•Alerta Vermelho•

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Maraisa Gentilli’s Point of View

Com delicadeza deslizei a rodela de algodão sobre o rosto, retirando todo e qualquer resquício da maquiagem que eu havia usado aquela noite. Danilo por sua vez estava debaixo de uma ducha quente, fazendo o vapor embaçar o espelho a minha frente. Bufei irritada, mas continuei com meu trabalho. Eu senti um calafrio correr por todo meu corpo quando a lufada de ar frio veio a meu encontro, eu estava usando apenas uma camisola de ceda branca, que tinha caimento até minhas coxas.

- Porque não me contou? – perguntei enquanto limpava ao redor de meus olhos.

Ouvi o barulho do chuveiro parar, e pelo espelho pude ver meu marido deslizar as mãos pelo cabelo, tirando o excesso de água.

- O que? – seu tom de voz rouco ecoou pelas paredes do Box.

- Sobre o roubo, Danilo.

Ele ficou calado por alguns instantes, até que abriu a porta do Box.

- Não queria te preocupar. Pode me passar a toalha?

Peguei uma das toalhas que estavam repousadas sobre a bancada, entregando para ele.

- Sou sua mulher, tem que dividir as coisas comigo.

O moreno capturou o tecido, no qual deslizou por seu corpo todo. Danilo era dono de um corpo invejável a qualquer homem. Seus músculos definidos, acompanhados de sua altura na medida certa, com seu olhar azul desafiador, o caracterizavam como um homem extremamente lindo e atraente. Tive sorte, não é?

- Eu sei, Maraisa. Só não vi necessidade ainda. – disse ao enrolar a toalha na cintura, cobrindo toda sua nudez.

- Só me preocupo.

Ele sorriu e se aproximou, unindo seu corpo no meu por trás. O aroma fresco do sabonete se espalhou rapidamente. Danilo depositou um beijo em minha nuca, fazendo-me encolher os ombros ao sentir um arrepio em minha coluna.

- Sei que sim. Seria estranho se não se preocupasse com seu patrimônio. Afinal, tudo que é meu, também é seu.

- Exatamente! Quero tudo direitinho como sempre.

O homem envolveu minha cintura com os braços, enquanto repousou o queixo sobre meu ombro. Eu poderia sentir as gotas de água umedecer meu rosto, enquanto nos fitava pelo reflexo do espelho. Para muitos meu casamento com Danilo era perfeito, digno de novela, mas como todos os outros, nós também tivemos nossos momentos de crise.

- Vamos dormir? – perguntei.

Ele sorriu, e depositou um beijo em meu rosto, para então virar meu corpo de frente para o dele. Senti meu corpo ir de encontro ao mármore frio da bancada assim que ele segurou em minha cintura.

- Podemos fazer algo melhor. – disse ele olhando em meus olhos.

Os olhos de Danilo estavam em um azul mais escuro, transbordando luxuria. Eu fechei os meus, assim que senti os labios macios do homem em minha pele, suas mãos se fecharam em minha cintura em um aperto forte.

- Ou podemos deixar isso para depois. – sussurrei.

- Nada disso, amor. Vamos agora vai. – insistiu ele antes de tomar minha boca em um beijo.

Seus labios de moveram inicialmente lentos sobre os meus, em um carinho leve. Eu acompanhei seus movimentos, até sentir a ponta de sua língua contornar meus labios. Entreabri a boca, deixando-me sentir a língua de Danilo invadi-la com maestria.

- Dan... – sussurrei entre seus labios.

- Shhh, vamos para o quarto.

Ele me guiou lentamente até nosso quarto, sem deixar que nossos corpos se afastassem. Eu recuei alguns passos até sentir minhas pernas baterem contra a cama macia. O homem sorriu entre meus labios, para levar sua mão até minha camisola, na qual tirou lentamente.

- Só aproveite.

[...]

Estávamos agora sentados juntos a mesa de café da manhã. Danilo sempre que podia tomava café junto a mim, já que na maior parte do dia não nos víamos. Por muito tempo me mantive a par sobre todos os assuntos da Gentillis Enterprise, já que a mesma também era patrimônio meu. Depois de alguns conflitos em nosso casamento, eu resolvi me afastar.

- Com licença, senhor. – o empregado se aproximou de forma educada.

- Diga, Thiago. – Danilo falou sem por os olhos no rapaz.

- Telefone para o senhor. O Sr. John está na linha.

Danilo olhou para o mordomo, e então capturou o celular de sua mão.

- Volto em um instante, querida. – disse ele me fitando.

- Tudo bem, meu amor.

Meu marido se levantou da mesa, ajeitando seu terno antes de caminhar para a varanda. Pude ouvir sua voz irritada vindo do lado de fora da casa, imaginei ser algum problema em uma das filiais, até que minutos depois ele voltou, e com uma expressão nada boa, um tanto irritada eu poderia dizer.

- O que houve?

- John está doente, não vai poder ir à empresa hoje. – disse ele ao sentar-se a mesa novamente.

- E o que tem de mal nisso?

- A agente Mendonça vai até a Gentillis Enterprise hoje para abrir a investigação. E sabemos muito bem que ela não pode ter livre acesso a toda e qualquer informação de minha empresa. – seu tom de voz indicava o quão irritado ele estava.

- Eu sei muito bem. Achei um tanto estranho você chamar alguém para investigar.

- Maraisa, eu estou sendo roubado. Não posso deixar isso impune.

Danilo fechou as mãos em punhos com força, seu olhar transbordava fúria. Gentillis era um homem poderoso, e totalmente egocêntrico. Ter uma parte de sua fortuna sendo roubada era como tirar um pedaço seu. Como se não tivesse controle o suficiente em suas mãos para evitar tal dano.

- Eu sei que não! Só acho perigoso uma agente da policia investigando tudo.

- Marília não me parece tão esperta assim. Está mais perdida do que cego em tiroteio. Eu só quero que ela resolva o meu problema, quero achar quem me roubou e depois a descarto.

- A achei competente o suficiente.

O homem franziu o cenho em minha direção, enquanto levava a xícara de louça fina até os lábios.

- Vamos ver no decorrer do caso. Ela até agora não me mostrou nada.

Eu sorri para ele, dando de ombros.

- Se quiser eu posso ir, assim fico de olho no que ela pode ou não investigar.

Danilo pareceu pensativo, ficou alguns segundos calado, provavelmente analisando minha proposta.

- Não sei se quero você envolvida nisso.

Eu levantei de minha cadeira lentamente, caminhando para trás da cadeira dele. Levei minhas mãos até seus ombros, onde apertei em uma massagem relaxante. O homem tinha os músculos tensos, que logo foram relaxando com meus toques.

- Prefere que ela veja tudo? Sabemos muito bem, que fora John, somente eu sei o que ela pode ou não investigar ali. – disse calma e persuasiva.

- Eu sei...só..

- Eu vou, preciso cuidar muito bem de nossa empresa.

- Você tem razão. Preciso de você colada na agente Mendonça. – disse ele serio.

- Deixe comigo, querido. Farei com prazer. – soltei com um sorriso para meu marido.

O homem sorriu, e eu lentamente selei meus lábios ao dele.

- Vejo você lá então. – Danilo se levantou. – Faça um bom trabalho, querida.

Eu me afastei do mesmo, e caminhei em direção a enorme escadaria de nossa casa.

- Eu sempre faço, Danilo.

Eu sentia seus olhos sobre mim, analisando cada detalhe de meu corpo. Apenas sorri e continuei meu caminho em direção ao meu quarto. Eu precisava estar simplesmente impecável para a agente Mendonça.

Marília Mendonça's Point of View.

- Esses balancetes estão vagos demais.

Sarah resmungou do banco de trás de meu carro. A menor analisava os documentos cautelosamente enquanto eu dirigia a caminho da Gentilli’s Enterprise. Hoje iniciaríamos as investigações no caso, e ninguém menos que Sarah Andrade para dar uma boa vistoria no sistema da empresa de Danilo. Procuraríamos qualquer tipo de movimentação suspeita para iniciar.

- Sim, creio que temos que pedir uma autorização para você entrar no sistema deles.

- Eu consigo fazer isso facilmente, Marília.

- Sim, eu acredito nisso.

- Onde está Luisa?

- Ela está terminando de receber o treinamento da agente Pinheiro. Ouvi dizer que ela vai sair essa semana.

Sarah assentiu rapidamente.

- Vai sim! Foi transferida para outra unidade. Mas não sei bem se são treinamentos policiais que Luisa esta recebendo dela.

Soltei uma risada divertida, olhando para a menor através do espelho retrovisor.

- Você sabe muito bem, Marília.

- Eu sei! Mas não vou entrar no mérito da questão.

- Muito menos eu! – A menor falou rindo.

- Chegamos!

Falei assim que entrei com o carro no estacionamento da Gentilli’s Enteprise. Eu ainda não havia me acostumado com a grandiosidade daquele lugar. Parei o volvo preto em uma das primeiras vagas, perto da entrada do prédio.

- Esse cara gosta de esbanjar. – Sah falou sair do carro, e fitar o prédio luxuoso.

- Você não viu nada, Sarah.

Ajeitei minha jaqueta logo após colocar minha pistola no coldre axilar. Peguei as papeladas em cima do painel do carro, e meu óculos aviador.

- Não gosto de não usar a farda policial. – Sah disse um tanto incomodada.

- Danilo não quer que ninguém aqui dentro perceba que a empresa está passando por uma investigação policial. De acordo com o mesmo, espantaria o possível acusado. – disse revirando os olhos.

Sarah riu e meneou com a cabeça negativamente. Eu sorri, e coloquei meus óculos antes de entrarmos.

- Bom dia, em que posso ajudá-las?

- Sou agente Mendonça, e essa é a agente Andrade.

- Oh, sim! Tenho informação sobre vocês. Aguardem um instante, um de nossos funcionários vai levá-las.

Eu assenti, vendo a bela jovem se afastar.

- Isso aqui é bem futurista. – Sah disse ao analisar o interior da Gentillis.

- Foi o que pensei quando vim pela primeira vez.

Não demorou muito, e um rapaz ruivo, de estatura mediana se aproximou. Ele usava um terno cinza claro, um tanto grande demais para seu tamanho. O mesmo ajeitou de forma desengonçada o pequeno óculos que repousava em seu rosto.

- Vocês devem ser da policia, certo? – perguntou educadamente.

- Sim, somos.

- Me chamo David, estou encarregado de levá-las para os setores que vão precisar.

- Não seria o John? – Perguntei com duvida.

- O Sr. Lancaster não pode vir hoje. Então fui encarregado de auxiliá-la caso precise de algo.

Eu franzi o cenho para o rapaz, deveria ser algum estagiário em busca de realizar da melhor maneira possível seu trabalho ali dentro. O nervosismo do mesmo poderia me dar agonia.

- David, seus serviços estão dispensados.

Eu ergui a cabeça, fechando meus olhos assim que ouvi aquela voz familiar adentrar o ambiente.

Isso só pode ser perseguição.

Eu virei de frente para a entrada do prédio, fitando a latina que caminhava em minha direção. Maraisa tinha um sorriso de canto no rosto, um olhar penetrante e divertido. Seus saltos agulha faziam um barulho suave sobre o piso de mármore.

- Agente Mendonça. – disse ela ao parar em minha frente.

- Sra. Gentillis. – cumprimentei com os olhos fixos no dela.

- Henrique, pode me chamar de Sra. Henrique.

Maraisa, ou melhor, Sra. Henrique usava um vestido vermelho sangue, de alças grossas e um belo decote. O tecido nobre tinha um perfeito caimento em seu corpo, sendo modelado pelas curvas do corpo da morena.

- Como quiser, Sra. Henrique.

- Vou acompanhar você hoje. John teve um pequeno problema de saúde, e não pode vir.

- Não quero atrapalhar. Posso ir com David. – sugeri.

- Faço questão, Marília.

Eu engoli em seco, deixando que meus olhos caíssem fracos pelo decote chamativo da mulher. Meneei com a cabeça rapidamente, e fitei Sah.

- Essa é a agente Andrade, vai me ajudar com o caso.

Maraisa gentilmente estendeu a mão a menor, que apertou educadamente.

- Muito prazer, agente Andrade.

- Sarah, essa é a esposa do Sr. Gentillis.

- Muito prazer, Sra. Henrique. – Sarah falou sorrindo.

- Então! Me sigam meninas, vou levá-las até as salas.

Maraisa caminhou à frente, dando-me a maldita visão da parte traseira de seu corpo. Não tinha a menor possibilidade de concentração com aquela mulher no mesmo ambiente que eu. Ela tinha alguma espécie de atrativo sexual que enchia meus olhos de forma quase descomunal. Eu fechei os olhos por breves segundos quando entramos no elevador, e graças a Deus, ou melhor, a Sarah, ficamos distante o suficiente.

- Onde querem ir primeiro?

- Ao financeiro, vamos tirar um relatório mais detalhado dos últimos meses.

Maraisa assentiu, e pressionou os dedos no botão do painel do elevador. As portas do mesmo se fecharam, dando apenas a visão de todos os andares da Gentillis, de lá poderíamos ver toda a movimentação frenética daquele lugar. Pelo espelho eu pude ver o reflexo de Maraisa que me encarava da mesma maneira, ela sorriu cínica.

Droga.

Ela tinha uma maquiagem bem feita, destacando seus olhos castanhos, e sua boca carnuda que estava coberta por um batom da mesma cor de seu vestido.

- Chegamos. – disse ela assim que o elevador parou.

Sarah e eu rapidamente caminhamos em direção ao setor financeiro da Gentillis, onde fomos recebidas por um grupo de pessoas que iriam nos auxiliar durante o recolhimento de relatórios e balanços. Maraisa, para meu alivio se retirou por alguns minutos da sala, deixando-me em paz de espírito o suficiente para me concentrar. A movimentação financeira da Gentillis foi sempre linear, até o bruto rompimento com a falta de quinhentos mil dólares. Seja lá quem tiver roubado, não teve a menor vergonha de deixar o rombo imenso no sistema. A quantia foi devidamente retirada sem qualquer rastro de destino, a conta para qual foi transferida se encontrava inexistente para o sistema.

- Sutil como uma bazuca a pessoa que roubou. – Sah falou rindo.

- Foi o que pensei quando vi.

- Não teve o menor trabalho de maquiar a falta. Apenas retirou, quase pedindo para ser descoberto.

- Sim, mas quem roubou foi esperto o suficiente para tornar o destino do dinheiro praticamente invisível.

- Não sei, Marília. Eu quero dar uma olhada no sistema, vou analisar minuciosamente tudo. Não tem como um dinheiro sair sem destino.

- Esse parece ter saído.

- Pode ser um erro do sistema, se caso for, temos que responsabilizar os donos do programa. – Sah falava enquanto fitava os papeis em sua mão.

- Quer ir ao setor de sistemas? Vai poder pegar melhores informações.

- Eu quero sim.

- Terminaram aqui meninas?

Maraisa perguntou me assustando. Eu olhei para trás, e ela se encontrava próximo a porta com os olhos sobre nós.

- Gostaríamos de ir à sala de controle central do sistema.

- Venham comigo.

Fomos acompanhadas de Maraisa, e um dos técnicos até a sala de controle central. Lá Sarah e eu tivemos acesso as configurações do sistema, com a supervisão do técnico que nos mostrava tudo minuciosamente.

- Esse programa é um dos melhores do país, me assusta não aparecer o destino do dinheiro. Eu já mexi com ele antes, e sempre tem todas as informações, nem parece que foi violado.

- Temos a violação do dia em que a quantia sumiu, agente. – o técnico falou serenamente.

- Sim, apenas essa. A pessoa que roubou deve ser boa demais com isso, pois simplesmente apagou o destino do dinheiro. Claro e obviamente deixando o rombo enorme. Mas é preciso conhecer o sistema para saber como apagar tal informação.

- Andrade, isso não é algo difícil para esses filhos da..

Me calei assim que me dei conta do que falaria.

- Não há sinal algum? – Maraisa perguntou.

- Até o momento não. Mas vou pegar a movimentação completa desse dia. Vou achar algum erro, não há crime perfeito. – Sarah falou rindo.

- Não mesmo!- concordei.

- Onde posso encontrar isso?

O loiro alto levantou a mão.

- Temos que ir ao faturamento, lá pegamos a movimentação detalhada.

- Ok, eu vou lá com ele. Você pode terminar de fazer o download do programa. Vamos fazer simulações.

- Claro, fico sim. – disse calmamente até notar a burrada que estava fazendo. – Sarah!

Já era tarde demais. A menor havia saído da sala, e me deixado completamente sozinha com Maraisa. Eu fechei os olhos, e meneei com a cabeça negativamente, até que a fitei.

- Acha que consegue desvendar isso, agente Mendonça?

A morena caminhou lentamente em minha direção.

- Tenho certeza que sim, Sra. Henrique. É um caso difícil, mas não impossível de ser desvendado. – falei tentando manter minha atenção no programa do computador.

- Eu imagino que sim, você me parece muito competente no que faz.

Meus olhos analisaram cada movimento que a mulher fazia. A latina parecia um predador que a qualquer instante capturaria sua presa inocente.

- Pareço? – perguntei a fitando.

Maraisa rodeou a mesa, ficando do mesmo lado que eu. Ela sorriu, e se sentou sobre a mesa, bem ao meu lado.

Próxima demais.

- Sim, parece competente demais, Marília.

A mulher que antes me olhava, ergueu a cabeça, fitando a vidraça atrás de mim.

- A agente Andrade também me parece ótima policial.

- Ela realmente é, uma das melhores. – falei um tanto desconfortável.

A Sra. Henrique cruzou as pernas, deixando que sua coxa ficasse totalmente a mostra pela fenda extensa de seu vestido vermelho. Ela tinha uma maldita pele lisa e clarinha, que minhas mãos ansiavam em tocar. Era no mínimo tentador demais tê-la tão próxima, em uma sala tão pequena e quente.

- Essa sala está quente. – falei desconcentrada.

Ela curvou os lábios em um sorriso.

- Eu também estou achando, Marília.

Maraisa arqueou um pouco a cabeça, deixando que suas madeixas escuras caíssem para trás, libertando seus ombros e sua nuca. Meus olhos se fixaram em sua clavícula, logo depois no pescoço, e na veia grossa que havia no mesmo. Poderia ser loucura, mas aquilo parecia estar em câmera lenta.

Você está fodida, Marília.

- Não quer ligar a central de ar? – perguntei ainda com os olhos em seu corpo.

Levei a mão até o controle que estava sobre a mesa, quando ela rapidamente juntou sua mão a minha. Meus olhos se fixaram nos dela, que me encaravam sem pudor. Era possível dizer que eu me sentia quente sobre os olhos daquela morena?

- Ela deu problema hoje cedo. Não vai funcionar. – disse Maraisa antes de jogar o controle no sofá.

Que ótimo!

- Se quiser podemos abrir a janela. – falei me levantando rapidamente.

Eu precisava de espaço, precisava me manter longe o suficiente do corpo tentador daquela mulher. Só Deus sabia o que meus pensamentos estavam criando agora, Deus e o demônio, ou melhor, Maraisa.

- Vai entrar um ar fresco. – disse tentando abrir a janela, que por puro azar estava emperrada. – Está emperrada.

Forcei o material de ferro que parecia nem sequer se mover do lugar. Dei uma ultima batida, mas a mesma continuou emperrada. Suspirei derrotada e nervosa o suficiente por estar num ambiente promissor demais para meus pensamentos mais selvagens.

"Marília, se concentre, ela é só uma mulher, como qualquer outra."

Eu virei de frente para a morena, tendo a visão que desmontaria todo aquele pensamento. Maraisa ainda estava sentada sobre a mesa, com as pernas longas e torneadas cruzadas, sendo facilmente mostrada pela fenda enorme de sua coxa. Ela delicadamente assoprava o vale entre seus seios, que ficavam evidentes pelo decote descarado de seu vestido que nesse instante estava sendo puxado para frente.

Puta.

Uma mecha de seus cabelos caiu sobre seu rosto, fazendo a mesma erguer a cabeça, enquanto uma de suas mãos ia de encontro aos seus cabelos, levando todo apenas para um lado.

- Algum problema, Marília? – perguntou com um sorrisinho filho da puta.

Problema? Sentir vontade de foder você inteira em cima dessa mesa é um problema Sra. Gentillis?

- Não, senhora. – disse engolindo em seco.

- Que bom. – disse ela ao se levantar da mesa. – Você me parece um tanto desconfortável, agente Mendonça.

Maraisa se aproximou, ficando a minha frente.

- Porque acha isso?

- Eu sinto.

Estávamos próximas a ponto de quase ter um contato físico. Maraisa tinha um olhar desafiador, como o que ela usou naquele quarto de motel em Monte Vernon.

- Estou ótima, Carla. – falei rapidamente, arrancando um sorriso dela. - Você se chama mesmo Carla? – perguntei curiosa.

- Está achando que uso nomes falsos por aí, agente?

- Não, Sra. Gentillis. Apenas..

- Sou Carla Maraisa, Marília. Não pense que estou usando nomes falsos por aí. Não tenho nada a esconder.

- Não? As pessoas às vezes gostam de usar outros nomes apenas para sair um pouco da realidade. – falei franzindo o cenho em sua direção.

- Não. Eu não tenho uma espécie de vida dupla ou algo do gênero. O que eu poderia esconder? Que sou uma Stripper? – Maraisa perguntou rindo.

Dei de ombros, entrando em seu jogo. Maraisa sorriu cínica.

- Está na historia errada, Mendonça. Sou Carla Maraisa Gentilli.

- Sei muito bem agora.

- Sabe? – Maraisa se aproximou mais.

- Sei. Só não consigo entender o que quer de mim. – falei seria, tentando manter o fio de sanidade que me restava.

Maraisa tinha a testa franzida, como se não entendesse aonde eu queria chegar.

- Do que esta falando, agente?

- Carla..- segurei em seu braço com um pouco de força.

Nossos olhos se encontraram fixos e intensos. Não tinha sido uma boa idéia entrar por aquele caminho, eu sentia que poderia fraquejar a qualquer instante.

- O que você quer com isso? – perguntei apertando mais.

Ela olhou para seu braço, que estava sendo apertado por minha mão, e logo em seguida para meus olhos. Quando então a porta se abriu, e eu rapidamente a soltei.

- Quero que desvende esse caso, agente Mendonça. – Foram suas palavras ao se sentar na cadeira.

Eu engoli em seco, e fitei Sarah que tinha uma expressão desconfiada no rosto.

- Eu já peguei o que precisamos por hoje, Marília. – Sah disse alternando o olhar sobre Maraisa e eu.

- Vamos embora. Foi um prazer Sra. Gentilli.

Maraisa assumiu uma pose imponente.

- Disponha, agente.

Eu me afastei da janela, caminhando em direção a porta.

- Marília?! – Maraisa chamou, fazendo-me prender a respiração.

Meus passos foram no mesmo instante interrompido antes de me virar em direção à mulher.

- Você pode por gentileza pegar aquele controle?

Eu assenti, e lentamente peguei o controle da central de ar que estava jogado sobre o sofá. Caminhei de volta até a mesa onde Maraisa estava, entregando-lhe o objeto, que no mesmo instante ela capturou.

- Obrigada. – disse ela antes de apertar no pequeno botão, ligando a central de ar que resfriou todo o ambiente.

Eu franzi o cenho ao fitar o objeto que ao contrario do que imaginei, estava funcionando perfeitamente bem. Olhei para Maraisa, que mordeu o lábio inferior, soltando um sorriso logo em seguida.

Filha da puta.

Eu neguei com a cabeça, e deixei que um sorriso sacana e totalmente involuntário saísse de meus lábios. Me retirei da sala acompanhada de Sah que parecia não entender muito bem a situação.

- Aconteceu alguma coisa, Marília? – a menor perguntou com os olhos curiosos.

Meus pensamentos vagaram pela imagem sensual de Carla sobre a mesa, assoprando o maldito e delicioso decote. Meneei com a cabeça negativamente, afastando tais idéias de minha cabeça.

- Não aconteceu nada. – falei enquanto pressionava os dedos com certa força no botão do elevador.

- Tem certeza? Você me parece nervosa.

Sah falava enquanto arrumava a pequena quantidade de papeis em sua pasta.

- Sim, só estou pensativa com esse caso. Vai ser mais difícil do que pensei.

- Mantenha a concentração no que realmente importa, Laur. Tudo vai dar certo se você souber quais estratégias usar.

Olhei para a loira que parecia ter entendido muito bem a situação. Mas Sah era discreta demais para falar alguma coisa, e não seria eu a pessoa a dar entrada em um assunto que eu queria apagar, não é? Apenas assenti, me colocando para fora do elevador assim que as portas se abriram.

Maraisa Henrique's Point Of View.

Pela parede de vidro fumê do prédio, eu tinha a visão do estacionamento central da Gentilli’s Enterprise. Em poucos minutos vi o corpo da agente Mendonça adentrar o mesmo, ao lado da policial Andrade. Meus olhos não conseguiam se distanciar daquela mulher, como se precisasse analisar cada um de seus movimentos. Marília estava se tornando um jogo perigoso e excitante. E confesso, que esses eram meus favoritos.

- Agente Mendonça... – toquei com a ponta do dedo no vidro. – Você não devia ter aparecido.

Marília destravou seu carro, deixando que a loira ao seu lado entrasse. A morena retirou sua jaqueta de couro, jogando dentro do automóvel, para em seguida prender seus cabelos escuros em um coque mal feito. A pose de bad girl só a deixava mais atraente.

- Maraisa, você está louca. – disse a mim mesma, antes de sentir meu celular vibrar.

Capturei o mesmo que estava sobre a mesa, movendo-se incansavelmente.

- Alô?

- Maraisa? Estou ligando para que não se esqueça de nosso almoço. Estou saindo daqui.

- Certo, chego em vinte minutos.

[...]


Em vinte minutos, Carlos, meu motorista, estava estacionando meu Rolls Royce Phantom preto, em frente de um dos meus restaurantes favoritos de Manhattan. O motorista devidamente uniformizado saiu do veiculo, e caminhou até a porta onde gentilmente abriu.

- Sra. Gentillis. – o mesmo falou ao estender a mão com a luva branca, para que eu saísse do carro.

- Obrigada, Carlos.

Um dos funcionários do restaurante rapidamente se aproximou para me recepcionar.

- Bom Dia Sra. Henrique. Sua mesa já esta pronta, com a acompanhante a sua espera.

Apenas assenti, enquanto estava sendo guiada para uma das mesas. De longe eu poderia ver os cabelos loiros e volumosos de Maiara. Minha melhor amiga parecia entretida degustando um vinho tinto que um dos funcionários a servia.

- Demorei? – disse ao colocar minha bolsa sobre uma das cadeiras, para sentar-me de frente para ela.

- Um pouco, como sempre. – disse ela com um sorriso.

Rolei os olhos, e me acomodei na confortável poltrona.

- Algum problema? Você nunca se atrasa. – Maiara disse antes de dispensar o garçom.

- Estava na empresa. Fui recepcionar duas agentes que estão cuidando da investigação.

- Investigação? – Maiara ergueu uma das sobrancelhas.

- Sim, pelo que parece o sistema da Gentillis foi invadido. Alguém esta roubando.

Maiara me encarou por alguns segundos, um tanto desconfortável.

- Está tudo bem?

A morena sorriu, e acenou para o garçom.

- Claro! Porque não estaria? – perguntou ela.

Maiara era minha melhor amiga há anos, sempre esteve comigo nos melhores e nos piores momentos da minha vida. Há quem diga que somos praticamente irmãs, mesmo não tendo qualquer tipo de laço sanguíneo. Mas o que era laços sanguíneos, perto de laços de irmandade? A morena sempre soube de todos meus segredos, e sempre os guardou. Me apoiando em todas as decisões, exceto meu casamento. Não era novidade que minha melhor amiga tinha uma certa antipatia por Danilo. Não era de hoje que eu tentava contornar a situação, eu não queria ter que escolher entre um dos dois. Mas havia coisas impossíveis de contornar.

Nosso almoço transcorreu tranqüilo, em uma conversa agradável, falamos sobre o dia a dia, eu respondi algumas perguntas curiosas sobre o caso da Gentillis Enterprise, e de assuntos corriqueiros. Mas Maiara me parecia um pouco tensa, ou até mesmo ansiosa. O movimento frenético de sua perna balançando por debaixo da mesa estava me causando estresse.

- Você está com algum problema?

- Já disse que não, Maraisa.

- Está tensa. – disse ao depositar minha taça com vinho sobre a mesa.

- Impressão sua.

Dei de ombros e voltei a cortar o camarão ao molho branco em meu prato. Ouvi o pequeno bipe do celular da mesma. A morena capturou o telefone de sua bolsa, destravando a tela. Provavelmente era apenas uma mensagem de texto, no qual ela rapidamente respondeu. Maiara parecia tensa desde o momento que me sentei a mesa junto a ela, eu só não sabia o motivo. Ela em um pequeno instante respondeu, e voltou a atenção a mim.

- Me conte mais, tem alguma possibilidade de achar algo nessa investigação?

Eu franzi o cenho em sua direção, enquanto limpava o canto dos lábios com o lenço branco.

- Eu não sei. Tem algo que está roubando minha atenção nessa confusão toda. – soltei com um sorriso.

- O que?

- A pessoa que está investigando.

- Como assim?

- Você se lembra de "Marília Mendonça" – perguntei ao provar um pouco do vinho tinto.

- Esse nome me parece familiar.

- É porque ele é! Marília foi à mulher que estive em Monte Vernon.

- Ah! Em sua experiência a três?

Soltei uma risada baixa.

- Exatamente! Tem idéia do quão surpresa fiquei ao vê-la?

- Maraisa, o que você fez?

- Até o momento nada, Maiara! Marília está concentrada em investigar o caso, o que é muito bom! Mostra que ela é uma oficial competente.

Maiara revirou os olhos, dando de ombros.

- Mas eu quero que ela se concentre em outra coisa.

- Céus, sinto pena dessa agente.

Mordi os lábios, ao lembrar do quão nervosa Marília ficava em minha presença.

- Ela se garante, tenho certeza.

Maiara assentiu, soltando um suspiro.

- Eu preciso ir agora.

- Mas já? – perguntei surpresa.

A morena assentiu novamente, enquanto olhava em seu celular.

- Sim, tenho um compromisso importante.

- Quer me contar?

Ela sorriu, e se levantou da cadeira.

- Não é nada demais, Isa. Um probleminha que eu tenho que resolver.

- Nem terminamos a nossa conversa, Ruiva.

- Prometo que faremos isso depois. – Disse ela ao colocar a alça da bolsa no ombro esquerdo e se retirar.


Maiara Point Of View.

Saí do restaurante rapidamente, seguindo em direção ao meu carro. Entrei no Jeep Cherokee branco, e de forma ligeira liguei o motor. Capturei meu celular para responder mais uma nova mensagem que chegara, antes de arrancar com o carro dali. O transito caótico me fez parar no maldito primeiro sinal, a fileira de carros me fazia perder a paciência rapidamente. Abaixei o volume da musica que tocava no carro, assim que meu celular começou a tocar. No mesmo instante, atendi a ligação.

- Eu sei! – bufei. - Não se preocupe, eu vou encontrar com você essa noite.

Fechei os olhos ouvindo s voz furiosa do outro lado da linha.

- Eu não pude agora! Vou atrás de informações em breve. Certo, até logo.

Desliguei a ligação, para rapidamente discar outro numero. Chamou uma, duas, e na terceira vez fui atendida.

- Alerta vermelho! Eu vou precisar da sua ajuda. Me encontre em uma hora no mesmo lugar de sempre.

XEQUE-MATE - malilaOnde histórias criam vida. Descubra agora