É o que irmãos fazem

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Após três dias do incidente com Tom, eu ainda me torturava mentalmente.

O estágio inicial da nossa amizade parecia se estender entre nós como um grande muro, nos separando e nos afastando. Passamos a nos evitar, falando apenas quando extremamente necessário.

Tom parecia conter uma raiva de mim — ou da situação — e evitava até mesmo me olhar nos corredores.

As histórias sobre a garota misteriosa que acompanha a Tokio Hotel tem se duplicado cada vez mais e j cheguei a receber uma revista onde quase todos os tópicos eram relacionados a especulações sobre mim.

Nesses dias eu fiquei trancafiada no hotel, geralmente de baixo das cobertas e assistindo TV, já que qualquer mínimo movimento lá fora se tornava motivo de paparazzis estrategicamente posicionados tirarem diversas fotos. Por algum milagre, não fomos vistos na praia, apenas especulações de fãs verem Tom e Bill acompanhados de uma garota loira a beira-mar.

Hoje os garotos se apresentarão em uma entrevista e infelizmente minha presença vai ser obrigatória, o que me faz tremer.

Para sair do prédio, tive que descer todos os lances de escada do hotel até o estacionamento subterrâneo e então, ser enfiada em um carro com vidros blindados e fume com dois seguranças de escolta.

Cruzando a cidade, me pergunto como foi que cheguei a esse momento, tremendo até mesmo para sair do próprio carro, com medo do que pode acontecer.

Fui enfiada dentro de um camarim junto com os seguranças, como um deles, mas todos sabem que isso é para proteção.

Após assistir meia hora de arrumação do cabelo de Bill, eu me analiso no espelho pela primeira vez.

Meus cabelos loiros estão pouco a cima dos ombros, a raiz escura voltando a nascer do topo da cabeça. Meus olhos azuis estão rodeados por uma fina escuridão de olheiras e minhas bochechas estão vermelhas pelo frio.

Bill sorri para mim pelo espelho e eu sorrio de volta, sem mostrar os dentes.

Eu sabia o que fariam a seguir, o que vão fazer. Bill e os garotos sairão por aquela porta e iniciarão uma entrevista desconfortável, e então: vão falar sobre mim.

Bill, Tom, Gustav e Georg dirão coisas e me colocarão com a face aos lobos.

Talvez você goste de fama. Talvez você realmente sonhe em algum dia ter isso, mas eu não. Não eu.

Lembro-me de como a fama afetou meus melhores amigos. De ver Bill e Tom deixarem de ser apenas os gêmeos problemáticos e se tornarem amados e odiados na mesma intensidade.

Me lembro dos xingamentos, dos apedrejamentos em shows deles. De como os odiavam tanto que precisavam demonstrar isso pisando em cartazes com seus rostos estampados. Lembro-me de ouvir tantos comentários a respeito do peso do meu irmão em entrevistas e conversas, coisas desconfortáveis demais.

Tokio hotel é amada, querida e possui uma fanbase enorme. Mas também é odiada, às vezes, odiadas por seus próprios fãs, que transformam a admiração em obsessão.

Vai por mim, não é algo que eu quero.

Serei enfiada em um palco ao lado do grupo alemão mais famoso de 2005, mostrar meu rosto para todas suas fãs, desde as amorosas as fissuradas, e então, conviver com isso pelo que pode ser o resto da vida.

Quando os garotos foram chamados, me dirigi ao set com eles. Tom se quer olhou para mim em todo esse processo, mesmo sabendo que eu desejo isso. Quando chegamos, ele possuía olheiras profundas circundando os olhos, mas foram cobertas com maquiagem no camarim. Não posso evitar pensar em quanto tempo dormiu essa noite, e quanto tempo dormiu nas anteriores a essa.

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