•TERRAS ALTAS ESCOCESASO Sol do fim da tarde se infiltrava sobre a grande extensão de grama espessa, transformando as lâminas verdes em douradas. No céu, as nuvens se moviam lentamente, com movimentos morosos que imitavam as ovelhas fofas nos campos abaixo. Sentados num muro de pedra, um pastor e seu filho de quatro anos de idade vigiavam o rebanho. Aos seus pés estavam dois collies, com os olhos fechados por estarem descansando do seu dever de cães de pastoreio por um instante. Aquela era a primeira vez do menino nos campos com o pai. Esperara por esse dia impacientemente, tendo sempre sido deixado para trás enquanto os irmãos conduziam os rebanhos para lugares cada vez mais afastados. Mas agora era a sua vez. Correra atrás do pai o trajeto todo, tentando não assustar as ovelhas quando finalmente as encontraram nos limites de um dos campos mais distantes. Em seguida, gritou e as chamou, imitando o pai o melhor que podia, a fim de que as criaturas peludas se movessem. Com todas as novas experiências, a corrida e os gritos, o menino estava faminto. A refeição logo foi devorada, e agora ele dava uma enorme mordida em seu bolo predileto. Farelos caíram em seu colo enquanto ele se deliciava com o doce. Notando que o pai colocara sua porção no chão ao lado dele, o menino inclinou a cabeça.
_Não quer mais o seu doce, papai? – perguntou.
_Estou deixando um pouco para o Povo das Fadas – o pastor respondeu, com o rosto desgastado pelo tempo, muito sério. Desperdiçar um doce? O menino nunca ouvira falar sobre tal coisa.
_Por quê? – perguntou. Sorrindo ante a natureza inquiridora do filho, o pai respondeu:
_Em agradecimento por eles terem ajudado no crescimento da grama e na exuberância das flores. Para lhes mostrar que não temos intenção de feri-los. - Contudo, essa não era uma resposta satisfatória para o menino. Ele tinha mais perguntas.
_Por que eles fazem isso? Por que nós os feriríamos? – perguntou, com sua voz fina carregada de confusão. Antes de dizer qualquer coisa, o pastor alisou a terra debaixo de si com a bota gasta. As solas estavam marrons com a terra dos campos, e as pontas estavam desbotadas. Os tempos vinham se mostrando difíceis, visto que o rei Henry exigia mais dos seus campos e das suas ovelhas a cada ano que passava. O fazendeiro agora se agarrava com determinação a coisas como botas, esperança e terras.
_Eles são parte da natureza. Cuidam das plantas, dos animais, até mesmo do ar – ele prosseguiu ao apanhar um montinho de terra fofa para formar uma guirlanda de terra ao redor do presente doce. – Mas nem todos os humanos lhes dão valor. Algumas pessoas atacam suas terras, querendo colher os benefícios de todos os seus tesouros naturais. Sim, existiram muitas guerras sem sentido entre os humanos gananciosos e o Povo das Fadas. E não importa quanto os dois lados se esforcem para manter a paz, sempre parecemos estar à beira de outra guerra. – O pastor fitou ao longe com um olhar melancólico. Era informação demais para o menino processar. O pai estava falando bobagens Toda vez que ele dizia tolices, sua mãe lhe dava um tapa na cabeça e o mandava para o celeiro para limpar as baias. Visto, porém, que ele não podia fazer tal coisa com o pai, apenas perguntou:
_Por que está fazendo isso com a terra?
_É um sinal de respeito – o pai respondeu simplesmente. - Queremos que o Povo das Fadas saiba que é seguro comer o bolo. Não queremos que pensem que tentamos envenená-los. As fadas podem ser bem malvadas se forem provocadas. – Levantando-se, assobiou para os cães e começou a andar de volta para casa.
Atrás dele, o menino estava sentado na mureta, com a cabeça cheia de pensamentos. Nunca ouvira falar de fadas malvadas. Olhando com nervosismo por sobre o ombro, perscrutou a mureta larga. Insatisfeito por não estar sendo observado por fadas malvadas, saltou das pedras. Em seguida, emitindo um gritinho, correu atrás do pai. Quando se viu seguro bem ao lado dele, o menino exalou um suspiro de alívio. Começou a olhar ao redor nos campos, ansioso por ver um membro do Povo das Fadas. Conforme desciam a colina, pastoreando as ovelhas em direção à casa, que era apenas um pontinho ao longe, o menino ficou olhando do céu ao chão. Vendo um ponto verde sobre uma flor próxima, parou e o mostrou ao pai
_Aquilo é do Povo das Fadas? – perguntou, cheio de esperanças. O pastor negou com a cabeça.
_Não – respondeu ele. – Aquilo é um gafanhoto. - Apontando para outra flor, o menino voltou a perguntar.
– E aquilo? - Mais uma vez, o pastor balançou a cabeça.
_Não, aquilo é uma libélula – respondeu. Ao perceber que até dar mais informações ao filho viriam mais perguntas, o pastor acrescentou - Nem todos os seres do Povo das Fadas são pequenos. Alguns são tão grandes como nós. Alguns têm asas e outros, não. Mas todos têm orelhas pontudas. - Levantando a mão, o menino esfregou as próprias orelhas. Seus olhos se arregalaram.
_Papai, acho que eu sou um deles! – exclamou. Sufocando uma gargalhada, o pastor parou e se virou na direção do filho.
_Deixe-me ver essas orelhas – disse, examinando a cabeça do menino com atenção. – Não, não são pontudas. – Depois virou o filho de costas. – E também não tem asas. Você é só um menino.
O filho sorriu, aliviado. Por mais que desejasse ver uma das criaturas mágicas, definitivamente não queria ser uma delas. Levantando um dedo, o pastor apontou para as terras que ladeavam os campos de pastoreio da família.
_Se você fosse um deles – prosseguiu o pai do menino – viveria ali. Aquilo são os Moors, o lugar em que as fadas vivem. Eis o motivo de tanta confusão. - O olhar do menino acompanhou o dedo do pai, e seus olhos se arregalaram.
Nunca vira os Moors antes. A casa do Povo das Fadas ficava distante demais. No entanto, ouvira os irmãos comentando sobre ovelhas que se desgarraram para lá e nunca voltaram. Mesmo no brilho quente da luz do entardecer, os Moors estavam cobertos por uma neblina, escondendo tudo e todos que entrassem lá. Estendiam-se em ambas as direções, com árvores altas que se torciam e cresciam em direção ao céu e escondiam as terras além delas. Na base dos troncos, amentilhos cresciam sob a luz multicolorida do sol, estendendo-se na direção das terras humanas como se estivessem curiosos. O menino estremeceu.
Voltando a sua atenção uma vez mais para as ovelhas, o pastor retomou a caminhada na encosta da colina. O menino se retardou atrás deles, com os olhos colados nos Moors. Conseguia enxergar comida no chão, junto de totens e de talismãs pendurados nos galhos das árvores que delimitavam as terras das fadas. Estreitou o olhar, tentando enxergar mais através da neblina. Sem conseguir, e tomado de curiosidade, o rapazinho começou a andar na direção do vale nebuloso. Momentos depois, encontrou-se nos limites dos Moors, e a neblina se abriu o suficiente ao seu redor para que ele enxergasse pedras e pequenos arbustos que cobriam o chão. Ajoelhou-se, enfiou a mão no bolso e colocou com cuidado o pedaço de bolo comido pela metade sobre a pedra. Recuou um passo e esperou.
Nada aconteceu.
O menino empurrou o pedaço mais para o centro da pedra. Ainda assim, nada aconteceu. Desapontado, o menino se virou para ir embora. O sol se poria a qualquer instante, e ele precisava voltar para casa com o pai. De repente, ouviu um farfalhar atrás de si. Parou. Virando-se lentamente, observou com olhos bem abertos um par de antenas semelhantes ao de um inseto se erguer na beirada da pedra. Rapidamente, o menino se escondeu atrás de uma pedra próxima dali, com o coração acelerado e a respiração ofegante. As antenas tremularam como se testassem o ar. Um instante depois, duas asinhas azuis surgiram, e uma fada azul brilhante saltou por sobre a pedra. Sua pele era quase transparente, como uma gota de orvalho, e o movimento das asas coloridas atrás dela era hipnotizante. Era a coisa mais bela que o menino já vira na vida.
Sem saber que tinha companhia, a fada minúscula esticou a mão na direção do bolo. Atrás de sua pedra, o menino sentiu o nariz coçar. Remexeu-o, tentou evitar o inevitável, mas não havia nada que pudesse fazer. Acabou espirrando. Ao se virar, a fada encontrou o olhar do menino. Por um instante, nenhum dos dois se mexeu, ambos maravilhados um com o outro. No entanto, logo houve um latido forte, e um dos collies se aproximou. Antes que o menino pudesse dizer qualquer coisa, a fada se afastou pelos ares, deixando o bolo para trás. Com um suspiro, o menino se levantou e começou a se afastar dos Moors com a cabeça repleta de pensamentos e de perguntas. Que tipo de fada teria sido aquela? Seria jovem ou velha? Amigável ou malvada? Existiriam outras como ela? E o mais importante, para onde ela estaria indo?
VOCÊ ESTÁ LENDO
The Sleeping Beauty - Drarry
FanfictionSeverus Prince e o protetor do reino dos Moors. Desde pequeno, este garoto com chifres e asas mantém a paz entre dois reinos diferentes, até ele se apaixonar pelo garoto James potter. Os dois iniciam um romance, mas potter tem o desejo de se tornar...