Afetos de Alba

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Lembranças

Enquanto Olívia dormia profundamente ao lado do amigo na cama espaçosa, Alba seguia para casa no carro de sua mãe, com Nicole, o namorado e Letícia. A executiva contava sobre a viagem para dona Déia, que a ouvia com carinho sem tirar a felicidade do rosto por estar novamente perto da filhinha. Volta e meia ela tirava uma das mãos do volante para acariciar a da sua primogênita, que não tinha seu sangue, mas tinha mais que isso, tinha todo  seu amor de mãe. E fazia declarações de amor e saudade:

— Como eu sou grata à Irmã Dulce por você ter conseguido voltar agora, filha! A mãe te ama tanto, tava com tanta saudade. Te ver pelos vídeos não era suficiente. Queria minha filha perto, abraçar, beijar.

— Oh, mainha, eu estava com tanta saudade da senhora também. De seu cheiro, de seu abraço. 

Ela não era dada a declarações, mas sua mãe era seu porto seguro, elas eram próximas, mesmo quando a filha não queria abrir o coração para desabafar, dona Déia arrumava um jeitinho de fazê-la se abrir e colocar para fora o que a machucava. E quando a felicidade era algo que Alba julgava bastante particular, a mãe geralmente era a primeira a saber, ou a segunda, pois Nicole também era seu porto seguro. 

O tempo que passou no México foi muito bom para sua carreira e para conhecer melhor a mãe biológica e seus irmãos. Tinha poucos momentos compartilhados com eles e a mãe precisava muito de sua ajuda no período em que tratava de um câncer de intestino. A idosa já estava recuperada e os outros quatro filhos, inclusive uma irmã mais velha a quem Alba se apegou muito, cuidavam da matriarca mexicana como uma deusa. Alba voltou ao Brasil tranquila, com promessas de voltar ao México para visitas, com uma sensação de missão cumprida, sem falar que estava mais feliz e se sentindo uma pessoa mais acolhida no mundo. Porém, como sabemos, nenhuma felicidade é eterna, felicidade é como borboleta, vem, nos encanta e logo voa para longe, para encantar outras pessoas. O que fica é o rastro dela, as lembranças, essas sim são eternas. Mas naquele momento sentia-se muito feliz ao lado de sua família brasileira. 

Enquanto o veículo se movia pelas ruas de Salvador e a chuva caía mais fina, Letícia falava com Alba por mensagens. Conversava também com Nicole e dona Déia, mas ainda assim trocava mensagens com Alba, que estava no banco do carona e respondia com respostas reticentes. Ela tentava disfarçar, mas enquanto o carro percorria aquelas ruas tão familiares, as lembranças chegavam com força.

Lembranças

são laços fortes

que nos ligam

com o passado

Era impossível olhar para cada esquina e cada barzinho daqueles sem lembrar da ex. Percebia que Salvador tinha cheiro, cores e sorrisos de mulher. E de uma mulher específica: Olívia Monteiro. A capital era tão grande, mas parecia tão pequena quando as lembranças acerca dela praticamente se resumiam ao romance perdido. Era surreal pensar que uma coisa com tanto significado, cores e lembranças, havia ficado para trás, como páginas de um livro já lido.

E enquanto ela lembrava de certos momentos compartilhados com Olívia, o presente estava ali, tentando a todo custo chamar a sua atenção. O presente lhe enviava mensagens no Whatsapp, queria ser atendido, conquistar seu interesse. E de certa forma, conseguia, pois a cada palavra dita e a cada mensagem de Letícia para Alba, uma borboleta batia suas asas e alçava voos excitantes no estômago de ambas.

Já passava das duas da manhã quando finalmente Alba conseguiu tirar os saltos e a roupa de festa e pôde tomar um banho bem quente e demorado. Deixou-se relaxar envolvida pela água que escorria e acariciava seu corpo. O vidro transparente do box embaçou e ela notou um coração desenhado ali, evidenciado pelo vapor que tomava todo o sanitário. Aquilo provavelmente era coisa de Nicole, mas ela levou um susto, pois quem tinha essa mania era Olívia, sempre quando estavam juntas, quando tomavam banho juntas, a ex desenhava corações no box, fazendo com que a Alba daquela época se derretesse de amor. Ela fechou os olhos e tentou não pensar mais na ex; tentou pensar em Letícia, que era o presente, mas a Olívia de seus pensamentos era tão teimosa quanto a Olívia real. A editora permaneceu e Alba sentiu o coração apertar com um fio de angústia que parecia