SANGUE DE FERRO | Vingadores

PRÓLOGO

Se as estrelas estivessem mais próximas da terra, haveriam pessoas apostando que algumas delas foram roubadas para serem guardadas dentro dos olhos da herdeira bilionária.

Angelina Maria Stark.

Olhos marrom escuro, quente e cintilante como explosões cósmicas. Porta de sua alma, Tony gosta de dizer; deslumbrante como a visão do infinito universo.

Quase ilude o suficiente para disfarçar a travessura que a acompanha desde sempre. Pequena gênio do mal com olhos de corça; como poderia não ser, havendo herdado a genética do pai.

O castanho era predominante; olhos, cabelos e nas pequenas sardas salpicadas em suas bochechas. Nariz de botão, lábios médios levemente rosados — que apesar de frequentemente castigados por dentes ansiosos, ainda são bonitos. Não alcança os 1,70 de altura, mas chega bem perto, talvez 2 centímetros a menos.

Ela se chamaria de simples, bonita sem nada que a destaque — além do sobrenome mundialmente famoso.

Mas sua vida não é perfeita.

Costumam chamar a vida dos mais afortunados financeiramente de vida fácil. Ou como o caso de Angelina, "vida fácil e dos sonhos".

Talvez estejam certos. Angelina iria querer viver sua vida também se fosse outra pessoa.

Talvez.

Só que às vezes, só às vezes, o mundo parecia se tornar grande demais; barulhento demais.

Ser filha de Anthony Stark significa muitas coisas, entre elas está ser arremessada em um mundo de ameaças inimagináveis.

Nascida no meio da tarde do dia 14 de julho de 2000 — famoso ano da virada do século — Angelina enfrentou ali mesmo sua primeira grande dificuldade: a mãe biológica.

Algumas mulheres nascem para ser muitas coisas. Magnatas, médicas, advogadas, artistas; mas não nascem para serem mães. No caso de Angelina, sua mãe biológica nunca viu sentido na maternidade. Não era seu objetivo. A ideia e enjoava quase tanto quanto o pensamento de abandonar seus sonhos por um homem. Então, quando descobriu a gestação ela contou a Tony e ambos discutiram o assunto.

No final, ela deu à luz a pequena criança e foi embora deixando Angelina com alguém que a amaria mais do que suficiente.

Amor que a mãe biológica nunca poderia dar. Mas o pai sim.

Tony, apesar do que muitos duvidam até hoje, nasceu para ser pai. Na experiência dele, seu falecido velho Stark, foi um pai ruim. Frio, distante, e muito focado em seus projetos e ideias futuristas para criar uma criança bem. Muito focado em entender máquinas para entender humanos.

Coube a Tony, sem muito esforço, usar a história ruim de relacionamento paterno para se tornar muito mais; não perfeito, mas falho do jeito certo, do jeito que não machucaria — e se machucasse, que não fosse irreparável.

Ele supriu tudo o que poderia faltar, deu amor o suficiente para quase esvaziar o mundo.

Aos 8 anos, a segunda dificuldade veio. O sequestro de Tony correu como noticia e fofoca em todos os tabloides possíveis. A pequena criança que não conhecia nada mais do que o pai, o segurança — Happy — e a secretária ruiva bonita — Pepper — se encontrou sozinha.

Ser sozinha é uma merda, descobriu a Stark — tornou-se também seu pior medo.

E quando Tony retornou, tudo era diferente. Não mais com tanto tempo livre após pegar o controle das Indústrias Stark das mãos do homem que o traiu — Obadiah Stane. Havia também o traje, o Homem de Ferro.

Tudo o que era ruim foi ampliado.

Aqui, Tony colocou um novo alvo em suas costas: Stark, pai, e agora Homem de Ferro.

Aos 12 anos, o mundo de Angelina foi revirado novamente. Portais se abriram no céu com direito a alienígenas gigantes, destruição em massa e super-heróis. E é claro, Tony Stark tentando se matar para salvar o mundo — não porque ele quer morrer, mas porque salvar o mundo significa manter sua garotinha viva.

Já que Tony não consegue a manter salva devido suas escolhas, manter Angelina viva é tudo o que importa para ele como pai.

Aos 13 anos, um inimigo inesperado explode a mansão Stark com todos os membros da família dentro — Pepper agora inclusa. Tony, sem outra saída, entrega um traje como o dele para a filha e ambos embarcam em uma corrida para salvarem suas vidas.

É também aos 13 anos que Angelina mata pela primeira vez ao escolher deixar seu agressor e sequestrador para morrer em um avião que explodiu. Nesse dia, ela sozinha salvou outras treze pessoas, e em seguida assistiu seu pai salvar o mundo de uma guerra, novamente.

E aos 15 anos Angelina começa a perceber que sua inocência morreu pouco a pouco com o passar dos anos. Aqui ela começa a se apaixonar mesmo sabendo que é uma péssima ideia; aqui ela cria um monstro incontrolável; aqui ela descobre que apesar de amar o que faz, a morte está sempre ao lado dela. Perto demais — mais do que ela havia notado.

Aos 15 anos, o mundo perde o restante do brilho infantil.

Quem diria? A perfeição que o mundo vê nela e em sua vida é coberto por um fino véu de ilusão. Com o passar do tempo, esse véu vai se desfazendo lentamente até que...

Felicidade, eh? Tão próximo dela que quase é tocável. Uma pena que assim como Ícaro, Angelina percebe que se voar perto demais do sol — felicidade — ela sempre acabará queimada.