Prólogo

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ROSALIA

A espontaneidade quase sempre está disposta à te coagir em momentos de desespero mais do quê em momentos dos quais seu corpo está neutro em relação aos seus sentidos. Precisei de longos minutos para processar isso após o gatilho ser apertado e som da bala atravessando o crânio de Mayers alterar os meus batimentos cardíacos em ondas violentas no interior de minhas costelas.

Minha vida congelou no momento em que encarei o corpo morto do meu marido tombar para o lado, o rastro do sangue manchando o couro do banco da Mercedes e suas mãos caindo do volante.

Através da janela que quebrou com o impacto da bala estava um homem sobre uma moto, a arma apontada para o alvo morto e os olhos presos em mim. Não havia nada através daqueles olhos escuros, nenhum ressentimento ou culpa por ter atravessado uma bala na cabeça de um homem e ter manchado o rosto da esposa dele com gotas de sangue.

E mesmo com o tom escuro da viseira do seu capacete, eu conseguia capturar os mais mínimos detalhes de sua pele morena e olhos estreitos com os de um gato. Muito lentamente ele partiu deixando um rastro doloroso para trás, o peso da culpa seguido da aflição de um luto que quase não conseguia acreditar que eu teria que vencer. Por um descuido do assassino muito bem treinado estava a placa da moto visível aos meus olhos enquanto eu o encarava partir.

Destravei a minha porta sentindo-me tonta demais para sentir meu corpo, tombei para fora do carro e soltei toda refeição que havia feito anteriormente no asfalto quente. Alguém se aproximou de mim, mas eu não conseguia fazer mais nada além de me encolher com medo, sequer conseguia ouvir o que o homem dizia.

Não demorou muito para que a polícia chegasse ao veículo do meu marido parado em meio à um congestionamento e pessoas curiosas ao redor. Fui levada até a ambulância, uma lanterna acionada na direção dos meus olhos e alguém tentando falar comigo.

**

— Tem certeza de que não há mais nada? — o delegado perguntou. A caneta raspou sobre a mesa enquanto ele anotava as poucas palavras que saíram da minha boca seca.

Balancei a cabeça, quase vomitando com o simples movimento.

— Irei dar permissão para as investigações, mas... Não garanto resultados muito rápidos. — falou com a voz estranha que tinha.

Seus dedos gordos cutucaram a barba grisalha e suas narinas dilataram com o ar que puxou para dentro de seus pulmões.

— Como assim? — questionei o delegado.

— Não há câmeras de segurança por perto daquela rodovia, e tenho poucas informações sobre o caso.

— Senhor... — balancei um pouco a cabeça me sentindo completamente inconformada — Meu marido morreu com um tiro na cabeça!

— Rosalia, não é? — perguntou meu nome — Seu marido prestava serviços em obras da cidade... O endereço de vocês caí diretamente em um subúrbio de esquina, a eletricidade da casa de vocês foi cortada cinco vezes ano passado por falta de pagamento. Você sequer se perguntou como ele conseguiu comprar aquela Mercedes?

— Eu já disse... — lágrimas ridículas seguraram nas bordas de meus olhos — Foi um empréstimo.

— Que tipo de marido compra uma Mercedes em vez de dar um lugar decente para a esposa morar? — perguntou com tranquilidade e eu jamais conseguiria responder — Sinto em lhe informar, mas seu marido não foi sincero com você. Ele provavelmente estava envolvido com algo muito maior que um simples empréstimo, sua morte... deve ter sido encomendada. Ele era o único alvo da situação.

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