Segundos mais tarde ela me encontrou no pátio da escola.
- Não acredito que estava conversando com ele.
- Não seja boba! Hélior era meu amigo antes de ser seu namorado e mesmo que vocês terminem de vez ele vai continuar a ser meu amigo, queria que ele soubesse disso e quero que você entenda isso também.
Ela suspirou.
- Certo, vou tentar aceitar isso, ele não é uma pessoa ruim e para ser sincera eu ainda gosto muito dele, mas não posso permitir que ele se sinta no direito de mandar em mim.
- Eu entendo e acredite ele também entende e sabe que errou, mas dê um tempo, quem sabe vocês dois ainda não viajam juntos.
Ela sorriu, percebi que ela ainda tinha um pingo de esperança sobre a viagem de inverno e isso me alegrou, quando nos aproximamos do portão vimos que o pai dela nos esperava, Billy não costumava vir nos buscar então estranhamos um pouco.
- Oi pai!
Disse Sophia lhe abraçando, eu ergui a mão ainda sem compreender, da ultima vez ele tinha vindo nos buscar era para avisar que o senhor Montenegro o tinha procurado, o que será que seria agora?
- Aconteceu alguma coisa? Por que veio nos buscar? Eu estou de carro lembra?
- Lembro, e é por isso que eu trouxe o motorista para levar seu carro para casa, assim posso passar um tempo com a minha preciosa filha.
Olhamos e vimos que o motorista nos olhava sorrindo, nos encaramos confusas.
- E o que devemos isso?
- Eu e Helena decidimos fazer um jantar essa noite para comemorar a vida, o que acham?
Voltamos a nos encarar confusas, mas demos de ombros, provavelmente os planos com os investidores tinha dado certo e os dois estavam felizes.
Assim que cheguei à casa de Sophia vimos que Helena estava ajudando as empregadas na cozinha a preparar o jantar, como fomos dispensadas dos afazeres decidimos ir para o quarto e fofocar.
Helena tinha levado roupas limpas para mim e acabei tomando banho lá mesmo, eu não entendia o motivo real para tudo aquilo mas Helena estava com um ótimo humor e eu não queria estragar isso.
Foi quando a noite caiu que eu passei a compreender tudo, eu e Sophia estávamos descendo as escadas quando ouvimos a campainha tocar e a empregada correr até a porta para receber o visitante.
Travei no meio da escada assim que ele entrou e me encarou, estava sério, bem vestido e arrumado, mas parecia tão confuso quanto nós duas, desci as escadas apressada seguida por Sophia.
- Caled! Não sabia que viria a minha casa!
Caled pareceu ficar sem jeito, eu me aproximei dele.
- O que faz aqui?
- Billy me convidou para jantar, pensei em negar, mas ele disse que já tinha combinado tudo, achei que você soubesse.
- Não.
Respondi firme, ele pareceu ficar ainda mais sem graça, nessa hora Billy chegou sorrindo.
- Caled! – Estendeu a mão o cumprimentando. – É um prazer poder tê-lo em minha casa, sinto se não comentei com as meninas que você viria, na realidade estava com um pouco de medo de você resolver não vir e não quis dar esperança a elas.
Ele disse me encarando, fiquei vermelha da ponta do nariz a ponta do pé, Caled sorriu entrando na brincadeira.
- Tudo bem Billy, acho que as meninas já não ligam tanto, vivemos nos encontrando.
- É justamente por isso que decidimos fazer esse jantar. – Ele fez uma pausa e então chamou minha tia que estava na cozinha e veio logo em seguida. – Helena querida, venha até aqui, Caled já chegou.
Ela se aproximou dele e o cumprimentou sorrindo, Caled me olhou por cima do ombro dela confuso como se estivesse tentando entender o que se passava, mas eu também não sabia o que pensar então, não havia nada que ele pudesse descobrir comigo.
- Caled querido, fico muito feliz que tenha vindo, eu e Billy estávamos ansiosos que aceitasse o convite e não comentamos com as meninas porque tínhamos medo que negasse, a verdade é que gostaríamos muito de mais uma vez lhe agradecer pelo que fez por elas, eu não tenho palavras para usar referente ao que fez por Alicia, essa não é a primeira vez que a salva e não sei o que eu faria se você não estivesse lá naquele momento para salvá-la, muito obrigado!
- Não fiz nada esperando por algo em troca, senhora Helena.
- Eu sei querido, eu sei, porém tenho que confessar que nem sempre eu fui a melhor pessoa do mundo, na realidade me sinto até um pouco mal de admitir isso, mas por inúmeras vezes falei mal de você para Alicia, dizendo que não a queria perto de você e que não confiava em você, hoje, porém sou obrigada a engolir tudo que eu já disse, porque sei que jamais a machucaria, ela tem muita sorte de ter você.
Caled deu um passo para trás e recuou totalmente desconsertado.
- Me desculpe, eu... Eu preciso de um tempo!
Ele disse saindo porta a fora, Helena me olhou tristonha.
- Eu disse algo que o ofendeu?
- Não acho que seja isso, Caled é bastante emotivo, deve ter ficado sem graça, eu vou falar com ele.
Eu disse sorrindo e escapando para fora, ele estava no jardim andando de um lado a outro e parecendo nervoso.
- Caled?
- Alicia essa não é a melhor hora, escute, talvez seja melhor inventar algo a eles e eu ir embora.
- Não, por favor, minha tia ficaria muito chateada.
Ele me encarou com os olhos húmidos.
- Ela está me agradecendo por salvar a sua vida! Ela está feliz por eu estar do seu lado, mas ela não sabe que eu matei a irmã dela! Tem ideia como estar aqui é hipócrita e errado?
- Eu sei, eu sei Caled, mas ela não sabe e nunca saberá sobre isso e mesmo que você se culpe e resolva ir para casa, minha mãe não vai voltar, nada fará ela voltar entende?
- Eu sinto como se eu tivesse me aproveitando de uma situação ruim, usando ela como uma forma de me aproximar.
- Eu sei como se sente, mas como eu disse, nada que você faça, fará as coisas serem diferentes do que são, o que aconteceu, aconteceu há muito tempo e independente de quem errou, precisamos seguir adiante, eu já perdoei você, então tente se perdoar também.
- Me perdoou?
Assenti com a cabeça e segurei a mão dele.
- Agora vamos entrar, Helena vai acabar desconfiando e vindo atrás de nós.
Caled ainda me encarava perdido como se eu tivesse dito algo que ele não compreendia, fiquei me perguntando se em algum momento na vida ele tinha chegado a ser perdoado por alguém.
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Alicia e o Condenado
RomanceAté onde você seria capaz de ir por amor? Seria capaz de entregar sua alma? De condenar seu corpo as chamas? Seria capaz de morrer por quem ama? As vezes nossas fantasias infantis podem se tornar grandes pesadelos e talvez viver entre os limites do...