"Já fazia muito tempo desde que as histórias sobre os mestiços eram espalhadas pelo vasto mundo Calendriano. Todos, ou uma grande maioria dos seres vivos conheciam histórias sobre aqueles que eram considerados erros, percebidos pelos demais como criaturas desprezíveis, seres que naturalmente não deveriam existir e conviver com os demais.
Akumas, fadas e elfos compartilhavam os poderes recebidos pela mãe natureza, o bem e o mal divididos com perfeição para cada um destes seres. Entretanto, como todos os seres mestiços eram de certa forma, exceções, alguns sequer desenvolviam qualquer poder, uma forma de autobloqueio. Sendo incapazes de sentir ou manipular qualquer energia elemental.
Depois de eras, o afastamento das espécies se tornou preconceito, e isso somado a baixa taxa de natalidade, fez os seres mestiços deixaram de ser histórias para virarem apenas lendas. Não há registros destes raras espécimes há muito tempo..."
Fukai fechou o livro com força, entediado pela história e com as vistas cansadas demais para continuar lendo aquelas coisas das quais já sabia. Parecia que absolutamente todos os livros possuíam o mesmo conteúdo, mas escritos de formas diferentes. Sua pesquisa simplesmente não fluiria se continuasse dessa maneira, precisava de todas as informações que conseguisse. Coçou as têmporas e curvou as orelhas pontiagudas, decepcionado com a falta de interesse que as pessoas tinham no que escreviam, só conseguia pensar no quão indiferentes elas estavam para utilizar somente as informações de conhecimento comum, sem realmente procurar saber mais do que aquilo.
- É como dizem, se quer algo bem feito, faça você mesmo. - Proferiu em um suspiro, observando as coisas que o rodeavam, percebendo que todos aqueles livros empoeirados começavam a irritá-lo. Sentia-se sufocado e ansioso, e somado isso ao fato de não ter as respostas que precisava lhe irritava profundamente. Em um ato impensado, empurrou os livros da mesa, fazendo a silenciosa biblioteca reverberar o barulho dos objetos se chocando com o chão. A senhora bibliotecária sequer ousou dizer algo, não havia como tentar discutir ou passar um sermão no comandante-geral do exército do imperador. Um sorriso amarelo surgiu nos lábios enrugados da mulher velha. - Perdoe-me, não vai acontecer novamente. - Sorriu, falso, tendo em mente que, afinal de contas, as aparências precisavam ser mantidas.
Levantou-se, saindo daquele lugar antes que a vontade de arrumar toda aquela bagunça lhe atingisse em cheio, sabendo que passaria o resto da tarde ajeitando tudo por causa da maldita obsessão que tinha com organização. Checou as mangas do casaco, tentando mantê-las da forma mais impecável possível. No momento em que passou pela grande porta dupla, chocou-se com seu unigênito, Nesshin, imediatamente tendo as vistas ofuscadas por aquela maldita cor de cabelo, fios vermelhos reluzindo como brasas. A expressão de indiferença que aquele menino tinha no rosto lhe incomodava de uma forma que não conseguia explicar. A semelhança que ele tinha com a sua mãe era o pior de tudo, talvez isso fosse a fonte de sua irritação. Aquela mulher o conseguia incomodar como nenhum outro ser jamais podia.
- O que você está fazendo aqui, garoto? - agarrou o cabelo dele, que estava preso em um rabo-de-cavalo, puxando para baixo, para que pudesse ver o rosto do garoto, apenas afim de olhar-lhe diretamente nos olhos. - Você colocou outra dessas merdas no seu rosto? Já não mandei tirar tudo? Garoto, você sabe mesmo como me envergonhar. - Só Deus sabia o quanto aqueles malditos piercings lhe incomodavam. Ele tinha tantos que mal podia contar.
- Senhor, um de seus homens me pediu para chamá-lo. - Semicerrou os olhos, puxando com mais força o cabelo do menino, de certa forma o punindo por ignorar seu sermão, e embora sua expressão não houvesse se alterado, observou as orelhas dele se abaixando, o que podia ser temor. Soltou um breve e pequeno sorriso, satisfazendo-se com o medo dele. Nesshin já estava em seus 17 anos, havia crescido mais desde o último ano e logo estaria em sua máxima forma física. Se fosse tão inteligente quanto sadio, seria um ótimo descendente, mas esse não era o caso. Nesshin conseguia ser absolutamente mediano em todos os sentidos. - O homem... ele me disse que há algo urgente que precisa discutir com o senhor. - O ruivo havia levado as mãos até as suas, parecendo um pedido mudo para solta-lo. Suspirou fundo, acatando o desejo da criança e soltando seus cabelos.
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O Éden
FantasyA grande nação de Calendria já havia se deparado com inumeras guerras, pragas, aflições, governantes soberbos e incontáveis conflitos entre as espécies, que buscavam a dominação e a soberania. Mas apesar disso, ainda haviam aqueles que insistitam em...