Capítulo 3 - Quanto menos souber, melhor

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Naquela mesma noite, a senhorita Flynn fez todos os tipos de anotações possíveis sobre o corpo mestiço, incluindo o tamanho dos pés e a curvatura das orelhas, estas que, inclusive, Flynn tinha achado fascinantes. Ao fim do processo, Gin percebeu que no caderno dela havia até um desenho seu feito por ela. Se fosse sincero consigo mesmo, admitira que a experiência não havia sido tão ruim quanto imaginara que seria, principalmente porque Flynn não era um monstro sem coração, na verdade, ela era bem agradável, e o seu defeito mais notável era a mania de mandar em tudo que podia, já que a impressão que tinha sobre ela, era que Flynn achava que seu dinheiro podia comprar tudo.

Agora, repousava no quarto emprestado a si para passar a noite, deitado sobre o colchão enquanto encarava o teto, pensando um pouco no acordo que havia feito com Grigori em troca da proteção de sua mãe. Precisava encontrar o item, mas era óbvio que não tinha a menor ideia do que poderia ser, ou de como o entregaria para o elfo caso encontrasse tal coisa, ou também, como sequer sairia da casa de Flynn. Não sabia quanto tempo ela o pretendia manter ali, mas pelas palavras dela, não seria um período tão curto .

Se fosse uma situação normal, provavelmente não se importaria em ficar, já que, também teria benefícios como comida boa, água fresca e uma cama super macia e confortável. Mas ainda estava com a cabeça em risco. Sua situação simplesmente não lhe permitia o luxo de escolher.

​Suspirou, fechando os olhos, levando uma das mãos ao peito, sentindo o aperto de tristeza que era familiar. Não entendia por que era diferente dos outros, não entendia por que precisava se esconder agora, além de sua aparência, o que havia de errado? Por que ser diferente dos outros o fazia uma pessoa perigosa? Se sentia culpado por ter feito sua mãe sofrer, por ter nascido.

​Chorou copiosamente no escuro, com as lágrimas gordas descendo por seu rosto e molhando o travesseiro. Se sentou sobre a cama, abraçando as pernas e posicionando o rosto entre os joelhos. Já nem sabia quem era. Tudo que sentia era tristeza e confusão. Sempre deu o seu melhor em todos os aspectos, sempre se esforçando para ser minimamente tratado com respeito como os outros ao seu redor, enquanto via estes outros ganharem respeito sem merecerem.

- É vergonhoso ver um homem desse tamanho chorar...

Pulou de susto ao escutar a voz de Flynn. Em que momento ela havia entrado? Rapidamente limpou o rosto com a manga da blusa, e fungou, sentindo as secreções escorrem de seu nariz, logo olhando para ela, que estava escorada na porta com os braços cruzados e com uma expressão de convencimento em seu rosto, enquanto era meio iluminada pela luz do corredor.

- Você é nota dez em invadir a privacidade alheia, hein? – levantou, enquanto ela usava um feitiço de luz para acender o candelabro em cima da cômoda, no canto do quarto.

- Bom, não me interesso tanto assim pelos seus sentimentos, eu só vim aqui pra te avisar que os meus empregados preparam um banho para você. – a fada suspirou. – Não pretendia dormir nos meus lençóis caros com esse fedor de suor impregnado no seu corpo né? Quer dizer, sabe se lá há quanto tempo você está sem tomar um belo banho.

Gin se aproximou dela, emburrado e com os olhos vermelhos.

- Sim, minha ama. – Proferiu de forma sarcástica. – Vou tomar um bom banho, para que você possa "me usar" amanhã também.

Abriu mais a porta e desviou dela, saindo dali e seguindo o corredor a frente.

- Ei mocinho. Você com certeza deve saber onde fica o banheiro, né? – disse a morena, entre risos muito convencidos.

O mestiço parou de andar, e grunhiu, derrotado, virando-se lentamente para encará-la, sabendo exatamente a cara que ela deveria estar fazendo nesse momento.

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