QUARENTA E SETE

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RAFE

Agora, parado diante da porta do escritório do meu pai eu reflito sobre o quão isso poderia ter sido evitado, de diversas maneiras. Mas não posso esquecer de que exatamente isso está me deixando feliz e me fazendo esquecer completamente dos problemas que eu tenho de enfrentar, soa até irônico, pois esse é um dos problemas que tô tendo que enfrentar nesse exato momento.

Respiro fundo ainda imóvel em frente ao seu escritório, quando Sarah passa por mim e sem querer não nota minha presença ali, e quando nota ela volta andando de costas até chegar a mim.

— Tá esperando o quê? — perguntou.

Sua pergunta me tira do transe.

— Não sei — respondo finalmente — Acho que coragem...

Confesso que essa minha última frase doeu um pouco de se dizer, acho que por eu sempre ter sido o filho que nunca abaixou a cabeça para as coisas que meu pai dizia ou fazia.

Pelo contrário, eu batia de frente com ele na maioria das vezes que eu tinha razão ou até mesmo quando não tinha, nunca permiti que Ward me pusesse pra baixo ou algo assim.
Então é, foi difícil perceber que estava com medo de tratar de um assunto sobre a minha vida tão abertamente com ele.

— Coragem?! — Sarah esbraveja — Rafe, você é o cara mais corajoso que já conheci na vida, e pra melhorar você ainda é meu irmão, não acho que deva ficar preocupado com o que nosso pai vai achar disso tudo, de verdade.

Inspirei fundo mais uma vez e Sarah continuou:

— Ele não é louco de impedir ou simplesmente resolver por um ponto final na sua história feliz sendo que ela acabou de começar, e se ele fizer isso eu não me chamo Sarah se não entrar no meio e falar umas poucas e boas pra ele. — minha irmã segurou firme minha mão — Vai lá e fala só o que ele deve saber, não dê satisfações de mais nada que acontece na sua vida, não é da conta dele.

Ficou na ponta dos pés para me dar um beijo na bochecha e logo depois saiu.

Esse mini discurso de Sarah me encorajou, querendo ou não. E assim que finalmente ergui a mão pra bater na porta, Ward a abriu.

Engoli em seco.

— Oi filho, a quanto tempo está aí? — falou com um sorriso convidativo no rosto.

— Tempo o bastante pra criar coragem sobre o que preciso te dizer.

Ele ergueu uma das sobrancelhas, intrigado. Logo após me deu passagem para adentrar à sua sala.

— Senta aí, vou pegar uma dose de Uísque, quer? — ele pergunta, indo na direção da mesinha de bebidas.

Faço que não com a cabeça, mas lembro que tudo fica mais fácil depois de uma dose de álcool bem tomada, então me levanto e acabo me servindo pouco mais que uma dose.

— Ei, vai com calma garoto! — ele brinca assim que me vê virando mais da metade da bebida goela a baixo — Então, o que queria me dizer de tão espetacular que precisou se embriagar primeiro?

Revirei os olhos e senti o álcool percorrer pelo meu corpo. Agiu rápido, sinal que já posso começar.

— Você não faz ideia...

— Então me conta ué. — seu tom de voz era paciente e calmo.

Me ajeitei na cadeira, inquieto. Respirei fundo muitas vezes e corri com os dedos pelos meus cabelos desarrumados. Desregulei as horas do meu relógio de pulso e senti minha respiração ficar pesada.

Porra.

— Vamos Rafe, o que quer me contar filho, não tenho o dia todo. — disparou.

— Estou namorando.

Quando menos esperei já tinha dito.

Ergui o rosto para olhá-lo e para minha surpresa ele estava sorrindo, pôs o copo sob a mesa e me encarou; curioso.

— Ora mas isso é ótimo, não? — perguntou — Quando vou conhecê-la?

Inevitavelmente um sorriso brotou no canto de minha boca, mas era puro nervosismo.

— Conhecê-los, na verdade. — pigarreei.

Ward torceu a sobrancelha e tombou levemente o rosto para o lado, procurando explicação.

— Como assim conhecê-los? Rafe, o que quer dizer com isso? — ele se recostou na cadeira e cruzou os braços.

— É isso mesmo que você ouviu, tô namorando com duas pessoas. — bebi o último resquício de uísque e também me encontrei na cadeira, soltando a respiração e relaxando.

Ufa!

— Quem são essas pessoas? Merda Rafe, o que você tem na cabeça? — murmurou.

Pensei em dar mais uma enrolada nessa maldita conversa, mas já que tô no inferno só me resta abraçar o capeta, né?!

— S/N Jones e JJ Maybank. — disparei sem aviso prévio.

Joguei a bomba no colo dele e esperei que ele também fizesse isso comigo. Esperei gritos, xingamentos e até um tapa na cara, mas para minha surpresa ele não mexeu um fio de cabelo. Bom, não até eu ter silenciado meus pensamentos.

— Como é que é? — esbravejou se levantando da cadeira — Você tá namorando aqueles pogues filhos da puta?

Levantei também.

— Lava a sua boca pra falar deles! Você não sabe nem a metade dessa história pra se achar no direito de dizer alguma coisa aqui, e mesmo que soubesse, não é da sua conta, porra! — gritei.

E então a última coisa de que me lembro é do copo de uísque dele voando em minha direção. Isso eu realmente não tava esperando.

𝐋𝐨𝐯𝐞 𝐁𝐞𝐭𝐰𝐞𝐞𝐧 𝐓𝐡𝐫𝐞𝐞 || 𝗝𝗝 𝗲 𝗥𝗮𝗳𝗲.Onde histórias criam vida. Descubra agora