broken heart

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Os passos ecoavam pelo espaço, tudo estava silencioso se não fosse pelo som dos sapatos a calcar o chão. O som não era alto, mas para alguém que usava a sua audição como se fossem os seus olhos, qualquer barulho era audível o suficiente para reconhecer o que acontecia à sua volta.

Pelo som emitido, o homem conseguia perceber quem andava e como andava. Eram passos lentos e graciosos, mas muito confiantes de si. Era uma mulher, a personificação da força e da sabedoria, a Deusa que o acolheu e o treinou para ser um dos melhores guardiões do templo. Ela cuidou dele como se fosse a sua mãe, confiando cegamente nas suas capacidades e potencial. As expectativas para ele eram altas demais, mas Namjoon nunca ficou atrás delas, pelo contrário, sempre as superou com distinção.

Se queria ser guardião? Não era a sua primeira opção, nem nunca havia pensado nisso, mas com aquela idade, órfão e com descrença no amor, ele não via outra alternativa. Era isso ou sucumbir para a morte enquanto perdia todos os seus sentidos de vez. Agora, ali estava ele, há anos a cumprir o seu dever de guardião, como nunca ninguém o fez.

Poderia ser cego? Sim, mas nunca fraco e incapacitado, ele era mais capaz que muitos homens e mulheres com perfeita visão. Namjoon trabalhou e esforçou-se muito para viver com a sua condição, nunca acreditando ser capaz de quebrar a maldição que lhe fora lançada. Afinal, como ele poderia ser digno de amor? Não se sentia bonito, nem se conseguia ver para saber como os anos passaram por ele. Era forte demais, isso ocasionava algumas trapalhices, e o facto de ser incapacitado e não poder ver a outra pessoa era sempre um obstáculo. Além disso, como ele poderia acreditar no amor? Ele não foi suficiente para salvar os seus pais, como seria suficiente para o salvar a ele?

Estava condenado a ficar naquele templo para sempre, não que fosse completamente ruim, mas não era livre. Estava condenado porque sabia que se saísse, a sua maldição se alastraria com o tempo e o faria sucumbir à morte. A única forma de isso não acontecer era ele amar e ser amado de forma verdadeira, mas isso nunca iria acontecer, ele já havia aceite o seu destino. Não havia ninguém que pudesse emendar o seu coração partido.

Se já havia se apaixonado? Claro! Mas sempre fora rejeitado, ou então usado para suprir as necessidades de ômegas no cio, bem como manipulado aquando padecia dessas mesmas necessidades. Era novo, ingênuo e acreditava que o amor ainda poderia dar certo. Mas agora, não havia ninguém que ousasse se aproximar dele com tais intenções, ele não cairia e não precisava de ninguém para nada. Só de si mesmo. O amor era uma mentira que quebrava corações.

Apesar disso, Kim Namjoon não era insensível. Ele era um líder nato, responsável, empático e amável, mesmo para quem já o havia enganado. Era um homem que gostava de seguir em frente em quase tudo, perdoava e ajudava sempre que era necessário e ele era notado por isso. A única coisa que o fazia sucumbir ao seu lado mais primativo era as lembranças da sua família e de como tudo acabou tão rápido.

- Namjoon. - a voz doce chamou. - Sei que estás ciente da minha presença. No que tanto pensas para me ignorar? Lembra-te que a capacidade de ler e controlar mentes é tua.

- Estou apenas a refletir sobre a minha vida.

- O destino assim o quis, não serve de nada lamentar. - disse a Deusa um pouco fria. Adorava Namjoon, como se fosse seu filho, mas odiava o seu lado humano das emoções. Como deusa da sabedoria e da força, achava-as uma perca de tempo, era muito irônico ter escolhido uma criança tão emocional e com o amor como cura para a sua maldição. Apesar disso sentia-se orgulhosa, pois o homem sabia quando deveria colocar as suas emoções de lado e quando deveria agir apenas pela racionalidade.

- Não me estou a lamentar, fui bem acolhido e treinado e tenho uma boa casa para proteger.

- Mas? - perguntou sabendo que havia algo incomodando o homem.

cursed 🌹 blessed 🌙Where stories live. Discover now