PRÓLOGO

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      Aonde quer que fosse, Jim sempre via-se a caminhar sob o peso dos inúmeros olhares críticos que costumavam cercá-lo. As bocas entreabertas, os olhos arregalados e as testas franzidas frequentemente atuavam como um lembrete sutil da reputação que o precedia. Entretanto, ele não se envergonhava de sua essência. A linha tênue entre ser um delinquente ocasional e um homem verdadeiramente mau era um tema que ele refletia com certa frequência.

      — Jim, meu querido filho... — a voz de sua mãe ecoava em sua mente, seu tom suave, ainda que sempre carregado de seriedade. — Nunca faça algo que vá contra sua consciência, algo que você possa se arrepender amargamente.

      Ele podia se lembrar do toque gentil em suas mãos, como seu olhar afiado buscava o contato visual mais confortável possível, ou o sorriso pequeno que ela costumava oferecer, mesmo quando não merecia.

      Curioso, Jim nunca foi capaz de desvendar a fenomenal percepção que possui as mães de conhecer seus filhos profundamente. Mesmo que ele nunca tenha se dado o trabalho de esconder quem realmente era, dava a impressão de que ela conseguia enxergar através de sua fachada transparente, facilitando o processo de identificação de um filho que brincava com o fogo sem reconhecer o calor. Quem quer que tivesse o infortúnio de cruzar o caminho de James Calhoun poderia comprovar sua propensão para o caos. Era, afinal, sua especialidade.

      Na inocência de sua juventude, Jim interpretou suas palavras como um aviso contra suas típicas pequenas travessuras. Ele não podia imaginar que, um dia, suas escolhas o levariam a um caminho de arrependimento. Ainda assim, ele nunca se permitiu sentir remorso; talvez fosse essa a razão da insistência de sua mãe.

      Desde que deixou a Irlanda no último verão, o dinheiro acabou por se tornar um poderoso motivador para Jim. Ele era pau para toda obra, mas raramente hesitaria em sujar as mãos se soubesse que receberia um punhado de dólares ao terminar o serviço, mesmo que isso significasse ter sua cabeça a prêmio. Valia mesmo a pena arriscar a sua reputação, a sua honra... A sua vida? Eram perguntas que ele fazia para si mesmo de vez em quando. Contudo, para ele, quase tudo era justificável.

      A mistura de sangue presa sob suas unhas era uma testemunha silenciosa dos negócios sombrios de um descabido mercenário que, na verdade, não passava de um fora da lei de honra discutível cujos crimes acumulados certamente valiam uma recompensa substancial. De qualquer forma, era possível que não se importasse tanto assim, talvez até gostasse da adrenalina que o perigo iminente proporcionava. Um vício tão forte quanto o uísque que queimava sua garganta.

      Naquele dia fatídico de maio, a calma era um luxo raro para Jim. Uma vez solitário; outra vez exausto. Como de costume, esperava que o uísque barato fosse sua única companhia realmente apreciável, um consolo amargo para um homem que havia trocado a paz pela incerteza.

      Ele ansiava por um descanso que o mundo parecia determinado a negar. E na calada da noite, Jim se permitiu um suspiro. Apenas um breve momento de tranquilidade.

      Pelo menos, foi o que ele pensou.

O Juramento Dos ContráriosOnde histórias criam vida. Descubra agora