários que costumava vivenciar, um momento de paz em meio ao caos que perdurava em sua vida quase o fazia esquecer do frio que pairava sobre aquela região.
Marchando em direção ao balcão, ocupava-se tentando se livrar do pouco que restou do clima exterior, no entanto, ainda prestava atenção ao que acontecia à sua volta. Alguns cidadãos jogavam pôquer, outros bebiam, e outros apenas conversavam. Nada especial.
Quando enfim parou de frente para o barman, não hesitou em se apoiar imediatamente sobre o balcão. Sedento pelo uísque que descansava sob a mesa, Jim desejava que o homem fosse um pouco mais rápido em notar sua presença. Estreitou um pouco os olhos ao notar a indiferença do indivíduo à sua frente; praticamente estático, com os olhos absortos sobre o copo de vidro que secava com um pano que algum dia, há muito tempo, fora branco.
Um pigarro foi o bastante para direcionar a atenção necessária para o fora-da-lei irlandês. O barman, um sujeito robusto com um avental sujo, lançou-lhe um aceno de sobrancelhas antes de se aproximar.
— O que deseja, forasteiro? — Ele posicionou o copo sobre o balcão, esperando a resposta do mais novo freguês antes de servi-lo.
Uma moeda de cinquenta centavos foi posta sobre o balcão. As mãos de Jim se afastaram dela, para que pudesse ser recolhida.
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O Juramento Dos Contrários
RomanceOnde dois caubóis completamente opostos se conhecem de maneira inusitada, mas nenhum deles pensava que eventualmente encontrariam um pouco deles mesmos um no outro, indiretamente, criando sentimentos que seriam irreversíveis. Seria tarde demais quan...