Meu nome é S/n, E hoje está chovendo muito, o céu parece constar eternamente em tons sombrios, e a água cai do céu com uma persistência que é ao mesmo tempo impressionante e preocupante. Desde ontem, as ruas da minha cidade são rios de água turva.
Enquanto encaro pela janela, vejo as gotas escorrendo espontâneas no vidro, criando padrões caóticos que refletem meus pensamentos. Na televisão, o noticiário ecoa a preocupação coletiva. - Inúmeros alagamentos registrados na região. As autoridades recomendam cautela e, se possível, evitar sair de casa! - Diz o âncora com um tom de seriedade.
Nesse exato momento, estou em frente ao espelho, ajustando a gola da camisa com mãos trêmulas. Sinto um misto de ansiedade e excitação percorrendo meu corpo. Tenho uma espécie de ritual matinal, algo que me ajuda a preparar a mente e o coração para o dia que se inicia na faculdade.
Não importa que esteja chovendo muito. Aliás, gosto especialmente desses dias chuvosos, de alguma forma, me conforta. Talvez seja pelo contraste com os corredores barulhentos e cheios de vida do campus, onde sempre há uma necessidade constante de interação social. Mas eu prefiro ficar mais na faculdade do que em casa, e eu tenho os meus motivos.
Desde que eu me entendo por gente, sempre tive que me virar sozinha. Lembro-me vagamente do rosto da minha mãe, um borrão distante nas memórias da infância, colorido com sentimentos de falta e saudade. Ela morreu quando eu era muito jovem, deixando um vazio que nunca foi preenchido. O sofrimento de sua ausência me acompanhou desde então, crescendo e se transformando em uma espécie de escudo emocional que me manteve isolada dos outros.
Fiquei apenas com meu pai, uma presença fragmentada e errática na minha vida. Na maioria das vezes, ele estava mais ausente do que presente, sua figura marcada pelo cheiro azedo de álcool e pela sombra das dívidas que ele acumulava com agiotas. Em casa, ele raramente bebia. Havia uma espécie de silêncio tenso entre nós, um buraco negro que sugava toda e qualquer tentativa de conversa ou conexão genuína. Por isso, ele preferia beber fora, rodando pelos bares da cidade, cada noite se afundando um pouco mais em um ciclo vicioso de autodestruição.
Eu assistia a tudo com um misto de angústia e resignação. Cada gole de bebida que meu pai tomava era um mergulho mais profundo em um abismo que parecia engolir tanto a ele quanto a mim. As noites em que ele não voltava para casa eram as mais difíceis. Ficar sozinha naquele apartamento vazio fazia com que a solidão ganhasse um peso quase insuportável, preenchendo cada canto com uma sensação densa de abandono.
As manhãs seguintes sempre eram um ritual doloroso. Eu o encontrava estirado em algum canto da cidade, seus olhos turvos e cheios de uma tristeza antiga. Carregava-o para casa, sentindo o peso de seu corpo e de sua ruína em meus ombros frágeis. Às vezes, ele murmurava pedidos de desculpa incoerentes, e, embora eu soubesse que ele provavelmente não se lembraria de nada no dia seguinte, uma parte de mim sempre esperava por um vislumbre de redenção no olhar dele.
Ao longo dos anos, fui desenvolvendo uma casca dura ao meu redor. Aprendi a ficar em silêncio, a não esperar nada de ninguém e a encontrar forças nas pequenas coisas do dia a dia. A vida me empurrou para amadurecer antes do tempo, e, no processo, acumulei cicatrizes invisíveis que me moldaram tanto quanto qualquer experiência mais feliz poderia ter feito.
Mas, naquele dia...
Havia pouco dinheiro em cima da mesa, apenas algumas notas solitárias que pareciam ainda mais desgastadas sob a luz fraca que entrava pela janela. Ao lado delas, uma carta, dobrada de forma apressada. Meu coração já pesava com a ausência que eu sentia, e o silêncio da casa parecia gritar em meus ouvidos.
Com mãos trêmulas, desdobrei a carta, cada movimento ecoando na quietude do lugar. As palavras, embora poucas, carregavam um fardo enorme, esmagador.
"Não vou estar em casa por um tempo, não deixe de comer, Pai."
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𝑶 𝑫𝒆𝒖𝒔 𝒅𝒂 𝑬𝒔𝒄𝒖𝒓𝒊𝒅𝒂̃𝒐 / 𝑱𝒖𝒏𝒈𝒌𝒐𝒐𝒌 18+
Fanfiction╰┈➤ 𝑺/𝒏 𝒆́ 𝒖𝒎𝒂 𝒋𝒐𝒗𝒆𝒎 𝑼𝒏𝒊𝒗𝒆𝒓𝒔𝒊𝒕𝒂́𝒓𝒊𝒂, 𝒒𝒖𝒂𝒏𝒅𝒐 𝒆𝒍𝒂 𝒆𝒔𝒕𝒂𝒗𝒂 𝒗𝒐𝒍𝒕𝒂𝒏𝒅𝒐 𝒑𝒂𝒓𝒂 𝒔𝒖𝒂 𝒄𝒂𝒔𝒂, 𝒏𝒐 𝒄𝒂𝒎𝒊𝒏𝒉𝒐 𝒆𝒏𝒄𝒐𝒏𝒕𝒓𝒐𝒖 𝒖𝒎 𝒄𝒐𝒆𝒍𝒉𝒐. 𝑨𝒔𝒔𝒊𝒎 𝒒𝒖𝒆 𝒐 𝒄𝒐𝒆𝒍𝒉𝒐 𝒃𝒆𝒊𝒋𝒐𝒖 𝑺/𝒏...