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 Vômito

Olívia estava em um estado deprimente, havia muito tempo que não ocupava o banco do carona da própria moto enquanto o veículo era conduzido por outra pessoa; ensinou Alba a pilotar e na época as duas saíam explorando a cidade de Salvador quase toda noite, revezando a direção. Saíam pelos pontos turísticos da cidade e lugares menos conhecidos, desde museus a bares. Tinham um cantinho especial e preferido, perto do Farol da Barra, o Bar do Axé, um lugar simples e que carregava muita arte, com muita música e comida baiana. As duas se divertiam, cantavam e dançavam. Esses eram alguns dos escassos momentos em que Olívia fazia valer a pena o namoro, e eram esses poucos momentos que faziam com que Alba insistisse no romance, na vida juntas. E como Olívia sentia falta desses momentos quando parava para pensar neles! 


A chuva havia dado uma trégua, mas tudo ao redor parecia absolutamente melancólico e imperfeito. Não havia estrelas no céu, a lua estava escondida entre as nuvens negras, o vento frio fazia com que tudo parecesse triste e solitário, como estava sua alma naquele instante.

— Por que eu sempre perco tudo que eu amo?

— Não pense assim, Oli. 

— Ela deve estar se pegando com a outra uma hora dessas, Gu. Como posso não ficar triste? Ver a mulher que eu amo beijando outra é algo que me destrói inteira. Não dá. Simplesmente não dá. 

— Pode não ser o fim, pode ser que haja uma chance. Mas se não houver, pelo menos você viveu momentos lindos com ela. Guarde na memória as coisas boas e siga em frente. 

— Você conseguiu fazer isso, conseguiu seguir em frente?

— Na verdade, eu me libertei, nem as memórias com ele eu acesso mais. Nem as boas e nem as ruins. E isso é ótimo, é libertação. Então, sim, estou seguindo em frente — falava enquanto guardava a moto no pequeno quintal que dava para o sobrado de Olívia.

Subiram à casa que ficava na parte de cima, o amigo com o braço sobre o ombro dela, que subia os dois lances da escada cabisbaixa. Olívia havia parado de chorar, mas assim que entrou em casa foi direto à sua adega e pegou uma das garrafas de uísque mais forte. 

— Vai encher a cara pra esquecer, né? — ele riu, meneando a cabeça em negativo.

Olívia o olhou interrogativa, já colocando o líquido no copo: 

— O que quer que eu faça, chore a noite toda? Prefiro beber para esquecer. Vou seguir em frente na base da cachaça, que seja.

— Você não vai esquecer se beber. 

— Whatever. Que seja. — Elevou o copo cheio como se brindasse com o ar e o levou à boca. 

Beberam a noite toda, o amigo mais controlado, dando bons conselhos, tentando acalmar a mulher e seus lamentos. Mas Olívia se via no fundo do poço, esperava mensagens de Alba. Toda hora pegava o celular em busca de referências dela. A vida é mesmo injusta ou é a gente que distorce tudo? Nesse instante Olívia não sabia lidar com nada, seu corpo dava sinais de esgotamento, de um desespero emocional parecido com o luto profundo. Ela começou a andar de um lado para o outro contando toda a sua vida e seus casos amorosos para o amigo. Já estava bêbada e o rapaz tinha a maior paciência do mundo para escutar e concordar com ela sobre a maioria das coisas. Ele ria, retrucava, questionava, assentia... Sentado na poltrona com os pés sobre a mesa de centro, apenas de meias, ele era a plateia perfeita para as dores de Olívia. Ria do jeito trôpego com que a amiga argumentava, de como ela trocava de assunto em segundos, sem ao menos finalizar os primeiros contos. E ele não a impedia de beber mais, sabia que naquela noite, já que estavam em casa, era permitido, ele estava ali para cuidar dela. Se precisasse intervir, o faria.  

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