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L I S A

Quando consegui escapar de volta para a cidade a pé, a tarde tinha dado lugar ao crepúsculo. Lampiões tremeluziam nas janelas e na rua. Eu ansiava pela noite, quando as luzes brilhariam como pirilampos por toda a cidade – até que o chamado pesaroso de uma trompa de caça soou ao longe. 

O tráfego diminuiu o ritmo até parar. Cabeças se curvaram e mãos foram levadas ao coração. Meus dedos trêmulos encontraram o caminho até meu peito, embora penando para manter o coração lá dentro. Uma amazona solitária chegou galopando pela rua e abrindo caminho na multidão, as ferraduras de seu cavalo levantando poeira e soltando faíscas.

Sua capa branca flutuava atrás de si, o capuz levantado para manter seu rosto nas sombras. Ela levou a trompa aos lábios e soprou mais uma nota gélida, o instrumento de metal refletindo a luz trêmula dos lampiões enquanto borlas azuis balançavam debaixo dele. Senti um enorme vazio. Os Cavaleiros Brancos significavam a morte de alguém da realeza. Quem diabos poderia ser? O burburinho começou assim que a última nota da trompa se calou.

— Certamente não é o rei. - Ouvi um rapaz sussurrar para o outro ao seu lado, seus olhos curiosos inteiramente nos Cavaleiros Brancos, assim como os meus e os de muitos ali.

— A princesa de Eldoria, talvez? - Agora foi a voz de uma mulher.

— Não! Os Cavaleiros Brancos são só para a família real de Thalassia. Ela ainda não faz parte da família. Além disso, um forasteiro é um forasteiro, não importa quanto tempo…

— A filha! Pode ter sido a filha - uma voz interrompeu.

— Os usuários de magia devem estar por trás disso - alguém disse. Com aquelas palavras, a multidão virou um caos.

Eu não tinha tempo para me envolver em uma briga de rua nem para completar minha missão original. Precisava voltar ao castelo, de preferência antes que alguém notasse minha ausência. Fui abrindo caminho na multidão, lutando para percorrer a rua. Mais perto dos muros do castelo, os vassalos rondavam com espadas em punho. Praguejei e engoli o medo e a ansiedade.

Eu me livrei da multidão e me enfiei num espaço estreito entre duas casas. Cada sombra parecia tentar me agarrar com seus dedos escuros, e tremi ao passar pelo desenho de um círculo branco, que mal dava para ver sob a luz fraca dos lampiões, na lateral de um edifício. Rastejei por quintais até encontrar o que eu procurava: uma treliça decorativa de metal que ia até o topo de uma casa. Agarrei-me a ela antes que perdesse a coragem.

O cheiro pungente de ferro e o aroma verde de folhas de cipreste esmagadas faziam meu nariz coçar enquanto eu subia pela treliça, o metal machucando minhas mãos. Meus braços doíam quando cheguei ao telhado. Deitei bem esticada sobre as telhas de ardósia e então engatinhei com cuidado até a parte mais alta para ter uma visão melhor.

Um grupo de pelo menos cem vassalos estava em posição de sentido em frente aos portões principais do castelo. Curiosos estavam parados mais perto das ruas da cidade, desconfiados do aço que brilhava nas mãos dos vassalos.

Bem abaixo de mim, pontinhos de luz brilhavam na escuridão conforme velas de vigília eram acesas. Cada grupo de seis velas indicava um bloco de pessoas. Idiotas. As vigílias não resultavam em nada além de joelhos ralados. Rezar para os Seis não traria o morto de volta. Eu havia perdido minha mãe e sabia disso melhor que ninguém.

Fogo E Estrelas (G!p) - JenlisaOnde histórias criam vida. Descubra agora