Eram três da madrugada quando enfim cheguei em casa após um longo plantão na lanchonete. A casa dormia na escuridão. Minhas têmporas latejavam tanto que nem conseguia ficar em pé direito. Entrei na cozinha devagar, tentando me manter estática e abri à geladeira, pegando uma garrafa de água, a virei na boca sem pudor, o líquido gelado refrescando minha garganta seca. Quando finalmente consegui focar ao meu redor, percebi que a luz do banheiro não estava ligada, minha mãe a acendia todas as noites. Meu marido deve ter apagado, pensei comigo mesma.
Fui a passos lentos até lá, liguei a luz. Ali mesmo me despi e enfie-me debaixo do chuveiro, à água quente lavando-me a alma. Enquanto me espumava, escutei uma voz abafada, um gritinhos finos como um de um gato. Deve ser alucinação da minha cabeça, pensei. Até que ouvi uma voz masculina dizer algo inaudível. Meu marido! Me sequei rapidamente e sai do banheiro as pressas, a dor de cabeça segando meus olhos. Corri ao quarto e lá estava ele, deitado de bruços na cama, provavelmente em seu terceiro sono. Desconfiada fui a passos largos até o quarto de minha irmã, lá estava, dormindo com a bunda virada pra minha cara. Não é possível, eu sei que ouvi algo. Disse baixinho.
Não é de hoje que vejo minha irmã se engraçando com meu marido. E também não é de hoje que vejo as secadas que ele dá na poupança dela. Mas nunca imaginei que estivessem transando enquanto eu trabalho como uma cachorra naquela lanchonete fedorenta. Minha irmã é uma sem vergonha.
Me vesti e deitei ao lado de meu marido; o encarei durante uns 20 minutos seguidos tentando decifra-lo, vê se estava mesmo dormindo, porém nem um centímetro do seu rosto se mexia. Dormi com aquilo na cabeça, as vozes da minha mente confabulando um modo de descobrir à verdade. E acabar com aquela safadeza.
Na manhã seguinte encontrei minha mãe ao pé da pia, cantarolando enquanto lavava à louça.
- Bom dia, querida. - disse ela sem se virar.
Respondi carrancuda e entrei no banheiro para escovar meus dentes. Minha irmã passou por mim rebolando aquela bunda avantajada como uma cadela no cio. Tive vontade de confronta-la ali mesmo, mas me contive.
Na saída meu marido me perguntou que horas eu voltaria do trabalho, olhei bem fundo nos olhos dele. Desgraçado, a cara nem treme! Respondi que voltaria de madrugada como todas as quintas e sextas. Ele assentiu e beijou me cabeça sorridentemente. Esbocei um sorriso para que não percebesse minha inquietação e parti para o trabalho.
Esperei longas horas no bar do seu Zé, enquanto as nuvens encobriam as estrelas. Aquela madrugada seria de revelações. Duas horas em ponto eu destranquei a porta da frente, rastejando como uma serpente pra dentro de casa. Meu coração batia forte, ameaçando escapar do peito, minha cabeça um tanto quanto pesada por conta da coca cola com vodka do seu Zé. Caminhei direto para o corredor, devagarinho. Então ali na entrada, ouvi os mesmos grunhidos da noite anterior. Semicerrei os olhos tentando adivinhar de onde vinha os sons. Então de repente ouvi uma risada baixa, se assemelhava a uma hiena. Meus olhos se arregalaram, gemi em fúria e arregahei a primeira porta que encontrei no caminho. Horrorizada, cai de joelhos no chão frio, de repente não consegui ouvir mais nada ao meu redor, apenas ver; e o que eu vi foi minha mãe vestida de aeromoça enquanto cavalgava em cima de meu marido com a minha calcinha fio dental. Ali mesmo eu cai dura. Clamando pra que alguma divindade arrancasse minha alma do corpo.