O dia estava ensolarado, e o sol rachava em cima da cabeça das pessoas que andavam nas ruas. Era o começo do verão em Fujinami, e isso significava que havia começado a época da insolação. O ruivo odiava o calor, porque suava feito um porco, e se sentia muito constrangido. Daiki, que estava ao seu lado, sabia desse fato, e percebia as gotas de transpiração descendo pela testa do outro.
- Você está bem? - Perguntou, mesmo que já soubesse a resposta.
- Não. - Respondeu, parando de andar para respirar um pouco. A roupa que usava não era exatamente a mais favorável para o clima, então estava praticamente morrendo.
- Aguenta mais um pouco, estamos perto. Eu vou buscar um copo de água naquela taverna. - apontou para o estabelecimento e se dirigiu para lá, deixando Nesshin para trás momentaneamente.
Enquanto caminhava, Daiki pegou uma folha dobrada do bolso, e leu novamente os nomes das pessoas que estavam escritos ali. Todas as pessoas da lista tinham tido contato com o elfo Grigori, e justamente por isso estavam atrás delas para descobrir onde ele poderia estar. No momento, só haviam dois nomes sem um risco em cima, e isso significava que precisa torcer para que alguma delas lhe revelasse seu paradeiro, se não, definitivamente teriam muito mais trabalho pela frente.
Tornou o papel para o bolso, e adentrou na taverna, pedindo água para a primeira servente que entrou em seu campo de visão. O ambiente estava incrivelmente agradável e fresco, e se arrependeu por não ter arrastado o ruivo para a taverna. Perdido em seus pensamentos enquanto aguardava, por ventura observou uma figura não tão desconhecida no fundo do recinto. Prendeu a respiração de nervoso enquanto tentava sair discretamente, torcendo para que não tivesse sido avistado.
Entretanto, no momento em que virou de costas, escutou o barulho alto da cadeira se movendo, seguido de passos rápidos e uma voz grossa ecoante.
- Nakamura!! - O homem exclamou, lhe chamando, com um tom de voz extremamente irritado.
Agora que já tinha sido avistado, duas opções surgiram em sua mente: a primeira? Sebo nas canelas, a segunda? Enfrentar seus medos e se virar para ver o homem agressivo. E não foi preciso muito para que escolhesse a primeira opção.
Começou a correr em disparada, sendo imediatamente seguido pelo outro, e infelizmente acabou sendo alcançado mais rápido do que imaginara, pois em questão de segundos o homem havia lhe alcançado, e quando percebeu, já era tarde demais. Em um momento, as mãos do homem estavam em sua roupa, e no outro, havia sido arremessado para fora da taverna, batendo o rosto ao cair no chão de pedra.
Gemeu com dor, e se reergueu, procurando o homem que lhe perseguia.
- Yuto... Eu posso explicar! - Disse, mordendo o lábio, nervoso.
- Eu não quero explicação alguma! Eu quero o meu dinheiro de volta!
Daiki ofegou, com o sangue da ferida em seu supercílio escorrendo diretamente em seu olho, prejudicando momentaneamente a sua visão, sem saber o que fazer a seguir.
Yuto era um akuma, que certa vez lhe contratou para procurar algumas jóias que haviam sido roubadas dele, mas para a infelicidade de todos, Daiki não encontrou os objetos, pois descobriu que na verdade, as jóias já haviam sido transformadas em itens diferentes e vendidas para pessoas que jamais seria capaz de enfrentar, e o tal dinheiro que "devia" para ele, era nada mais nada menos o pagamento pelo serviço de detetive, o qual certamente não tinha mais em mãos
A confusão não demorou para chamar a atenção do público em volta, e também do akuma de cabelos vermelhos, Nesshin, que apesar de não estar se sentindo tão bem como gostaria, precisava entender o que acontecia lá.
Nesshin correu para o cerne da confusão, ofegante, e sacou a espada da bainha, apontando-a para o homem que estava gritando com Daiki.
- O que... está acontecendo... aqui?! - proferiu, limpando o suor da testa com a manga da blusa. Definitivamente não estava bem.
- Ora, ora, você trouxe a cavalaria da enfermaria com você Nakamura? - o akuma Yuto disse, debochando da aparência desgastada do outro.
Os burburinhos entre as pessoas começaram a correr rapidamente, com pessoas reconhecendo Nesshin, e rapidamente o associando ao seu pai. Um elfo apareceu de repente, e cochichou algo para o agressor, que ao ouvir, imediatamente riu.
- Nesshin...Eu posso cuidar disso... - Daiki disse baixinho, se aproximando do ex-namorado. - Você não está nada bem...
- Eu estou bem! - Gritou, bravo e cansado de estar sempre sendo tratado dessa forma, como um bebê. - E sou eu quem vai cuidar disso...
Andou com a espada empunhada, apontada na direção do caótico Yuto.
- Devo dizer, é um prazer finalmente conhecer o filho do respeitável comandante Mikazuki pessoalmente... afinal, aquele homem é o rosto da nação. - proferiu, em tons de cinismo.
- O que você quer... com o Daiki? - Exclamou.
- E o que te interessa? Você vai me devolver o dinheiro que ele me deve?
- Se eu disser que devolvo, você os deixaria em paz? - Uma quarta voz surgiu, e todos os envolvidos olharam para a figura enigmática na hora, contemplando a aparência chamativa de Grigori.
Daiki suspirou aliviado ao vê-lo, pois significava que tinham concluído seu objetivo de achar Grigori, mas se fosse bem sincero consigo mesmo, diria que fora o elfo que os tinha encontrado primeiro.
O homem que vestia uma camisa social de mangas compridas e um colete, abriu os braços e sorriu, pronto para falar não com eles, mas sim com as pessoas curiosas ao redor.
- Meus caros, essa situação aqui está resolvida, obrigada pela atenção. - E então tornou os olhos para os akumas encrencados, agora abaixando o tom de voz. - Mikazuki, Nakamura. Vocês vem comigo. - Sorriu novamente, cínico.
- Ei! Eu estou aqui ainda! - Yuto reclamou.
- Certo, certo, você vai receber o seu dinheiro. - Tirou do bolso um saquinho, e despejou o conteúdo aos seus pés. Eram algumas jóias. E então, enquanto o akuma se desesperava ao tentar pegar os objetos valiosos, se aproximou de Nesshin e Daiki. - Bonitinho, recomendo que carregue o seu amiguinho ali. - disse ao detetive, sorrindo. - Sou pequeno demais para ajudá-lo.
E com muito esforço, Nesshin se deixou apoiar em Daiki, apesar de sua teimosia em dizer que estava bem, para que seguissem o elfo até uma carruagem que estava próxima.
Quando se acomodaram no veículo, Grigori ofereceu um pouco de água para Nesshin, e um pano para que Daiki limpasse o sangue que escorria em seu rosto.
- Então rapazes, eu soube que vocês tem procurado por mim. - Ele olhava por debaixo da aba do chapéu branco, e sorria. Parecia uma serpente.
O rapaz de cabelos brancos tentou ter uma resposta de Nesshin, para que ele mesmo explicasse por que estavam o procurando, mas Nesshin estava ocupado demais tentando se abanar, após tomar toda a água.
- É, nós estávamos sim. Como soube? - Encarou Nesshin novamente e sussurrou um "que vergonha".
- Diferente de vocês, eu tenho contatos por todas as partes, então simplesmente alguém me disse. - ele analisava o assunto ao mesmo tempo em que observava o desespero do outro ruivo. O que vocês gostariam de tratar comigo?
- Alguém com quem falei que te avisou né? Você parece não se importar muito com o perigo. São dois akumas que estavam atrás de você, e tudo que faz é ir ao encontro deles? - Disse, indignado.
- Céus... - ele riu suavemente. - O que eu poderia temer? Você apanhou para um qualquer no meio da rua, e o outro nem em condições de se manter em pé está, quem dirá poderia fazer algo contra a minha pessoa.
Daiki mordeu o lábio, derrotado.
- Mas é sério, senhor Nakamura, o que queriam de mim? - Questionou mais uma vez, agora de forma realmente séria.
- Nesshin está atrás do mestiço, e sabemos que você está com ele. Todas as pistas apontam para você, Grigori.
Grigori olhou para Nesshin, que parecia estar completamente absorto em seus próprios pensamentos, e sentiu um pouco de angústia. O pai dele sequer tinha lhe contado sobre o acordo entre os dois, e fazia o filho sofrer dessa forma propositalmente.
- Meu deus, mande esse menino tirar as roupas. Ele quer mesmo morrer?
Daiki engoliu em seco, e começou a desabotoar os botões do colete dele, para que tirasse junto os penduricalhos que estavam junto também.
- Ei...! O que está fazendo? - Reclamou, tentando se impor, mas falhando miseravelmente.
- Apenas cale a boca. Da próxima vez, vê se faz o favor de sair com uma roupa propícia para o clima. Eu avisei você antes de sairmos.
Grigori observava a ceninha, e sorriu quando finalmente conseguiu ver o que ele escondia atrás das camisa abotoada, um peitoral tonificado e muito másculo. Entretanto, logo voltou ao assunto que interessava.
- Agora que os dois bonitinhos estão na conversa, escutem. Eu não estou mais com ele, porém, eu sei onde ele está.
- Achei que o estivesse protegendo... - Nesshin comentou.
- E estou, por enquanto, já que ele está atrás de algo que eu preciso muito. - Descruzou as pernas, e se inclinou para a frente. - Depois que ele conseguir, vocês podem fazer o que quiserem com a criatura.
- E se eu disser isso para o meu pai?
- Sinta-se à vontade para fazer isso, Mikazuki. No final das contas, terei tudo que preciso, e o seu pai também...
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O Éden
FantasyA grande nação de Calendria já havia se deparado com inumeras guerras, pragas, aflições, governantes soberbos e incontáveis conflitos entre as espécies, que buscavam a dominação e a soberania. Mas apesar disso, ainda haviam aqueles que insistitam em...