Capítulo 8

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Depois de um longo dia de trabalho eu deveria estar saindo para um bar ou algo do tipo para refrescar a cabeça e encher minha bunda seca de bebida, mas não, eu estou indo para casa para levar minha filha a psicóloga e ficar um pouco com ela, para depois, assinar uma tonelada de papeladas enquanto tomo uma garrafa de água porque está cadela aqui é anti-álcool.

Parece estúpido, mas desde que minha esposa faleceu, minha vida nunca mais foi a mesma.

Quero dizer, vamos, nosso casamento já andava ruim, então ela ficou doente e...tudo desandou. Eu me sinto sozinha, preciso de alguém do meu lado, mas quando você passa por algo ruim, fica difícil se apegar a alguém sem pensar no pior.

─ Tudo certo aí atrás? ─ pergunto, observando Ade pelo retrovisor.

─ Sim, mamãe. ─ murmurou animadinha, movendo seus pezinhos para frente e para trás.

Ligo o carro e dirijo o mais rápido que posso até a clínica. O trânsito estava calmo, o que evitava mais um estresse para o meu dia.

Me apresento na recepção e agora estou aguardando chamarem Adelaide.

─ Adelaide Baird O'Conell. ─ a assistente chama e, como já sei qual a sala da Cadence, caminho até a mesma.

Dou leves batidinhas na porta e observo Ade adentrar a sala ansiosa.

─ Olha só, se não é minha paciente favorita? ─ Cadence falou, enquanto tirava a concentração de seu computador para a pequena que corria em sua direção de braços abertos. ─ Que saudades de você pequena. ─ se ajoelhou de frente a mesma. Observei tudo meio tímida, já que foi minha culpa a Ade ter ficado com tantas saudades da Cadence.

─ Por favor Billie, pode se sentar. ─ falou, depois de sair do abraço.

Sento-me na cadeira à sua frente com cuidado e espero que a mesma diga alguma coisa.

─ Como foi a semana com ela? ─ perguntou, olhando em meus olhos, como se estivesse a procura de algum sinal em particular.

─ Ah, foi uma boa semana. ─ respondo brevemente, e ela apenas me olha, insinhando para que eu continuasse. ─ Tentei passar um tempo a mais com ela, a levei para a escola...

Ela apenas assente enquanto anota em sua ficha.

─ E você Ade, o que achou da sua semana? ─ perguntou.

A pequena desvia o olhar do quebra-cabeça para nós.

─ Foi legal, a mamãe ficou 2 dias comigo. ─ voltou a montar as pecinhas.

─ Que legal! ─ voltou a olhar para mim. ─ Não minto que fiquei preocupada com seu sumiço, pensei ter acontecido alguma coisa.

─ Foi irresponsabilidade minha, sei disso. ─ admiti cansada.

─ Sim, foi. ─ ficamos em silêncio. ─ Como foi a morte de sua esposa? ─ perguntou.

─ Oi? ─ automaticamente me assusto com sua pergunta. Como ela...por que ela...

─ Não quero detalhes, apenas quero entender como você se sentiu com o ocorrido. ─ olhou nos meus olhos.

Após um tempo lutando contra mim mesma, suspiro, e seguro o braço da poltrona com um pouco de força, ainda olhando em seus olhos.

─ Foi difícil. ─ ela me incentiva a continuar, sem fazer anotações. ─ Me ausentei por um mês do meu trabalho e...não saí de casa...até Ade começar a escola. ─ suspiro. ─ Mas o Finneas me ajudou. Ele me ajudou com Adelaide e com...isso. 

─ Qual foi sua reação? Digo, a partir daquele momento você seria uma mãe solteira, não teria mais sua companheira para ajuda-la, nem mesmo para aconselha-la de algo... ─ pôs suas mãos na mesa.

Olho hesitante para suas mãos por um tempo. Eu deveria segura-las? Olho para ela que apenas sorri para mim. Olho para suas mãos novamente e então decido ceder ao seu pedido.

─ Eu fiquei com medo...porque eu estava sozinha. 

─ Mas e o Finneas? Ele não ajudou você? ─ aperto sua mão.

─ Sim, mas ele não é...ela. Ele não é a mãe da minha filha, e mesmo que ele me-me ajudasse, mas ele não era ela. ─ sinto meu olhos arderem. ─ Mesmo que, mesmo que ela estivesse aqui e-eu não ficava o tempo todo com elas, mas sempre tirava o fim de semana para sair com elas e se-sempre que chegava tarde do trabalho, eu i-ia no quartinho a Adelaide, só pra dar bo-boa noite para ela...mas eu não sabia de nada! Não sabia o que ela podia comer, como dar banho...eu estava sozinha.

─ Então...desde que ela faleceu, você não saiu mais com Ade? ─ segurou minhas mãos fortemente.

─ Eu me ausentei de tudo. Me ausentei da minha vida e da vida da minha família e filha. Eu não saia do quarto porque...porque eu não suportava a dor de olhar para ela, uma bebezinha de 2 anos, sem lembrar da mãe dela. ─ pauso para respirar. ─ Me diga, Cadence, o que eu ia dizer quando ela chorasse sentindo falta da mãe? Como eu ia explicar para aquele serzinho tão inocente que sua mãe não ia mais voltar para casa? ─ aperto sua mão com mais força.

─ Billie, posso te contar algo? ─ baixo minha cabeça para que ela não veja meu estado, mas permito que ela fale. ─ Eu perdi meu pai com 1 ano de idade, e ele também morreu de câncer. Não me pergunte como ele era, eu realmente não me lembro. Mas...minha mãe conheceu meu padrasto quando eu tinha 3 anos e desde então, ele é o meu pai. ─ levanto minha cabeça para olhar em seus olhos. ─ Sim, é difícil para mim ter que aceitar que ele teve que partir tão cedo. Eu nunca vou ter a oportunidade de conversar com ele, de desabafar sobre minhas vitórias e derrotas...mas eu não sinto falta, sabe por quê? Porque não tem como eu sentir falta de algo que eu nunca tive. Me dói pensar que não sei quem é meu pai de sangue, mas eu não sinto falta.

Ela alisa minha mão por um tempo. Não consigo imaginar que isso tenha acontecido com ela, pois ela é tão...

─ O que quero dizer, é que esse espaço vazio que existe dentro da Ade...ele vai ser curado, mesmo que você ache uma outra parceira ou não. Sim, ela vai ficar pensativa quando começar a entender o assunto, ela vai ter muitas dúvidas, mas ela não vai sofrer...não tanto. ─ Apertou minha mão. ─ Ela te ama muito, o maior medo dela é te perder assim como ela perdeu sua outra mãe, por isso que só você pode ajuda-la. E quero que saiba que como terapeuta da Ade, e sua..."conselheira", eu vou estar aqui para te apoiar. Sim, eu não sou ela, mas você não está sozinha. ─ sorrimos uma para a outra.

─ Obrigada. ─ sussurro.

Olho para nossas mãos ainda juntas. Seu aperto é tão...reconfortante. Poderia ficar horas segurando sua mão, sem se importar com o tempo.

─ Nossa consulta já está acabando, então... ─ soltou minhas mãos. ─ Essa é nossa deixa, até nosso próximo encontro...

─ Claro... ─ seco meu rosto. ─ Eu...nós não vamos faltar.

Ela apenas sorri enquanto observa Ade brincar distraída.

─ Até próxima semana Ade! ─ lhe deu um abraço que foi retribuído rapidamente. 


autora: ...oi pessoal


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⏰ Última atualização: Jun 10 ⏰

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A psicóloga da minha filha | Billie EilishOnde histórias criam vida. Descubra agora