Buried In a Nameless Grave

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O mundo parece desacelerar ao redor de Lupita.

Leva alguns segundos até que ela recobre a linha de pensamento, até que o nome dito pelo prefeito registre em sua mente. Ela percebe que apertou a própria mão ao redor da de Josy – e vagamente percebe Mia arquejando em horror ao seu lado - mas a amiga não reclama, apenas aperta sua mão de volta tentando ancorá-la. É como se o chão estivesse se desfazendo sob seus pés.

Assim que Lupita finalmente se lembra de onde está, seus olhos percorrem a multidão na praça procurando por Lola. Não faz ideia de onde está sua tia, e no momento, tampouco se importa.

Ela avista a meia-irmã a alguns metros dela, pálida como giz, e completamente paralisada. Apesar de fazer piadas com isso todo mês, ela claramente nunca chegou a considerar a possibilidade de ser sorteada como algo concreto. Eram só palavras que ela dizia da boca para fora, na maioria das vezes para provocar Lupita.

E agora, aqui está ela, na exata situação da qual fizera pouco caso tantas vezes.

A multidão começa a murmurar, irriqueta, quando Lola não se move, e o prefeito começa a dar sinais de impaciência; Lupita já vira pessoas sorteadas sendo arrastadas para a floresta contra a própria vontade; pelos outros aldeãos, por se recusarem a ir por conta própria.

A inquietação começa a se instaurar, e o prefeito acena com a cabeça para que dois de seus ajudantes vão buscar Lola. O corpo de Lupita age mais rápido do que sua mente, e, num impulso, ela se solta de Josy e empurra bruscamente as pessoas na sua frente quando os rapazes começam a andar em direção à irmã.

“Não!” grita ela, avançando pelo mar de gente, “Esperem!”

Ela se joga na frente de Lola justamente quando os dois garotos estendem o braço para agarrá-la.

“Esperem,” repete ela, “Prefeito Font, deixe-me ir no lugar dela.”

Os murmúrios dos aldeãos cessam imediatamente. O silêncio é tanto que seria possível ouvir, com clareza, um alfinete caindo no chão. Lupita, de braços levemente estendidos na frente de Lola, não ousa tirar os olhos do prefeito, que a fita completamente embasbacado.

É claro, o que ela acabara de fazer não tem precedentes. Verdadeiramente, nem ela própria sabe de onde viera aquilo. Ela só queria proteger sua irmã.

Por um momento apenas, Lupita pensa em quão patético é ela estar disposta a se sacrificar por alguém que, para todos os efeitos, a odeia.

Mas Lola é uma das únicas pessoas no mundo que ela pode chamar de família. Ela é uma das únicas pessoas que lhe restam. E é claro, Lupita é o tipo de pessoa que se sacrificaria sem pestanejar por qualquer um de seus amigos. Ela tem certeza de que, fosse Mia a escolhida, ela teria feito a mesma coisa.

Ela se pergunta por um momento se isso a torna nobre ou irremediavelmente tola.

Por vários segundos, ninguém se atreve a dar um pio sequer.

“Senhorita...” o prefeito começa, mas não termina a frase, totalmente sem palavras.

“Por favor, prefeito,” Lupita suplica, sentindo as lágrimas já começando a se formar em seus olhos agora que o choque inicial começou a passar, “vocês terão seu sacrifício da mesma forma. Não faz diferença.”

Ela vagamente registra o quão irônico é ela estar usando as palavras ditas por Joaquim há apenas alguns minutos, mas ela não se dá o luxo de se importar no momento.

O prefeito pisca uma, duas vezes, e troca olhares com o conselho de Electi. Eles parecem tão perdidos e pesarosos quanto ele, mas pelo que Lupita pode presumir a partir de seus rostos e linguagem corporal, não conseguem pensar num motivo para não deixá-la tomar o lugar de Lola.

Savirroni - Bark at the MoonOnde histórias criam vida. Descubra agora