Alicia e o Condenado

27º capítulo

Assim que cheguei em casa eu não consegui parar de chorar, lavei minhas mãos freneticamente, mas era como se eu pudesse ver o sangue dele ali, não havia nenhuma justificativa, eu tinha pagado com a mesma moeda que ele, eu era exatamente igual a ele, anjo? Não eu nunca tinha sido! Caled tinha se enganado ao meu respeito e por isso agora morreria, fechei os olhos assustada comigo mesma e sem pensar direito arrumei uma mochila de roupas, e escrevi um bilhete curto para Helena, ela merecia uma explicação, por mais que eu não conseguisse contar a verdade a ela, em algum momento alguém encontraria o corpo de Caled e o punhal que eu tinha usado também, minhas digitais estariam lá e a policia viria atrás de mim, que decepção para Helena, que explicação eu daria a todos? Assassina, era isso que eu era e por mais que eu fugisse, eu carregaria esse peso comigo eternamente, assim que o táxi chegou eu peguei minhas coisas e saí correndo entrando no carro e escapando dali de forma sorrateira, chorei tanto durante o caminho que o taxista parou para perguntar se eu estava bem, não eu não estava, mas menti tentando me controlar para que ele não se assustasse mais, assim que cheguei no aeroporto e comprei a passagem para Nova York sentei-me em um banco e abracei meus joelhos, lembrei do dia que conheci Caled, seu sorriso, seu perfume que me enlouquecia, lembrei da forma como ele sempre me olhava, do carinho que fazia em meu rosto, lembrei também do fato dele ter salvado minha vida, algumas vezes e agora... Agora eu tinha roubado a dele, como se eu buscasse perdão Haziel apareceu do meu lado.

- Você fez o certo! Tenha certeza que será recompensada.

- Agi por impulso.

- Não, agiu movida pelo seu subconsciente no fundo você sabe que foi melhor assim, Caled era um perigo para a sociedade, logo ele mataria mais pessoas, você livrou o mundo de alguém como ele!

- Ele nunca me fez mal.

- Ele estava iludindo você!

Voltei a me lembrar dos momentos bons que eu tinha vivido com ele e de como eu me sentia quando estava próxima a ele, Deus! Se isso era certo por que eu me sentia tão errada?

- Eu não me importo com o que você acredita que é certo ou os anjos falam que é Haziel, minhas verdades são outras e elas estão me condenando nesse momento.

- Você é um anjo e ele um demônio! Entenda, aceite, o bem vence o mal e ponto!

Foi então que me lembrei de algo que a Madre Thereza tinha me dito certa vez:

"Jesus, nunca pagou com o mal para quem lhe foi mau, pelo contrário, ele lhe ofereceu a outra face, pagando com o bem e foi assim que ele converteu tantos que eram ruins, mas decidiram segui-lo".

Meus ensinamentos eram muito diferentes daqueles que Haziel queria que eu seguisse, minhas verdades eram diferentes das dele.

- Não, essa pessoa que você quer que eu seja, não sou eu!

Olhei novamente para a passagem em minhas mãos e a rasguei, corri até as portas do aeroporto e decidi voltar para casa, só esperava que Helena ainda não tivesse voltado, porque seria muito difícil explicar para ela e esperava também que eu ainda pudesse fazer algo por Caled, depois de algum tempo uma ideia tola me veio a mente, por mais que Caled fosse um demônio ele também era metade humano assim como eu, então talvez ligar para a ambulância não fosse assim tão errado, respirei fundo e fiz uma chamada anônima de emergência indicando o endereço dele.

Caled se arrastou pelo quarto praguejando baixo e gemendo de dor, puxou uma garrafa de uísque de cima de um pequeno aparador e abriu sentindo o ardor queimar sua garganta achando que talvez isso acalmasse a dor, porém nada parecia acalmar aquele ferimento que latejava.

As janelas do quarto se abriram em um rompante e ele percebeu que já não estava mais tão só.

- Beber uísque e maldizer a Deus não salvará sua vida.