No Meio Do Deserto

4. Filho

Seth ainda tremia incontrolávelmente, seus ouvidos ainda zumbido e o sangue saindo da sua boca.

Ele não sabia que tipo de ataque sofrera. Talvez um feitiço de distância da sua irmã? Magia negra que outros deuses usaram por vingança? Ou os humanos começaram a usar magia?

Seja o que for, o deus sha não ousava mexer o seu pescoço ou qualquer outro membro do seu corpo por causa da dor intensa da sua garganta.

Ele ficou ali no chão agachado e em cima do seu próprio sangue.

Nem notou a pequena criança se aproximando com cautela.

O pequeno Anúbis não sabia o que tinha acontecido com o seu pai. Mas ouvir aquele grito, mesmo que de longe do seu quarto, o fez correr imediatamente pro quarto do seu pai.

Ele sentia que a sua reza pro templo dos Primeiros Deuses tinha algo haver com o que aconteceu com o seu pai, então se culpava pela dor do seu pai e chorou um pouco por causa da culpa.

-Pai? -O menino parou ao lado do deus adulto, com o rosto coberto pelo cabelo vermelho. -Você...está bem?

Ele estendeu uma das suas mãos e tocou na cabeça do adulto, que se retraiu ao toque da criança e soltou um resmungo.

Na verdade, Seth tentou mandar a criança para se afastar, mas a sua voz não saia.

Ele olhou para uma das frestas entre o seu cabelo, vendo que o pequeno ainda permanecia no lugar, até sentia a sua mão no seu couro cabeludo.

O deus sha riu com desdém em seu coração.

Ele tem ignorado o garoto desde que matara Osíris, queria afastá-lo da sua presença por ser uma lembrança da infidelidade da Néftis, a mulher que ele amava com todo o seu coração, e também para protegê-lo, caso algo que o deus da vida tenha deixado pra trás pro Seth como uma "presente".

Mas...isso o machucava muito mais.

Sempre que via o menino de longe, lembranças da época que passaram juntos vinham a sua mente, e ele sempre as empurrava para longe, para não se emocionar sobre o passado.

Anúbis era apenas mais uma vítima dessa situação, não merecia passar por tudo isso.

O menino tinha se ajoelhado para tirar o cabelo vermelho da frente, mas a mão grande do adulto o impediu de fazer isso, o assustando um pouco.

-N-Não...mexe... -Mesmo sendo poucas palavras, Seth sentia dor em pronuncia-las. Sua voz também estava bem ronca, como se tivesse desgastado as suas cordas vocais.

O motivo para que menino não visse o seu rosto, era por causa das lágrimas que caíam dos seus olhos.

Não queria que o menino o visse tão fraco naquele pose.

Anúbis ainda estava um pouco assustado, mas estava feliz pelo seu pai não o ter mandado embora e estar segurando a sua mão, mesmo que fossem para para-lo de tocar nele.

A única coisa que ele tinha que fazer era ficar ao lado do seu pai e esperar que ele melhore. E ele faria isso só pra ficar perto do seu pai novamente.
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Em algum ligar distante.

Numa pequena cabana um pouco longe das margens do rio Nilo, Ísis descansava depois de um parto complicado.

A pequena deusa ao seu lado limpava o seu suor e a parabenizá-la pelo seu esforço, enquanto o outro deus limpava o recém-nascido, que finalmente parou de chorar.

Ísis nunca tinha achado que dar à luz fosse tão difícil. Ela já tinha participado de alguns partos das mulheres humanas nesses anos enquanto procurava pelos restos mortais do seu amado, na sua opinião, não pareciam tão dolorosos, agora, entende perfeitamente o que aquelas mulheres sentiram.

-Pronto. Limpinho pequeno. -Disse o homem enrolando o bebê em um pano branco.

Qual era o nome dele mesmo? Qebui? Não, Qebui era bem magro. Heneb? Não. O sujeito era alto e tinha quatro asas desenhada nas costas.

O deus trouxe o bebê para a antiga rainha do Egito. -Gostaria de segurá-lo, vossa alteza?

A deusa olhou pro bebê, que dormia tranquilamente nos braços do homem, então olhou pro homem e perguntou: -Ele tem alguma marca?

O deus ficou surpreso pela pergunta, não só ele, como a deusa pequena também ficou surpresa, pois geralmente, as mães perguntam se o bebê é saudável.

Heqet olhou pro deus masculino, que olhou de volta pra ela, então olhou pro bebê nos seus braços e tirou um pouco do pano que o cobria.

Mesmo com o pescoço pequeno, tava pra ver o desenho de um olho. A deusa soltou um suspiro de alívio.

"É a marca da profecia..." Pensou a deusa.

-Então, como você vai chamá-lo? -Perguntou Shehbui, cobrindo de volta o bebê, por algum motivo, ele não queria entregar o recém-nascido pra deusa, mesmo ela sendo a mãe.

Ísis pensou um pouco, depois olhou denovo pro seu filho.

Ela tentou procurar o seu amado marido nele, mas não conseguia encontrar. Então pensou no seu pai e na sua paixão por aves.

-Hórus. O nome dele será Hórus.

O bebê se mexeu um pouco, parecendo que estava reagindo ao nome escolhido pra ele.

-É um belo nome, sua alteza. -Comentou Heqet sorrindo.