Cada pedacinho

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O corpo de Draco Malfoy estava em chamas. Não literalmente, tampouco de um jeito bom.

Estava diante da casa número 4, na rua dos Alfeneiros, em Surrey. A casa era exatamente como qualquer outra da vizinhança, sem nenhuma decoração ou detalhe que expressasse identidade e tornasse os moradores diferentes dos outros. Não havia mais nenhum Dursley ali, mesmo assim os guardas cercavam a casa e garantiam que o príncipe não corria nenhum risco em sua visita pouco real, mantendo os olhos atentos e as armas em mãos, muito pouco hesitantes em atirar em qualquer ser que se movesse sem permissão ou aviso.

Alguém abriu a porta para que ele entrasse e o alfa imediatamente entortou o nariz. O lugar todo cheirava a poeira, suor, mofo e algo ácido que fazia seu nariz arder um pouco ao respirar, o cheiro de Harry também ainda estava presente, mas estava amargo e fraco, provavelmente porque o ômega nunca se sentia confortável ou minimamente seguro naquele lugar e isso o fez rosnar.

Os guardas se afastaram, notando a piora do seu humor, mas Draco se limitou a ignorá-los e caminhar até o único lugar que estava embaixo da escada. Era um armário, Harry tinha passado todo aquele tempo dentro de um maldito armário minúsculo. Outro guarda destrancou o armário – havia dois cadeados ali! – e revelou um cenário que Draco levaria anos para esquecer, isso se conseguisse. Podia imaginar o quanto qualquer um poderia ver a crueldade e o descaso, mas o príncipe sentia a dor, dor ao imaginar seu ômega naquele lugar, dor ao pensar no sofrimento que aquele lugar causou e no sofrimento que agora representava. Tudo bem, não era o seu ômega, mas não fazia diferença porque o problema, na verdade, era todo aquele lugar, não apenas o armário com um colchão decrépito e muitas teias de aranha na parede, mas sim toda a maldita casa.

Nott, um dos seus mais confiáveis, aproximou-se para erguer o colchão com as mãos enluvadas e retirar uma fotografia, que logo foi entregue ao alfa. Draco observou o casal Potter sorrindo um para o outro antes de olhar ao redor tendo a amarga impressão que todas as paredes daquela casa poderiam ser testemunhas de uma atrocidade contra o ômega e de repente sentiu vontade de destruir cada pedacinho do que via.

― Já tenho o que preciso ― anunciou enquanto dava as costas para o armário ― Queimem tudo.

Ser amado não significa que não poderia ser temido.

O príncipe alfa não costumava tomar decisões tão extremas, mas o ódio queimava sob sua pele e exigia uma ação permanente. Tratava-se do seu ômega! Foda-se se ainda não era oficialmente, Harry dominava sua mente desde o primeiro dia de aula e o resto do corpo desde a primeira noite que passaram juntos. Harry era... Harry! O garoto mais teimoso, irritante e malditamente altruísta que conhecia, sempre ajudando qualquer um com qualquer coisa, como alguém poderia sequer pensar em machucá-lo?!

Voltou para o hospital o mais rápido que pôde, por pouco perdendo a própria escolta de vista, mas hesitou no saguão de entrada. Respirou fundo e tentou se controlar, seu cheiro estava muito forte e poderia incomodar Harry, até mesmo prejudica-lo, então precisava voltar a si antes de voltar para o quarto do ômega.

Quando achou que estava razoável, seguiu seu caminho.

Harry estava dormindo um sono agitado, o corpo encolhido e trêmulo de frio. Draco se aproximou e tocou em seu rosto, sentindo a pele fria demais para ser saudável.

― Harry... ― chamou com cuidado, não queria assustá-lo, para precisava acordá-lo para verificar melhor sua saúde ― Harry.

O ômega se remexeu a contragosto e acordou aos poucos, arregalando os olhos ao ver o príncipe ali.

― Draco!

― Ei, calma. Só precisava saber como você está, sua pele tá gelada.

― Eu tô com frio...

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⏰ Última atualização: May 10, 2023 ⏰

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