Parte III

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   O barracão dos Irmãos Kinkade ficava apenas há algumas quadras a oeste, então não demoramos muito para chegar até lá. No caminho o Doutor me explicou que os "fantasmas" estavam na verdade tentando passar para a nossa realidade, para o meu tempo, e ao fazer isso eles emitiam um som muito baixo, em uma frequência que só os animais conseguiam ouvir, por isso eles ficavam tão agitados. "Não... bem, sim. Talvez!", respondeu o Doutor quando perguntei se era por causa disso também que os cachorros estavam correndo atrás dele, "os fantasmas deve- ugh! Já tô até chamando eles de "fantasmas"... Enfim, eles devem estar usando algum tipo de controle ou absorção de ondas cerebrais, e isso é mais fácil de se fazer com seres inferiores. Se eu tiver que chutar, diria que os cachorros estavam atrás de mim porque foram mandados".

   Quem era aquele homem? Tudo aquilo parecia tão normal para o Doutor, como se ele vivesse isso todos os dias, e nem se importava se eu entendia alguma coisa do que ele dissesse ou não, mas ainda assim ficava demasiado animado ao ter que explicar algo, mesmo que eu pedisse que o fizesse novamente. Entretanto, quando eu perguntava sobre ele, o Doutor dava respostas evasivas, falando muito e dizendo tão pouco. E ainda assim, a cada minuto que se passava eu ficava cada vez mais fascinado com ele.

   Assim que entramos no barracão (o qual o Doutor abriu usando sua chave de fenda sônica – ou pelo menos foi assim que ele chamou o seu cilindro metálico que fazia barulho), ele foi imediatamente atrás dos equipamentos que estavam espalhados por lá, como formigas vão atrás de açúcar. Antenas, fios de cobre, gramofones, garfos e colheres, fonoautógrafos, fonógrafos, cilindros, telefones quebrados dentre outras coisas estavam servindo de material para ele naquele momento.

— Eles não têm forma física. Bem, na verdade têm, mas não aqui, não agora. Eles são como um peixe num rio congelado; a gente não consegue ver eles propriamente, mas eles estão lá, embaçados, e estão tentando quebrar o gelo para passar para o outro lado. — O Doutor explicava enquanto demarcava um círculo no barracão, com algum tipo de cabo conectado a duas novas bugigangas que ele havia criado: dois gramofones integrados com telefones, e dois fonoautógrafos, cada um em um ponto cardeal do círculo, formando uma cruz.

   E enquanto isso eu apenas passava os objetos que ele me requisitava, tentando fazer algum sentido do que ele me dizia.

— É essa imagem distorcida que vemos, e ao eles fazerem isso, eles emitem um certo tipo de som que, se eu estiver certo e eu sempre estou certo, posso fazer o som ecoar quase que na mesma frequência, criando um tipo de barreira sônica e prendendo um deles dentro desse círculo aqui. Ha!

— É basicamente um ciclo, então? Eles emitem o som, você capita ou grava, sei lá, e depois reproduz. E aí começa de novo. — Comentei, intrigado.

— Oh, bom garoto! Pegou rápido, hã?

   Dei um sorriso e tentei mudar a direção do meu olhar quando senti o meu rosto corar com o elogio.

— E o que tudo isso tem a ver com as mortes e o cérebro dos cachorros?

— Hm, boa pergunta! Ainda não tenho certeza, mas eles devem estar fracos, precisando de energia. E desconfio que para fazer esse tipo de transpassagem requeira bastante.

   O Doutor não parava de mexer em suas invenções nem mesmo para falar, era como ele estivesse animado com aquilo de certa forma, e a todo momento ou usava a sua chave sônica nelas ou o estetoscópio. Ele parecia estar também correndo contra o tempo, concentrado tanto no que fazia ao ponto às vezes nem escutava o que eu dizia.

— Se o círculo é que vai servir de armadilha, o que é essa coisa que você está construindo agora? — Naquele momento o Doutor trabalhava no dispositivo mais estranho de todos. Era uma junção de um fonógrafo, com uma máquina de escrever, um telefone, uma antena e o que parecia ser uma bobina improvisada. O trambolho todo estava conectado por um fio ao círculo que o Doutor armou como armadilha.

Doctor Who - Os Fantasmas de YorkOnde histórias criam vida. Descubra agora