11. O grito de Sha

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Já era bem tarde da noite quando um guincho animalesco soou.

Parecia como o latido dos chacais, mas feito por uma mula. O grito era alto o bastante para acordar alguns humanos que dormiam aos arredores do animal que fazia o som.

Os animais que estavam por perto reagiram a esse grito a sua maneira. Mugidos, cascos batendo no chão, rosnados, latidos e outros tipos de reações.

O grito tinha ecoado do seu local de partida, que se silenciou depois de uma certa distância.

Então, um outro grito, feito pelo mesmo tipo de animal. Seguido por outro. E outro. E outro. E outro.

Os gritos eram bem altos. Altos o bastante para despertar os humanos nos seus sonos mais profundos.

Os gritos soavam bem longe. Longe o bastante para que os outros ouvissem.

E Seth sabia disso quando viu, mesmo na penumbra da noite, algumas aves pequenas batendo as asas e voando longe do jardim.

Seus olhos dilataram com o pensamento de encontrar a causa desses gritos.
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Quando o sol estava prestes a raiar, um servo foi acordar o jovem Anúbis, que já parecia um adolescente humano.

O semideus tinha deixado o cabelo crescer até os ombros, seus músculos estavam em desenvolvimento por causa do treinamento diário, também tinha pequenas manchas debaixo dos olhos, por causa da falta de sono. Ultimamente, Anúbis estava indo dormir muito tarde do que o normal, e ele aparecia encharcado em algumas ocasiões durante o dia e a tarde.

-Umm... -Resmungou o rapaz, enquanto esfregava os olhos. -O que houve?

-O faraó o chama, meu príncipe. -Disse o servo se curvando.

-Está bem...-O rapaz bocejou. -Avisa que já estou indo.

O servo se cursou de novo e saiu do quarto do semideus, que se espreguiçou na cama, depois se sentou nela. Seu pai tinha que ter um bom motivo para tê-lo acordado tão cedo assim.

Ele saiu da cama, onde três gatos adultos dormiam tranquilamente, e se dirigiu pra piscina que tinha no outro cômodo do quarto. Se banhou e simplesmente vestiu um scheti preto, tornozeleiras e pulseiras de ouro, seu cabelo ainda estava molhado por causa do banho, mas ele não ligou muito pra isso, então saiu do quarto e foi para os aposentos do seu pai.

Tinha alguns guardas que estavam trocando de turno, que cumprimentaram o semideus Anúbis. O palácio era bem pacífico durante a madrugada, sem conselheiros humanos conversando nos corredores, sem servos andando de um lado pro outro ou os felinos correndo como formigas pelos corredores.

Foi como se tudo aquilo que aconteceu décadas atrás nunca tivesse acontecido.

Mas só tinha uma coisa que- não, melhor, alguém que fazia questão de relembrar de tudo. E Anúbis não queria pensar nessa pessoa tão cedo assim.

Quando estava perto dos aposentos do faraó, Anúbis viu o seu pai saindo de lá.

-Pai. -Ele chamou, fazendo o deus da guerra virar na direção do semideus. -Porque me chamou? O sol ainda não raiou.

O deus sha fez um sinal para que ele o seguisse, e assim ele o fez. Ambos foram pra sala de conselho, que só tinha um simples servo organizando os papiros, que se curvou para os dois homens.

-Termine o que está fazendo e saia. -Ordenou o deus sha pro servo, que acenou a cabeça e terminou com os papiros rapidamente, depois saiu da sala.

-O que tem que ser discutido que é tão importante assim pra que você precisasse expulsar um humilde servo? -Anúbis pergunta, não gostava da forma que o seu pai tinha falado com o pobre humano.

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