Hold on to me, cause I'm a little unsteady

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Os próximos dias se passam com mais tranquilidade do que Lupita esperava. Roberta a leva para a floresta quase todos os dias, lhe mostrando tudo o que ela acha valer a pena mostrar. Ela a leva para um riacho não muito longe do castelo, e diz que é fácil pescar ali; quando Lupita pede a ela que lhe ensine, a garota promete voltar com ela no dia seguinte e lhe mostrar como se pesca, e cumpre a promessa logo pela manhã. Em outro dia, ela lhe indica uma corça comendo mordiscando tranquilamente a grama sob seus cascos, e, silenciosamente, se aproxima, indicando com a cabeça para que Lupita faça o mesmo. Quando chegam perto o suficiente, se sentam atrás de uma rocha, parcialmente escondidas, e ficam apenas observando o animal, Lupita se sentindo mais em paz do que provavelmente já se sentira na vida. Ela tem consciência do sorrisinho distraído que deve ter no rosto, mas, se Roberta o nota, não diz nada.

De longe, a coisa da qual Lupita mais gosta, é quando Roberta a leva de volta à clareira onde a encontrou pela primeira vez, e agora, sob a luz do sol, é possível ver claramente as inúmeras flores silvestres não apenas cercando o local, mas nascendo no centro da própria clareira, espalhadas aqui e ali. De inúmeras cores, tipos e tamanhos, as flores fazem o local parecer uma pintura a óleo.

“É lindo,” diz Lupita, olhando ao redor, maravilhada, “Não tinha reparado nelas naquela noite.”

“Eu imaginei que você não teria reparado, mesmo” responde Roberta, um pouco convencida, colocando as mãos nos bolsos da jaqueta, “Acho que você tinha muita coisa na cabeça naquela hora pra pensar em flores, não te culpo por não ter percebido.”

“Que flor é esta?” Pergunta Lupita, se aproximando de uma grande flor roxa crescendo aos pés de uma árvore.

Roberta passa os próximos minutos lhe indicando várias espécies de flores e lhe dizendo seus nomes.

“Você entende bastante de plantas,” observa Lupita, se lembrando da primeira manhã que passara com Roberta na floresta.

“Tive aulas de botânica quando era mais nova,” responde Roberta, com uma careta, sem dúvida se lembrando de sua infância no castelo, “E depois de ficar sozinha, li alguns livros sobre o assunto na biblioteca.”

“Deixa eu adivinhar,” diz Lupita, com um sorrisinho bem-humorado, “você não gostava das aulas de botânica?”

“Não só das de botânica,” Roberta lhe dá um risinho debochado, “Odiava praticamente todas elas. Tantas coisas que eu tive que aprender, que eu considerava inúteis. Matemática avançada, filosofia, literatura. Sem contar as de etiqueta. ‘Uma dama não apoia os cotovelos na mesa, Roberta!’ ‘Roberta, por que você está vestida de uma forma tão desleixada? Nenhum homem vai querer casar com você desse jeito!’ Era um saco.”

Roberta se larga no chão, sentando-se na grama de pernas cruzadas, e apoia o queixo nas mãos, parecendo um pouco irritada. Hesitantemente, Lupita se senta ao seu lado.

“Eu odiava aquilo tudo,” continua Roberta, arrancando uma folhinha de grama do chão, distraidamente, “Todos aqueles vestidos vistosos, aquelas coisas absurdamente caras. Festas longas e chatas, cheias de pessoas falsas que só se aproximavam da minha mãe por interesse. Era um ninho de víboras. E parecia que minha mãe nem se importava com isso.”

Lupita considera um pouco antes de perguntar, gentilmente:

“Você acha que sua mãe não se importava com você?”

Roberta dá um risinho sem humor algum.

“Ah, não,” diz ela, encarando a folhinha de grama em sua mão, despedaçando-a entre os dedos, “Minha mãe me amava. Ela fazia questão de me dizer isso, e de demonstrar isso com bens materiais, também. Mas quase nunca tinha tempo pra mim. Eu não tenho irmãos, então acho que ela acabou me mimando demais por eu ser a única herdeira. Vai ver que foi por isso que não viu o que eu estava me tornando.”

Savirroni - Bark at the MoonOnde histórias criam vida. Descubra agora