"Por Trás da Casca"

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Bruce sempre detestou matemática, é claro que conseguia tirar notas boas o suficiente para passar com maestria, mas no geral detestava decorar números e dados, chegava a ter dificuldade com isso. Mas tinha um dado que lhe agradava lembrar: 65% dos alunos eram garotas.

Isso significava que estava tudo bem que a maioria das que via pelo corredor fossem medíocres, sem nenhum atributo realmente interessante. 65%, ao menos um diamante tinha que brilhar entre todas essas pérolas fajutas.

Não estava pedindo nada surreal, alguém de olhos de tons chamativos e preferencialmente raros, como verdes ou âmbar, mas se contentaria com azul. Não tinha preferências quanto ao tom de pele, mas ela deveria ser o mais lisa e macia o possível, como a dele. Cílios longos, lábios rosados e carnudos, rosto perfeitamente harmonioso, corpo simétrico e com um bom volume nos lugares certos. Alguém que, assim como ele, roubasse todos os olhares ao entrar em um cômodo, alguém que parecesse brilhar. Por que aquilo estava sendo tão difícil?

— Vai ficar encarando e julgando todas? — Brenda questionou, enquanto pegava outra garfada de sua salada.

— É tão mais fácil para vocês garotas, não tem de analisar o tamanho dos...— sua irmã o lançava o mesmo olhar de reprovação que lançava a Rúlio mais cedo — Que foi? Pare de me julgar tanto.

— Vou parar quando você for menos babaca, o que nós dois sabemos que não vai acontecer tão cedo.

— Qual o assunto? — Alex menino perguntava para os dois, enquanto se aproximava da mesa circular em que se sentavam na varanda do refeitório.

— O Bruce está novamente tentando impressionar os amigos horríveis dele, dessa vez quer arrumar uma namorada.

— Bem, ao menos seria uma pessoa a mais para ouvir as baboseiras que ele diz - o menino respondeu com um sorriso divertido, que contracenava com a expressão apática de sempre que Brenda exibia no rosto, sem intenções reais de ofender seu irmão.

— E o que você entende em Alex? Além disso, não estou tentando impressionar ninguém, isso é só um bônus. Minha intenção é ter alguém que reflita meu melhor lado.

— Ah, perdão. — Brenda começou — Não está tentando impressionar ninguém, está apenas tentando se exibir como o bobo superficial que é. Melhor? — Bruce apenas revirou os olhos como resposta e voltou a comer seu hambúrguer.

— Por que não namora uma líder de torcida? Parece fazer seu estilo clichê. — Alex sugeriu de forma zombeteira.

— Ah é, ela iria ver todos os seus jogos, vocês seriam o casal do ano e virariam o rei e a rainha do baile. — Brenda complementou em um tom sarcástico.

— Dêem pitaco quando algum de vocês tiver experiência em relacionamentos. Alex, você não tem quase 18? O "garoto exemplar" da família não conseguiu achar alguém a altura? Ou a culpa é do tempo que gasta com os livros e nossos irmãos mais novos?

— Sabe, nem tudo gira em torno dessas convenções sociais ridículas. Alguns adolescente não tem o cérebro completamente derretido e conseguem entender isso, ao invés de viver a base de ignorância, relacionamentos vazios e festas regadas a todo tipo de merda. — Brenda voltou a discursar de forma direta e decidida. Como ela nunca gaguejava ou perdia o ar?

— Tudo bem, vou deixar vocês dois com suas discussões de sempre e irei ver se a supervisora precisa de algo. — Alex informou.

— Ué... — começou Bruce, estranhando a fala do irmão — Você não vai ir ver a Alex? Por que não está com ela para começo de conversa? Aliás, ela não veio me dar nenhuma bronca até agora.

— É, isso é estranho né? — Brenda comentou, mas então, mostrando o quanto estava preocupada e interessada, voltou a se distrair com seu almoço.

Era Uma Vez Um Idiota Onde histórias criam vida. Descubra agora