Capítulo 4

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Esse capítulo foi escrito pela Lisa na época em que ainda estávamos trabalhando na fanfic em dupla.

***

Steve observa enquanto a manteiga desliza sobre a torrada. O talher prata de ponta arredondada tem jeito de ter custado mais do que muitas das coisas que ele possuía antes de se casar com Carter. Tão diferente dos utensílios de cozinha que se dobravam para trás ao menor esforço nos tempos do orfanato.

Dá uma mordida sem culpa no pão crocante. A cidade é visível através da enorme janela do casarão, fazendo-o se sentir como um leão observando a savana do topo, e não mais uma formiga que caminha no chão impiedoso lá embaixo.

Por um momento, se permite esquecer um pouco da farsa e viver como o cara que finge ser. Aprecia o gosto das torradas caras e da manteiga fresca. Usa a escova de dentes elétrica e a torneira de água quente, veste roupas de grife e pisa no acelerador de um carro macio e silencioso.

Até mesmo a tagarelice incessante da esposa faz um certo bem — ele se sente normal. Abre os ouvidos e pensa consigo mesmo que talvez os problemas mundanos da CTR possam ser seus por um instante também. Pensa que o almoço de domingo com Amanda e Alexander é mais do que apenas uma farsa com falas decoradas, talvez ele esteja presente e curta a companhia chata daquelas pessoas intragáveis.

Por alguns minutos do dia, se sente bem em fingir que nada daquilo é com ele — não é um golpista, não está auxiliando o amor da sua vida em uma vingança doentia, e o mais importante: o amor de sua vida não é uma mulher sádica.

O amor de sua vida é a Natasha que ele conhece quando ninguém está por perto e quando a vingança dos Carter está longe dos seus pensamentos.

É a garota castigada no orfanato. É a mulher de luto no hospital. É a pessoa que faz gracinhas e se emociona assistindo a filmes biográficos, ainda que tente disfarçar.

A fachada do enorme prédio comercial da CTR se estende diante deles quando param o carro. Steve deixa as chaves da ignição nas mãos de um manobrista qualquer. Daniel? Derek? Damien? Não se lembra mais. Nem sabe se algum dia decorou.

Peggy ainda não deixou de falar e, a essa altura, ele apenas concorda com a cabeça — a esposa não precisa de muito mais do que isso.

Toda a normalidade é subitamente varrida para o fundo de sua mente quando entra na sala de reuniões. Seus olhos são automaticamente atraídos para a ruiva. Duas tranças se encontram num coque baixo logo acima da gola do blazer preto.

O sorriso aparentemente inocente que Natasha dá quando eles entram não o engana nem por um segundo — sabe pelo jeito que os olhos dela se fecham levemente que está com ciúme.

Se sentando de frente para ela, presta atenção enquanto o sogro inicia a reunião. Não sabe de fato o tema e não se importa mais. Olhando brevemente para o perfil de sua mulher — não a esposa, mas sua mulher de fato — percebe que a verdadeira farsa é o que está fazendo ali. Sua vida com Natasha é a verdade.

É impossível lutar.

A voz de Pierce parece distante, quase entediante. Steve sequer se importa do porquê estar aqui. Nada disso jamais lhe interessou. Seus objetivos profissionais sempre se voltaram a outras ambições.

Tinha vezes que ainda se perguntava por que ainda se condicionava a tudo isso. Seria mesmo pelo imenso amor que sente pela ruiva à sua frente? Ou será que o conforto que ganhou ao longo de todos esses meses já começou a fazê-lo usar Natasha apenas como um escudo para seu querer?

Katábasis 🔞 Romanogers / SteveNat (HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora